𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋, 𝘭𝘶𝘬𝘦 𝘩𝘦𝘮𝘮𝘪𝘯𝘨𝘴

Capítulo 30

Angeline Smiths, Los Angeles, 4 de Agosto de 2019

Se eu e você estamos morando no mesmo lugar por que nos sentimos sozinhos? Uma casa cheia de tudo que queríamos mas é um lar vazio, lar vazio
Por que não podemos escolher nossa emoção?
Porque podemos sentir que algo está errado
E eu não posso ficar aqui sem esperança
Nós nunca estaremos sozinhos, nunca estaremos sozinhos, oh

E todas as coisas com que sonhamos
Elas não significam o mesmo de antes
Eu só quero voltar para nós
Porque nós costumávamos ter mais
Por que parece que estamos perdendo algo?
Como se eu estivesse atrás da porta
Eu só quero voltar para nós
Porque nós costumávamos ter mais

Reviro meus olhos e deixo a tevê no mudo, cansei de assistir essa apresentação. Estava me dando nos nervos.

As coisas estavam estranhas desde o aniversário dele, admito que eu cooperei um pouco para que tudo ficasse assim mas era como se ele nem ligasse por eu estar chateada. Dois dias depois de brigarmos ele saiu de viagem com os garotos, ele me ligou algumas vezes e nem reclamou quando disse que não iria vê-lo nos fins de semana — não achei que estávamos no clima pra isso e não queria deixar as coisas tensas na frente dos meninos. Já estava tenso o suficiente entre nós dois.

A verdade é que cansei de ficar chateada por conta disso e simplesmente passei a ignorar. Toda vez que sentia que estava prestes a ficar triste eu parava, tinha esse autocontrole desde de criança. Ninguém ia me fazer ficar me lamentando pelos cantos.

Isso no caso era o que eu pensava na primeira semana que ele saiu de viagem. Agora, após ligações curtas e dois dias sem falar com ele eu já sentia um pouco de pena de mim mesma. Minhas mãos seguravam o celular o dia todo e a ideia estúpida de ligar e pedir desculpas não saía da minha cabeça, mas desculpas pelo quê? Eu tinha razão, era ele quem devia fazer algo para se redimir.

O que no caso ele não fez. Eu estava chateada então não dava muita ideia pra ele, queria que ele fizesse alguma coisa, lutasse por mim. Mas ele respondia meu afastamento se afastando mais ainda. Luke estava agindo como se a culpada disso tudo fosse eu, como se eu fosse um monstro rancoroso que não conseguia perdoar o próprio namorado. A verdade é que eu conseguiria facilmente perdoar ele, na verdade já havia perdoado, o motivo de eu estar chateada agora é por ele nem ter se esforçado para fazer eu me sentir melhor.

Agora eu estava emburrada, trancada dentro de casa com uma gata e uma cachorra que destruíam tudo pensando o que fazer quando meu namorado voltasse pra casa hoje à noite.

Mas de uma coisa eu sabia: eu não iria pedir desculpas.

Finalmente sou obrigada a parar de pensar quando o interfone toca. Fico desesperada por um segundo pensando que já seria Luke mas então lembro que ele tem uma chave — mas talvez tenha esquecido — esse pensamento me aterroriza por pouco tempo pois é Nicole quem queria subir.

— Oi. — ela diz sorrindo sem mostrar os dentes quando passa pela porta de meu apartamento. — Como estão as coisas?

Faço careta, Nicole havia me ouvido reclamar a semana toda e mesmo eu prometendo a mim mesma que não ia continuar enchendo seu cabeça com meus problemas eu não consegui evitar, mas ela não reclamava, ouvia tudo com paciência e tentava me aconselhar. Com o passar dos dias seus conselhos ficaram melhores.

— Na mesma. — murmuro e me jogo no sofá.

Os olhos dela correm pela sala vendo a caixa de pizza comida pela metade, meus papéis da faculdade espalhados pelo tapete e cinco latinhas de coca-cola. Nic empurra meus pés pro lado e se senta, usando o controle para desligar a televisão em seguida.