Capítulo 18 - Flávio

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- Ela ficou louca! - Eu dizia indignado para o Marcos. - Quer que eu a acompanhe a qualquer custo. Eu não sei se eu devo aceitar essa oferta que ela me fez...

A proposta da Raquel me deixou mais sem resposta do que antes. Eu estava deitado na minha cama tentando relaxar e esfriar mais esse novo problema, desabafando com o Marcos que permanecia sentado na cama dele me dando seu ponto de vista.

- Mas Flavião, você mesmo disse que sempre quis isso aí. Se ela mesma se propôs a te dar como presente em troca da sua companhia, o que é que tem de errado?

Aquilo não era nada certo... Eu já estava ciente de que não poderia acompanhar a Raquel no show. Se a Sara nos encontrasse lá, a confusão seria certa, mesmo que nós já tenhamos terminado o namoro. Eu conheço a Sara, sei do que ela é capaz... Uma prova disso é a bebida que ela jogou na cabeça daquela garota no bar. E depois, a que jogou em mim... Eu tinha que proteger a Raquel de levar um possível banho de bebida também, e a mim de levar coisa pior... Mas como eu faria isso se a Raquel estava tão decidida a ir comigo a ponto de me oferecer o boneco do Comissário Quan em troca? Além do mais, ela valoriza esse boneco tanto quanto eu. Não é justo ela perdê-lo por causa disso.

- Pensa bem! - O Marcos continuou. - Quais as chances de você conseguir esse boneco? Você não disse que ele nem é mais vendido, ou algo assim?

- Não é mesmo. - Respondi - É edição limitada. Não fizeram muitos, e os que estão sendo vendidos hoje, são usados e com o preço lá nas alturas. Ele vale muito, não posso tirá-lo dela assim!

- E quem disse que você está tirando? Foi ela que ofereceu. Pô, Flavião, às vezes eu tenho que concordar com o Luiz, tem horas que não dá para te entender.

- A questão nem é o boneco, Marcos. Eu já falei, a Sara vai estar lá no mesmo setor que a gente, vai me ver, e vai ter confusão no meio do show. Além de estragar a alegria da Raquel, eu posso estragar a chance de algum dia me envolver com ela.

O Marcos parecia querer bater a cabeça na parede, mas mantinha-se calmo. Ainda bem que o Luiz não estava em casa, se não essa conversa já teria virado um daqueles programas de discussão de família.

- Ainda não entendi por que você não diz a verdade a essa menina. Você acabou de terminar o namoro porque percebeu que estava infeliz e gostava de outra pessoa. Qual é o problema em contar isso a ela? Você acha que as pessoas nunca tiveram outros relacionamentos antes dos atuais?

Essa questão ainda era complicada para mim. Eu já havia pensado nisso. Eu até queria contar para a Raquel, mas tudo sempre correu tão bem... Eu não queria dar chance para o azar e acabar com o que eu nem comecei.

- Eu nunca contei para ela que estava namorando porque queria evitar falar da Sara nos meus momentos de paz. - Eu disse. - Se eu contar a essa altura do campeonato, ela pode pensar o que várias pessoas pensariam se soubessem dessa história. Que eu só estou enrolando ela, que eu traí a Sara, ou que eu a usei para esquecer o meu namoro fracassado, eu não sei. Não dá para adivinhar o pensamento das pessoas.

- E porque ela pensaria alguma dessas coisas se ela nem sequer sabe que você gosta dela, cabeção?

É, fazia sentido. Se ela ainda não sabia do meu sentimento, não tinha como julgar isso como possível traição. Mas e se ela também gostasse de mim e se sentisse usada como escape para as minhas frustrações? Argumentei isso com o Marcos, que respondeu:

- Você é lerdo, mas para inventar paranóias, pensa como ninguém, né? Se o Luiz escuta isso...

Poxa, ele sempre foi o único compreensivo comigo. Por que não entendia o meu lado dessa vez?

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