Capítulo 8

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Eu estava trancado em meu escritório quando Jonny entrou

- Precisa de mais alguma coisa, Milorde? Ou já posso me recolher?

- Sente-se aqui, Jonny - Falei apontando para a cadeira frente a minha mesa

Ele me encarou com certa desconfiança, mas se sentou. Eu me servi com um copo de Whisky e dei outro a ele, depois acendi um charuto para mim e outro para ele.
Ele não era acostumado com essas coisas, depois de um gole na bebida e uma tragada no charuto começou a tossir como um maluco

- Eu não sei o que fazer - Confessei

- Como assim senhor?

Jonny estava comigo desde que eu nasci, depois que meu pai nos abandonou quando eu ainda era uma criança encontrei nele uma figura paterna

- Com Maite, ela é tão... Diferente. Não sei lidar com ela

- Percebi, ela é uma mulher muito intensa

- O que eu faço?

Jonny me olhou com uma cara de tipo "Se você não sabe eu que vou saber?", realmente ele não entendia muito de mulheres, apesar de nunca ter me dito abertamente eu sabia que ele gostava de rapazes. Por vezes fiquei chateado por ele nunca chegar e me contar logo a verdade, mas depois eu o compreendi, vivemos no século VIII,  as pessoas jamais o aceitariam, e isso me dói. Ele é uma pessoa maravilhosa, que vive triste por não poder ser quem ele realmente é

- Infelizmente não posso te ajudar Senhor William, mas com o tempo acredito que irá se acostumar

- Bom, tomara

- Sua mãe sim saberia como lhe aconselhar

Eu sorri ao pensar nela, realmente ela sempre tinha ótimos conselhos. Vi no olhar de Jonny a tristeza, ele e minha mãe eram muito próximos, ela o tinha como um irmão

- Sente falta dela, né?

- Muito, sua mãe era encantadora, minha melhor amiga

- Sei que ela tinha um sentimento muito grande por você também

- Mais é a vida, uma hora estamos aqui, e depois tudo se acaba muitas vezes sem que menos esperamos

- Pois é...

Na manhã seguinte quando levantei minha cabeça doía um pouco, eu havia exagerado no Whisky, mas eu precisava beber para esquecer um pouco dos problemas, o problema no caso tem nome e sobrenome: Maite Perroni.
E por falar na bendita estava sentada na sala lendo um livro

- Como vai, querida esposa?

- Estava muito bem até você chegar - Disse revirando os olhos

- Nada como ser recebido com o amor da minha mulher logo cedo

- Da pra parar de me referir como sua?

- Por que se é isso que você é? Na lei consta como minha propriedade

Ela me encarou furiosa, a irritar se tornou um dos meus passatempos preferidos

- Você não tem mais nada para fazer além de ficar me importunando?

- Não

- Já não queria me casar, imagina com um vagabundo então...

- Olha só quem fala - Retruquei nervoso

- Meu show de ontem a noite foi um sucesso, se quiser posso até te dar uns trocadinhos depois

- É isso que eu devia fazer mesmo, pegar todas as moedas que você ganha

- Pega, mas depois não vá reclamar se eu achar maneiras mais fáceis e prazerosas de consegui-las

Eu não estava me vendo, mas tinha a certeza que estava vermelho de raiva como uma pimenta, o simples pensamento de imagina-la com alguns homem atiçava um lado sombrio meu que eu nem sabia que existia.
Peguei meu casaco e saí dali para evitar fazer uma burrada.
Eu tinha alguns assuntos para resolver na cidade e fui cavalgando até lá, assim que desci do cavalo notei que estava mais movimentada do que de costume. Meus olhos seguiram para um dos milhares de cartazes espalhados, o peguei na mão e o li

"Não percam, agora todos os dias no teatro teremos o espetáculo da Cantora Mascarada, façam já suas reservas!!!"

E o mais impressionante era a fila do teatro, fazia curvas para as pessoas adquirirem seus ingressos

- Senhor Levy, que alegria vê-lo

- Digo o mesmo Senhor Campos

Eu gostava do Senhor Campos, ele era um senhorzinho amigável

- Irá comprar seu ingresso também? - Perguntou notando o cartaz em minhas mãos

- Oh não, eu me casei recentemente, sabe como é ainda estou em lua de mel - Falei dando uma piscadela, mas na verdade só conseguia pensar que era a lua de mel mais azeda que um homem poderia ter

- Que ótimo, meus parabéns

- Muito obrigado, peço desculpas por não tê-lo convidado, mas minha noiva exigiu uma cerimônia somente para nossos familiares

- Claro, sem problemas. Fiquei sabendo também do falecimento de sua mãe, eu sinto muito

- Obrigado

- Mais então, venha e traga sua esposa, eu tive oportunidade de ver essa tal cantora mascarada cantar, e ela realmente é muito boa, tenho certeza que sua mulher irá desfrutar bastante do espetáculo

- Bom... Quem sabe mais pra frente não é mesmo? Por hora quero aproveitar com privacidade ao lado dela

- Danadinho, saudades da minha juventude onde eu tinha esse fogo também...

Apenas ri de seu comentário, eu e Maite tínhamos muito fogo mesmo, mal acabávamos uma briga e já começavamos outra. Se isso não era uma relação quente, eu já não sabia mais o que era.

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