Capítulo 12

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Ponto de vista - Yedam

Respirei fundo várias vezes àquela manhã, e mesmo assim, continuava com dificuldades em organizar meus pensamentos, eu mal sabia por onde começar.

Mais uma vez. Aconteceu mais uma vez e eu estava frustrado.

- Yedam... - Yura apareceu logo depois da minha conversa com Yeji. - Eu... Eu sinto muito. Eu não queria te machucar.

- Devia ter pensado nisso antes. - Falei e me retirei, bufando e pisando forte no chão.

- Yedam, por favor... - Ela disse segurando meu braço me fazendo parar e a encarar nos olhos.

- Porque você está pedindo desculpas a mim e não a sua amiga? - Retruquei indignado, seus olhos se arregalaram. - Você... Você não tem vergonha, não? - Yura abaixou o olhar e soltou meu braço, eu ainda tinha aula e achei melhor ir pra sala.

Pedi desculpas ao professor pela demora e me sentei, Yeji e Yura não assistiram as aulas.

Fiquei na biblioteca durante o intervalo, queria ficar sozinho e acabei folheando alguns livros aleatoriamente pra me distrair, mas sem a intenção de levar pra casa. Não queria conversar com os caras ainda e eles entenderam já que não me procuraram.

As aulas terminaram rapidamente e eu pude ir pra casa, meus pais estavam trabalhando e eu fiquei aliviado de estar sozinho mais uma vez. Fui até meu quarto e deitei tampando o rosto com o braço, respirei fundo e tentei entender como isso tinha acontecido outra vez.

Quando eu era pequeno não falavam comigo e eu era lembrado apenas na hora de fazer trabalhos em grupo ou em dupla, mas esqueciam de mim logo depois. Nunca fui chamado pros aniversários dos meus colegas de classe, no intervalo eu ficava sozinho. Naquela época, os caras eram de outra escola e só nos víamos aos finais de semana pra brincar todos juntos.

Eu senti como se tudo tivesse acontecido de novo, como naquela época.

Bufei.

Tirei o braço do rosto e passei a encarar o teto do meu quarto, olhei ao redor também e vi algumas fotos minha com os meninos, eles sempre acompanharam o meu drama e sempre me motivaram a continuar firme. Nos conhecemos no jardim da infância e nos tornamos amigos na mesma hora, os professores nos chamavam de "os quatro mosqueteiros". Foi uma boa época. Só que tudo começou a mudar quando os professores notaram que eu estava mais avançado que os demais.


"Ele não devia estar nessa classe."

"Ele está mais avançado que os outros alunos."

"Vamos falar com os pais e recomendar uma escola mais avançada pra ele, que vai ajudá-lo a crescer mais rápido."


Meus pais contam essa história desde que eu me entendo por gente, eles sempre dizem com muito orgulho o que ouviram dos professores quando eu era pequeno. Não demorou muito pra que eu tivesse sido transferido, e não muito tempo depois comecei a ganhar destaque nos concursos que a própria escola organizava.

Meu nome ficou famoso no site da escola e nas reportagens locais.

Quando olho pra trás hoje, eu queria nunca ter mudado de escola. Eu vejo minhas fotos e sinto que não aproveitei a minha infância como deveria, eu estudava enquanto eles brincavam, enquanto eles viviam corretamente a idade que tinham. Minhas fotos são todas segurando uma medalha ou um troféu, ao lado de um projeto, e as fotos deles são na praia, sujos de lama, correndo...

Eu sinto que perdi minha infância.

No primeiro ano do ensino médio, eu fui pra uma turma com adolescentes tão bons quanto eu e eu acreditava que seria diferente, afinal não tinha porque se aproximarem de mim apenas pra fazer dupla. Só que mais uma vez, eles queriam ser meus amigos porque eu era o "gênio Yedam", o menino que conseguiu vários prêmios, que apareceu na televisão, eles queriam ser meus amigos pra ter popularidade e "status", eram gentis comigo pra que eu os escolhesse na hora dos trabalhos e que pudessem se exibir depois.

I Like Me BetterOnde histórias criam vida. Descubra agora