16. A coisa mais linda que existe

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Heidi acordou na manhã do dia doze de junho com o celular cheio de mensagens. Como de costume, Melissa foi a primeira a desejá-la feliz aniversário, à meia-noite em ponto, com um texto enorme e milhares de emojis que a deixaram um pouco zonza e muito emocionada. Às seis e meia, Carol havia mandado mensagens com felicitações como se elas não tivessem ficado até às duas da manhã em chamada de vídeo.

Em uma delas, lia-se: adicionei uma música do Seu Jorge na sua biblioteca, dá uma olhada. Sei que gosta dele.

Ela estava prestes a responder que só gostava de uma música de Seu Jorge, mas desistiu no mesmo segundo quando se lembrou do nome da música. Carolina. Obviamente, havia um motivo específico para Heidi gostar tanto daquela música e se perguntou como Carol sabia.

O momento de vergonha passou quando abriu o aplicativo com o símbolo de música em seu celular e ouviu Seu Olhar repetidas vezes, o coração quente e cheio de ternura. Ouviu tantas vezes que cantarolou baixinho enquanto tomava café com a mãe e a irmã.

Fiel às tradições, Vasti havia acordado cedo para preparar o bolo de limão que Heidi adorava desde criança, mas a maior surpresa ficou reservada para o momento em que a entregou o que parecia ser um livro embrulhado cuidadosamente com papel presente. Heidi mordeu o lábio e hesitou por um instante, receosa em abri-lo e estragar todo o trabalho da irmã, mas Vasti revirou os olhos e a apressou.

— É só um embrulho, Heidi — ela disse, impaciente, com Cenourinha em seu colo. — Abre logo.

Zilda voltou do quarto com o que parecia ser uma caixa comprida toda embalada e se sentou ao lado de Heidi, afofando o tapete felpudo delicadamente. Ela nem se importou quando Cenourinha esticou a pata para brincar com a fita vermelha que adornava a caixa.

Com o coração entristecido, Heidi rasgou o embrulho e logo se deparou com um livro cujo título não entendeu a princípio. Era em inglês, mas tudo bem porque Heidi entendia a língua estrangeira perfeitamente.

— Lies We Tell Ourselves — Zilda leu em voz alta, semicerrando os olhos com um misto de interesse e desconfiança. — Que livro é esse?

— É um livro que eu sei que a Heidi vai gostar — Vasti respondeu, tentando fingir casualidade enquanto acariciava o pescoço do filhote em seu colo. — É sobre duas meninas em lados opostos na luta por direitos civis. Uma é branca e a outra é negra. Eu não li, mas sei que elas se apaixonam porque o livro é sobre isso também. Do jeito que você gosta.

Heidi tentou disfarçar a surpresa e o choque, mas falhou. Ela abriu a boca algumas vezes, as palavras perdidas em algum lugar escondido de seu cérebro.

— Obrigada, Vasti — conseguiu dizer por fim, os olhos salpicados estavam fixos na capa bonita e misteriosa do livro. — Eu adorei.

O desconforto de sua mãe com a escolha de presente era palpável e não passou despercebido por Heidi. Se Vasti também notou, fingiu que não e seguiu como se não devesse nada a ninguém. Não era de seu caráter se desculpar, mas Heidi esperava que ela, ao menos, dissesse algo que tirasse o peso de tudo o que foi feito e dito.

Em vez disso, comprimiu os lábios e ponderou por um instante. A surpresa veio um segundo depois em forma de abraço. Ela não disse, mas Heidi ouviu no silêncio. Mais do que ouvir, sentiu parte da mágoa que pesava em seu peito começar a dissipar como gelo na água.

— Abre o da mamãe agora — Zilda a incentivou, o temperamento tão gentil e atencioso que fez o coração de Heidi pular de emoção.

Sendo ela uma mulher de natureza complexa, não era de se esperar que escancarasse suas afeições de forma tão despretensiosa. Zilda se esforçava apenas em favor das filhas, o que, em partes, acabou custando seu casamento.

Minha Sina CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora