Conceitos deturpados

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Assentada sobre o assoalho de seu dormitório, Malu remoía sua perda, algum tempo já havia se passado desde o dia que tornou-se totalmente sozinha, o tempo pode ter passado desde então, mas a dor que sentia não.

O mundo parecia frio.

Os sentimentos medo e impotência contorciam-se dentro da garota, fazendo suas entranhas doerem, consumindo seu âmago como a escuridão que tomava a noite.

Os sonhos além das muralhas já não lhe pareciam mais tão atraentes.

O que eu estou buscando mesmo?

A busca dolorosa por um significado a fazia questionar o real valor do sacrifício de Lucas.

Encolheu-se ali e abraçou os joelhos.

Qual o preço de ser livre?

Qual o preço para continuar vivendo?

Um deve ser sacrificado para que o outro prevaleça afinal?

Sendo assim, o preço justificável da liberdade seria a morte não é?

E o preço de viver seria estar a espreita do inferno.

Liberdade e vida não podem apenas coexistir?

Nunca poderemos viver como bem entendemos?

E tem gente que ainda chama essa merda de paraíso. O que há de bom em sermos escravos dessas coisas?

Droga...

(...)

A lua prateada banhava a noite com sua luz tênue.

Alguns dormiam.

Outros lidavam com a insônia.

E esse foi o caso da grande maioria dos cadetes da tropa naquela noite, principalmente após serem designados para a próxima missão.

—Reconhecimento e pesquisa né...Me parece legal.–  Nana tamborilava com os dedos sobre o tampo da mesa disposta no quarto iluminado por uma única bruxuleante vela.

—Soubemos do seu escândalo na última vez, francamente espero não ter de ir em missão com você por muito tempo.– Comentou uma das cadetes ironicamente.

Nana cruzou os braços inconformada, reconhecia o erro que havera cometido e prometera a si mesma que tentaria compensar suas ações, mas os olhares que a fustigavam e os boatos que vez ou outra ouvia a faziam ter plena ciência de que não era alguém com quem se quisesse estar. Estava disposta a mudar, queria fazer-se útil ao menos uma vez.

—Já vai fazer meses que isso aconteceu, você insiste em ainda me encher com essa história Nay? O que passou é passado caramba, as coisas vão ser melhores agora.

Luiza que ouvia à tudo recostada no batente da porta do cômodo, observando a conversa tossiu seco, chamando os olhares para si. —Tenta explicar isso pra outra garota que estava com vocês.

Nana desconcertada coçou a nuca, o tempo poderia até ter passado, mas ainda não conseguia encarar Malu sem o sentimento de culpa. —Será que ela vai me perdoar?

—Cara...eu não perdoaria, você ao menos tem noção do que aconteceu?– Replicou Nay.

—Claro que eu tenho ué.

—Então você sabe que se tivesse simplesmente seguido a formação, sequer estaríamos tendo ese tipo de conversa agora.– Comentou Luiza brevemente, a mesma não demonstrava raiva ou rancor, afinal não cabia a ela tomar as dores dos outros, a jovem mantinha-se firme a seus ideais totalmente alheia a algo além da razão. —Você teve sorte.

Asas da Liberdade (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora