As quatro fases da Luana

Lua Cheia IV

Liam e eu voltamos para Cadente no dia seguinte, e dessa vez foi a mãe dele quem nos buscou no aeroporto e me largou na fazenda. Como era domingo eu não precisava ir trabalhar, mas por mais que quisesse ficar junto do Liam, sabia que a Proença e os demais estavam morrendo de curiosidade de saber as novidades do meu pai, então precisava ir para casa primeiro.

Achei que era eu que trazia as maiores novidades do final de semana, porém quando pisei na sala, Proença disse que tinha algo que precisava me contar primeiro. Todo o grupo de moradores da fazenda já estava reunido no sofá — até a Bea estava lá — então fiquei com a pulga atrás da orelha. Sentei junto com eles para ouvir o que ela queria me contar, e juro que várias coisas passaram pela minha cabeça, até a ideia de que ela tinha, do nada, arrumado um namorado de um dia para o outro, ou até mesmo que tinha se casado escondida, mas nunca imaginei ouvir o que ouvi naquela manhã.

— Luana — ela segurou em minhas mãos — Benjamin está morto.

Olhei para ela e pisquei acho que várias vezes por reflexo, achando que tinha ouvido errado. Eu só tinha viajado por um dia, como assim Benjamin estava morto?

Então ela prosseguiu me contando sobre como ele havia se suicidado dentro da cadeia, no meio de um surto. Os policiais ligaram para o senhor Choi para avisar, afinal de contas Benjamin tinha sido preso por atirar no filho dele, e depois ele avisou a Proença, que ficou chocada. Segundo o senhor Choi, Benjamin estava passando por testes porque acreditavam que ele fosse psicopata, e que se não fosse isso, tinha uma obsessão fora da realidade por mim, o que certamente era doentio. No entanto, aqueles estudos jamais seriam concluídos. Fiquei pensando que quando foi nos pegar no aeroporto, a senhora Choi já sabia de tudo, mas provavelmente achou que era melhor eu ouvir aquilo pela Proença, o que eu agradecia. Quando eu irrompi no choro, não tinha abraço que queria mais do que o dela.

Eu não estava chorando de tristeza, é claro. Estava chorando de alivio, agora não existia mais nenhum cenário no qual Benjamin iria sair da cadeia e procurar por mim, mesmo daqui há muitos anos, afinal ele era obcecado o suficiente para fazer algo assim. Claro que havia um lado meu que torcia para que um conto de fadas acontecesse e Benjamin ficasse melhor e um dia pudesse viver bem, mas eu já era bem grandinha para saber que um homem como ele não tinha salvação. Pelo menos eu tinha sido a única vítima que ele fez em vida, ou assim eu torcia para que fosse.

Tinha acabado, tudo tinha acabado, Benjamin estava morto, ele nunca mais iria me atormentar. Eu estava completamente livre de todos os fantasmas do meu passado, de uma vez por todas. Era até difícil de acreditar.

Depois que me acalmei e recebi consolo do pessoal, todos quiseram ouvir as novidades sobre o meu pai, então contei a eles sobre aquela minha família do Sul que era muito diferente de mim, também falei sobre o meu pai e sobre como eu achava que ele tinha me ouvido e que estávamos de coração tranquilo porque eu o tinha perdoado por ter me abandonado. E então aquele também era um peso que eu não precisaria mais carregar comigo.

Tudo o que tinha me atormentado no passado não existia mais, assim como em um passe de mágica. E eu não podia deixar de pensar novamente, a vida é mesmo muito louca...

Quando Liam chegou da faculdade no final de tarde de segunda-feira, eu estava limpando o estábulo, então sim estava fendendo a cocô de cavalo. Ele não quis se aproximar, mas joguei na cara dele que tinha dito que me achava linda até suja de cocô, por isso ele acabou tendo que me dar um beijo mesmo assim. Liam tinha ouvido pelos pais sobre o que aconteceu com o Benjamin, então ele também estava muito aliviado que tudo tinha se resolvido. Mas as novidades do final de semana não tinham terminado, foi o que eu disse quando coloquei um envelope vermelho em suas mãos. Liam olhou para o envelope e depois para mim, um tanto confuso.