13. Um corpo quer outro corpo

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A campainha tocou e Heidi pulou do sofá para atender antes que tocasse outra vez e o barulho acordasse sua mãe. O movimento brusco fez Cenourinha despertar de sua soneca e se espreguiçar em cima da mesa de centro. Heidi suspirou, lamentando internamente que tenha perturbado a paz de seu bichinho. Quando abriu a porta, todo e qualquer descontentamento que tenha sentido evaporou com a presença de Carolina.

— Oi — ela sorriu do outro lado da porta, o rosto vermelho e o cabelo preso em um rabo de cavalo eram um claro sinal de que ela tinha se exercitado.

— Você veio direto da educação física, não foi?

Heidi agora sabia que toda quinta-feira as últimas duas aulas de Carolina eram justamente a disciplina que menos gostava, depois de matemática e física. Ela fez uma careta quando Carol assentiu com a cabeça e deu um passo para dentro do apartamento, aproximando-se o suficiente para conseguir sentir o calor que emanava sob o material da roupa de ginástica que ainda usava.

— Eu não tomei banho porque eu fiquei com saudades e quis ver você logo — ela se explicou, fechando a porta atrás de si, uma expressão de dor em seu rosto rubro e suado. — Faz dois dias, Heidi.

Heidi então se deu conta de que a careta que fez em reação à disciplina havia sido mal interpretada por ela. Um equívoco que logo tratou de corrigir.

— É por isso que não ganhei um beijo então? — ela fez um biquinho, notando os olhos de Carolina se expandirem com expectativa quando se aproximou para livrá-la do peso da bolsa em seus ombros.

— Você quer? — Heidi assentiu com veemência, erguendo a cabeça em antecipação.

Carolina a segurou pelo pescoço antes de pressionar os lábios quentes contra os dela, sorrindo com a doçura e a delicadeza dos selinhos até Heidi decidir envolvê-la pela cintura com os dois braços e ser compelida a abrir a boca para se beijarem com ardor. O coração de Heidi acelerou quando sentiu a língua de Carol tocar a sua devagar, em movimentos lânguidos e apreciativos. Toda vez que se beijavam era como se aprendesse algo inédito, novas sensações, como se o beijo não pudesse ficar melhor, mas a prática só servia para fazê-la mudar de ideia.

— Ok. Eu preciso tomar banho — Carol anunciou, afastando-se de repente. A respiração pesada e cortante provocou arrepios por todo o corpo de Heidi. — Posso usar o seu banheiro?

Heidi fez que sim com a cabeça, ainda distraída com os lábios que havia acabado de beijar, lábios estes que a deixavam desnorteada. Quase como alguém sem rumo com a sensação de tocá-la da forma mais simples e inocente possível. O delírio momentâneo só foi interrompido quando Carol se afastou com um sobressalto. A atenção das duas foi direto para Cenourinha com as patas esticadas na calça do uniforme de Carolina, espreguiçando-se antes de tentar escalá-la para receber a mesma atenção.

— Ai! Você tá me arranhando — ela se abaixou para tirá-lo de sua perna, pegando-o no colo logo em seguida com as duas mãos. — O que você quer? Eu não posso te dar carinho agora.

Carolina franziu o cenho quando Cenourinha começou a miar, ainda desacostumada a interagir com felinos. Heidi a observou por alguns instantes, uma lembrança recente de Conrado dizendo que a irmã era amargurada fez suas entranhas contraírem com certa melancolia. Reaproximando-se de Carol, Heidi repousou a cabeça no ombro dela e murmurou:

— Ele gosta muito de você — Carolina deixou que o gato brincasse com as mechas soltas de seu rabo de cavalo, distraída com Heidi tão perto dela. —, e eu também.

— É o que eu chamo de bom gosto — ela repetiu e Heidi riu de sua sagacidade, sentindo-se confortável em sua própria pele pela primeira vez e ainda mais ansiosa para poder dizer as palavras que faziam seu estômago flutuar.

Minha Sina CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora