A noite eu caminhei até a cachoeira, e sorri triste ao lembrar do momento em que tive com Maite ali.
Eu comecei a caminhar para dentro do rio, eu já não estava aguentando mais aquela vida.- Érica? É você mesmo? - Perguntei esfregando os olhos para ter certeza que eu estava vendo ela
- Olá, meu amor. O que está fazendo? - Perguntou sorrindo, aquele sorriso meigo que só ela tinha
- Eu quero ir embora, quero te encontrar. Com você tudo era mais... Fácil
- Você não pode abandonar Maite, ela precisa de você mais do que nunca
- Ela me traiu
- Ela fez para te proteger, Maite é uma garota inocente, tente entender o lado dela também
- E agora essa gravidez, eu sempre quis ser pai, você sabe, mas não nessas condições, não sem saber se o filho é realmente meu
- Pai é aquele que cria, que cuida, que dá amor, mesmo que não seja seu, tenho certeza que você será o melhor pai do mundo - Falou acariciando meu rosto - Não acabe com seu sonho por um mero detalhe
E então ela começou a se afastar até sumir totalmente, eu queria segura-la, mas eu não conseguia meu corpo estava pesado demais.
Acordei com o Sol batendo em meu rosto, eu estava jogado na margem do rio, totalmente ensopado. E eu só conseguia lembrar do momento em que eu estava emerge na água e sonhei com Érica, tinha sido tão real que eu me arrepiava só de pensar.
Logo comecei ter uma crise de tosse, sem dúvidas um belo resfriado estava a caminho. Assim que entrei em casa Maite estava sentada no sofá bordando... Bordando?... Meu Deus do céu, em todos os meus sonhos mais malucos jamais pensei em ver Maite Perroni bordando, e me dei conta de uma coisa, eu estava nervoso com ela, mas eu sou o verdadeiro culpado, eu que estraguei a vida dela, se não fosse por minha causa ela nunca teria pisado nessa cidade, nunca teria conhecido Christopher. Ao notar meu estado deplorável ela me mirou preocupada
- O que aconteceu? - Perguntou fingindo pouco caso, mas eu sabia que ela estava preocupada
- Não quero falar sobre isso
- Quer que eu mande preparar-lhe a banheira com uma água quente?
Ela seria uma ótima mãe, mesmo quando estava decepcionada e com raiva ela era cuidadosa e amorosa, se eu não conseguisse suportar o fardo de conviver com a dúvida, eu tinha certeza que ela conseguiria suprir a falta de um pai na vida daquela criança
- Não precisa
Ela então deu de ombros vencida e eu segui para o quarto, apenas tirei aquelas roupas ensopadas, me sequei e deitei embaixo das cobertas, meu nariz estava totalmente entupido, e uma dor de garganta me impedia de engolir normalmente. Não demorou para Maite adentrar o quarto com uma xícara em mãos
- Beba - Disse me entregando
Quando levei a boca quase cuspi tudo, ela queria me envenenar com aquela coisa ruim
- Não cuspa, é um chá excelente para resfriados, eu já tomei muito quando criança. Eu vivia gripada, porque passava as noites brincando do lado de fora, tomando sereno, brincando na chuva, nadando no rio tarde da noite, minha mãe queria me matar, meu pai muitas vezes me batia quando eu chegava em casa, mas eu não me importava eu tinha um espírito livre, e nada podia me parar. Quando a adolescência chegou a preocupação comigo foi grande, minha mãe chorava decepcionada e meu pai me agredia cada vez com mais força, eu tinha que entrar no eixo, mas eu não conseguia. Eu fugia a noite de casa pra observar a lua e as estrelas deitada na grama, e também gostava de ficar a espreita vendo os cavalheiros se divertindo a noite, enquanto as meninas já deviam estar recolhidas em seus aposentos, e quando eu me vesti de homem e entrei num famoso clube - Ela sorriu com aquela lembrança - Ali foi a porta de entrada para descobrir meu talento musical, com acesso livre a teatros, tabernas e clubes eu descobri a música, um certo dia meu pai me pegou vestida de moleque e veio para me bater, mas naquele dia eu não deixei, eu bati de frente com ele e eu estava determinada a socar-lhe a cara caso tentasse relar a mão em mim novamente. No dia seguinte eu voltei ao teatro, mas vestida como mulher, cheguei desacompanhada e de cabeça erguida, estava tendo uma encenação e quando foi para trocar o cenário eu entrei correndo no palco, e comecei a cantar, dois homens já estavam vindo em minha direção para tirar-me a força, mas viram que a platéia estava gostando e me deixaram terminar, e depois vieram as palmas e os gritos de aprovação, e ali eu soube o verdadeiro motivo para eu ter vindo a esse mundo
Quando ela terminou de falar seus olhos estavam marejados, e eu havia terminado de tomar aquele chá sem nem perceber
- Eu não queria que as coisas tivessem terminado assim - Falei sincero
- Eu também não...
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Cartas Encontradas
RomanceQuando perdi minha esposa Érica me fechei completamente para o amor, porém minha mãe vivia me cobrando para voltar a casar e ter herdeiros, já que com minha falecida mulher não tive filhos. Eu não queria estar ao lado de mais ninguém, e foi assim en...