17. A batalha

1.2K 147 54
                                    

No sábado, Heidi se viu, de certa forma, compelida a ir à festa junina de alguém que ela não sabia quem era. Todo ano algum amigo de Vasti fazia uma festa junina que estivesse fora da jurisdição do colégio, como também da Paróquia Nossa Senhora da Abadia. A intenção era sempre poder burlar as regras sagradas que repreendiam bebidas alcoólicas e comportamentos considerados libidinosos.

Depois de passar um dia inteiro com Carol, Heidi aceitou encontrá-la na festa sem oferecer muita resistência. Ela ficou reflexiva quando chegou ao local com Melissa e se deu conta de que a festa era no sítio de Benjamin em Atibaia. Como esperado, ninguém estava vestido cem por cento a caráter. O xadrez, no entanto, era peça obrigatória.

Heidi se despediu do pai e tentou escapar o mais depressa possível, mas ele buzinou e a chamou de volta. Ela se virou e esperou pelas instruções.

— Vou pular a parte de drogas e bebidas, porque já falamos muito sobre isso. Eu sei que você nem queria vir, mas tenta se divertir, ok? — Heidi assentiu com um meio sorriso e o pai continuou: — Se for fazer sexo com uma menina, lave bem as mãos. Do jeito que o papai e a mamãe te ensinaram quando você era pequena.

Heidi arregalou os olhos, envergonhada e incrédula com a abordagem de uma conversa que ela não queria ter. Do lado dela, Melissa tentou conter um risinho cheio de humor, mas foi incapaz de se segurar. Ele fez um gesto com as mãos, demonstrando como se deve higienizar as mãos.

— Ok, tchau.

Ela deu as costas e saiu andando antes que ele pudesse dizer algo que a constrangesse ainda mais.

— Papai te ama — ele gritou de dentro do carro e ela só teve tempo de acenar por cima do ombro até ouvir o barulho do motor quando deu partida para ir embora.

— Seu pai é incrível — Melissa suspirou, agarrando o braço de Heidi conforme atravessavam a propriedade.

Heidi bufou, mas por dentro sabia da sorte que tinha. Elas cumprimentaram o homem que cuidava do portão imaginando se tratar do caseiro que tomava conta do sítio, a música que tocava era Hotline Bling. A primeira coisa que viu quando entrou com Melissa foi a cruz azul suspensa no alto do que parecia ser uma capela. A cruz brilhava e era possível vê-la do outro lado da cidade.

Heidi ficou surpresa com o lago artificial mais a frente, perto da casa principal, e o campo de futebol do outro lado, separado e distante de onde estavam. De longe, conseguiu enxergar Carol conversando com Vasti e Marcela ao redor da fogueira. A irmã tinha ido mais cedo com as amigas e o namorado.

— Heidi, vamos fazer um pacto de nunca perdermos a virgindade num lugar como esse? — Melissa apertou o braço da amiga, um riso de deboche misturado com certa seriedade a escapou. — Não que seja uma festa xexelenta, porque a família do Ben é mais rica que a família da Marcela, mas seria degradante do mesmo jeito.

Heidi foi logo consumida por uma sensação de culpa pela omissão daquele enorme detalhe de sua vida. Elas caminhavam em direção ao grupo de conhecidos perto da fogueira quando freou os passos bruscamente, alicerçando a amiga antes que se desequilibrasse.

— Que foi?

Ela olhou para onde Carol estava, tão perto e tão longe, sentindo o monstrinho de pernas curtas e dentes afiados, chamado Ciúmes, corroer pelas beiradas quando viu que agora ela só conversava com Benjamin. Heidi fechou os olhos e afastou o sentimento para o fundo de sua mente, voltando-se então para sua melhor amiga.

Ela decidiu tão rápido que o instante de se arrepender passou pelos seus olhos e Heidi o deixou ir.

— Eu quero contar uma coisa, mas você precisa me prometer que não vai fazer perguntas — Melissa franziu o cenho, confusa, mas foi impedida de expressar incerteza quando Heidi emendou: — Porque eu ainda não posso compartilhar detalhes, mas eu vou. Juro.

Minha Sina CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora