18. Quando ela fala

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Ainda eram quatro horas da manhã quando Heidi chegou em casa, aliviada porque dormiria em seu quarto, na sua cama, mas também angustiada por conta da lembrança vívida de uma hora atrás. Sem condições de permanecer no que restou da festa, chamou um carro de aplicativo e voltou para casa com Carol.

Nas pontas dos pés, Heidi caminhou até o quarto de sua mãe, onde a televisão estava ligada em algum canal de documentários, confirmando por precaução que ela dormia profundamente sob um amontoado de cobertores. Ela fechou a porta e voltou para o quarto, onde Carol a esperava com peças de roupa a menos e o gato alaranjado nos braços.

— Ele veio correndo atrás de você, esse traidor — Heidi resmungou, encostando a porta para quando Cenourinha cansasse da atenção e quisesse sair.

— É porque ele sabe que eu dei uma surra no Conrado — ela explicou enquanto acariciava atrás da orelha dele. — Não é, Mr. Carrot? Eu sei que você odeia ele. Fiz por nós dois. Pela nossa menina Heidi. Você não acha que eu mereço um milhão de beijos calientes por ser um anjo corajoso?

De costas para os dois, Heidi riu enquanto procurava uma toalha de rosto para limpar as escoriações na face de seu anjo protetor. Ela umedeceu a toalha no banheiro e logo voltou para perto dos dois. Cenourinha cheirou Carol e então passou a se lamber, ainda no colo dela, os olhinhos felinos semiabertos.

— Vem aqui, dona She-Ra.

Carol fez uma careta com o nome, mas pareceu pensar melhor, concordando

por fim. Ela deixou o gato na cama e se sentou na beirada, pés fixos no chão e olhos abertos e atentos em Heidi.

— Hora de colocar em prática o que papai e mamãe me ensinaram.

Carol sorriu, contente, assentindo devagar sem ao menos piscar. Com cuidado e atenção, Heidi passou a toalha umedecida no rosto de Carol e sentiu o coração apertar quando ela se retraiu com o contato do material na pele arranhada.

— Você é muito mais bonita de perto, sabia?

Heidi se afastou um pouco, encarando-a com o nervosismo de quem estava sendo elogiada pela primeira vez pela menina que gostava.

— Você acha? — piscou devagar, prolongando o momento de propósito, o coração num compasso sereno quando Carol confirmou com um balançar suave de cabeça.

— Acho muito.

Heidi suspirou com agrado pelo elogio genuíno, feliz e em paz por um minuto. Ela continuou com os cuidados, notando a energia de Carol abaixar gradualmente.

— Ai, arde um pouco — Carol murmurou depois de um instante, os olhos baixos enquanto Heidi limpava o rosto bonito e angelical com a parte mais molhada do pano.

— Já se arrependeu de ter bancado a valente? — ela tentou rir, mas o som pareceu forçado e desajeitado.

— Não — Carol ergueu a cabeça para encará-la, a expressão sóbria, limpa. Heidi pausou os movimentos no ar, esperando. — Eu me arrependo de não ter feito antes, mas não quis te chatear. Foram muitas as vezes que ele mereceu uma surra.

Surpresa, ela franziu o cenho ao repetir:

— Você não quis me chatear?

Carol balançou a cabeça sem desviar os olhos em momento algum, o que fez o peito de Heidi se contrair com amor e uma vontade esmagadora.

— Ele era seu amigo também. Depois foi seu namorado. O que você ia pensar de mim?

— Não sei — Heidi respondeu com sinceridade, tocando o pescoço de Carol devagar. — Acho que eu ia te confrontar e talvez você acabasse me dizendo que gostava de mim, e eu cairia nos seus braços, você nos meus. Teria poupado a gente de muita coisa.

Minha Sina CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora