Quarto Crescente XI

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— Precisamos seguir o plano.

Proença estava reunindo todos nós na sala de casa enquanto eu analisava a foto que Benjamin tinha colocado na nossa caixa do correio, aquela que ele tirou da frente da fazenda para se mostrar presente, embora no dia eu não tenha dado muita atenção. Porém agora o cenário era diferente, agora sabíamos que ele podia estar lá fora em qualquer lugar e que podia, infelizmente, invadir nossa casa quando bem entendesse.

A verdade é que a situação seria bem mais fácil se eu pudesse ir até a polícia conseguir uma ordem judicial para que Benjamin fique longe de mim, no entanto fazer isso implicaria falar sobre o meu passado e sobre o fato de que fugi de casa quando era menor, o que certamente colocaria Proença em problemas. O desgraçado do Benjamin já devia ter concluído isso também, que denunciá-lo seria o mesmo que colocar quem me ajudou em uma situação difícil, algo que eu não faria. Respingaria até na Mirella, que foi quem viajou comigo, então essa não era uma solução.

O jeito era nos protegermos como sempre fazíamos e foi por isso que a Proença reuniu todo mundo. Nos próximos dias, eu iria dormir no colchão extra que ela tinha no quarto para emergências, como a casa só tinha um quarto, sempre que estávamos em situação de perigo, Proença preferia que dormíssemos no quarto dela, ao invés de ficar nos nossos trailers. Maicon, que era o mais velho dos garotos aqui de casa, iria dormir na sala e nos daria cobertura, qualquer barulho estranho que ouvíssemos nos colocaria em alerta. No fundo, é claro, esperávamos que essas medidas fossem apenas de precaução e que Benjamin não chegasse nunca a invadir a nossa casa, que dirá coisa pior.

Aquela noite foi estranha, não apenas porque Proença roncava tão alto que eu não conseguia dormir, mas também porque eu não parava de pensar na noite passada. Minha cabeça era uma confusão entre ficar nervosa pensando no Benjamin e ficar confusa pensando no Liam. Noite passada eu estava lá, deitada ao lado dele naquele quarto chique com colchão de molas, ficando ridiculamente boba porque ele tinha me dado um beijo na testa. E hoje eu estava aqui, no chão do quarto da Proença, me perguntando porque diabos eu não parava de pensar nesse garoto.

O que diabos estava acontecendo comigo?

Bom, a boa notícia é que Benjamin não apareceu naquela noite, tampouco o vimos pelos arredores quando Proença foi me levar de carro para o trabalho na manhã seguinte. Eu não sabia se ele estava se escondendo porque Liam chamou a polícia da outra vez, ou se apenas estava pensando em um jeito infalível de me machucar, e confesso que a segunda opção parecia tão plausível quanto era assustadora. Conhecendo ele e sabendo que ficou cinco anos me procurando pelo país, certamente não iria desistir assim tão fácil.

— Eu devia fugir? — perguntei quando a Proença estacionou o carro em frente à casa dos Choi.

— Para onde, garota? — ela me encarou confusa — Nem ouse.

— Pro sul talvez — dei de ombros — Sei lá, algum lugar bem longe do Benjamin.

— É perda de tempo, você sabe... ele vai te achar de novo. Aqui pelo menos eu posso te proteger.

Suspirei um tanto cansada, aquilo não era mentira. Infelizmente, o idiota iria mesmo até o inferno atrás de mim, não sei que diabos de obsessão era essa a dele, por que não me deixava em paz?

— Ei, belo chapéu.

Proença e eu viramos automaticamente o rosto para o lado esquerdo, bem em tempo de ver o Liam montado no Boni, cavalgando em nossa direção. Proença ficou toda risonha logo de cara, ela tinha comprado um chapéu florido esses dias e agora não o tirava mais da cabeça, falava que se sentia uma senhora chique indo tomar o café da tarde em um restaurante em frente à Torre Eiffel quando o usava, e só Deus sabe por que ela tinha feito tal associação. Fato é que agora que Liam tinha elogiado aquele chapéu, ela nunca mais iria tirá-lo da cabeça mesmo.

As quatro fases da LuanaOnde histórias criam vida. Descubra agora