Toda criança nasce como uma lua nova, uma página em branco pronta para viver grandes experiências e receber todo o apoio da família, ou pelo menos era assim que devia ser. Mas esse não foi o meu caso, minha mãe morreu enquanto dava à luz a mim e eu acabei sendo criada apenas pelo meu pai, um pescador que havia partido do sul do país em busca de novas aventuras. Se instalou no pequeno município de Lourinhos, no Amazonas, onde conheceu minha mãe. Eu, Luana Ribeiro Ehrenberg, não fui planejada, nasci de um descuido dos dois, mas meu pai jura que minha mãe ficou empolgada com meu nascimento, tinha trabalhado duro para montar um quartinho para mim na humilde casa que os dois vieram a ter. Cresci igualzinha a ela, tinha sua pele parda e cabelos lisos e escuros, herança do sangue indígena que corria em minhas veias. A única diferença eram os meus olhos, um tom claro de castanho que às vezes era mel, às vezes era esverdeado, que eu herdei do meu pai. Era a única característica física que eu tinha dele, chegava até a ser engraçado, eu era minha mãe todinha.
Depois que ela morreu, meu pai começou a beber e o hábito se tornou cada dia pior, até ele se tornar um alcóolatra, até ele já não ter mais condições de me criar, passando o dia caído pelos botecos da cidade. Naquela época eu tinha uns doze anos e já era muito mais independente do que qualquer criança da minha idade. Tinha que cuidar de mim e do meu pai, não havia mais ninguém que pudesse fazer isso por mim. Meus avós maternos já tinham falecido e minha mãe não tinha irmãos; meu pai tinha cortado laços com sua família do Sul e eles nem sequer sabiam da minha existência. Achei que teria que lidar com aquela situação difícil para sempre, mas a vida estava me preparando para algo diferente, algo muito pior.
Ainda me lembro daquele dia como se fosse hoje, um casal se mudou para a casa ao lado da nossa, eram gentis e tinham um filho de dezessete anos chamado Benjamin. Meus antigos vizinhos eram insuportáveis, então fiquei feliz por ter companhia e alguém para conversar, já que passava a maior parte do dia sozinha em casa. Benjamin me visitava o tempo inteiro, dizia que adorava conversar comigo e que eu era muito madura, não parecia em nada com uma garota de doze anos. Eu adorava os elogios, adorava me sentir madura, ao lado dele me sentia uma mulher. Não demorou muito para que eu me apaixonasse por ele, pela forma ágil como subia nas árvores do quintal para colher frutas ou por suas habilidades para limpar um peixe, parecia que tudo o que ele fazia era perfeito aos meus olhos.
No meu aniversário de treze anos, organizei uma festinha com alguns amigos da escola, eu nem esperava que meu pai aparecesse já que sempre ia beber depois do trabalho, então planejei tudo sozinha. Costumava ajudar na vizinhança tomando conta das crianças ou limpando o quintal e com isso juntei algumas moedas, que usei para comprar coisas gostosas para comer na festinha. Quando vi tudo pronto, fiquei muito orgulhosa do meu trabalho, apesar de ainda ter que lidar com a ausência do meu pai, eu estava me virando muito bem.
Benjamin foi o primeiro a chegar, disse que tinha vindo mais cedo que os demais porque tinha dois presentes para mim. Me entregou o primeiro em mãos, era um vestido cor-de-rosa, o material era bom, parecia caro. Fiquei me perguntando como ele conseguiu comprar algo assim e me senti mal por tê-lo feito gastar dinheiro comigo, mas ele disse que eu merecia aquilo e muito mais. Depois, inclinou o rosto na minha direção e antes que eu pudesse me dar conta do que estava fazendo, colou os lábios aos meus. Benjamin já tinha feito dezoito anos naquela época e eu tinha apenas treze, mas ele jurou que estava apaixonado por mim e queria que eu fosse sua mulher. Eu era inocente e ingênua, não vi maldade alguma naquilo, lembro o quão nas nuvens fiquei com aquele beijo, com tudo o que dizia respeito a ele. Era meu primeiro amor e eu já fantasiava tudo, nosso casamento, nossa vida juntos. Adorava quando ele dizia que me via como mulher, me sentia superior às minhas amigas, me gabava por ter um namorado mais velho. Naquela época eu não sabia que aquilo era crime, para mim não havia nada de errado em nosso relacionamento.
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As quatro fases da Luana
RomanceAos dezesseis anos, Luana fugiu de Lourinhos, uma pequena cidade no Amazonas, para Cadente, no interior de São Paulo. Tendo um pai alcóolatra desaparecido e um namorado abusador, tudo o que Luana buscava era um refúgio na fazenda de Proença, uma mul...