Quarto Crescente IX

48 8 2
                                    

No sábado, Mirella estava fazendo 22 anos e me convidou para celebrar junto com ela em um lugar legal que tinha aberto recentemente na cidade e todo mundo só falava disso. Ela havia conseguido ingressos para nós e o show da noite era um de drag queens, algo que eu nunca tinha visto pessoalmente, então fiquei bem animada. Ulisses tinha comprado seu primeiro carro e não perdia uma oportunidade de exibi-lo por aí — embora fosse usado e estivesse precisando de vários reparos — por isso ele se convidou para me dar carona e eu não pude negar.

A casa de shows se chamava Synthesis e ficava no centro, além do palco para shows tinha uma pista de dança enorme e serviço de bar completo. Não parecia ser um lugar barato, mas Mirella trabalhava com o filho de um dos donos de lá, única razão pela qual estávamos lá dentro.

Como eu não tinha nem roupa para tal lugar, Mirella me emprestou um vestido cheio de brilhos que ela tinha e eu completei o visual com as botas que a Proença sempre me emprestava e meus enormes brincos de argola. Adorava me vestir assim, não podia negar, parecia que eu me tornava outra pessoa, quase como se fosse uma atriz de novela interpretando uma personagem rica e malvada.

Assim que chegamos, o local já estava lotado e com uma fila quilométrica na porta. Passamos facilmente na frente de todo mundo por causa dos ingressos e pegamos nossa mesa, uma que ficava do lado esquerdo e não muito longe do palco, teríamos visão privilegiada.

Ulisses fez nossos pedidos no bar e não muito tempo depois, vieram entregar nossas bebidas na mesa. Quando o show de drag queens começou, a maioria de nós já estava levemente alcoolizado e sorríamos sem parar. A apresentação foi incrível, aliás. Eu nunca tinha visto tanto brilho, penas e purpurinas no mesmo local, tampouco pessoas que dançassem tão bem, elas deram um show. Ali, junto daquelas pessoas, eu sentia que estava finalmente me libertando para viver bem mais coisas da vida do que eu vivia presa naquela fazenda. Enquanto conversava com os amigos da Mirella e me divertia com eles, comecei a cogitar partir para a cidade, um deles disse que me conseguiria um emprego por lá, quem sabe eu poderia dividir um apartamento com a Mirella e o Ulisses, antes de ter minha própria casa. Me peguei ali fazendo planos e sonhando com um futuro diferente, um no qual eu não teria mais medo de nada e viveria minha vida do melhor jeito possível.

Ulisses apareceu com um bolo de aniversário algum tempo depois, que surpreendeu Mirella e fez com que a garota risse e chorasse ao mesmo tempo, metade pela emoção do momento, e outra metade pelo álcool. Ela assoprou as velinhas depois dos parabéns que cantamos em coro e dividimos o bolo de chocolate com morango. Ulisses pediu mais uma rodada de bebidas e àquela altura eu já não estava conseguindo ficar em pé com tanta firmeza quanto antes.

Fui ao banheiro cambaleando e rindo ao mesmo tempo, estava no ápice da minha felicidade sem motivo ali. No entanto, quando estava voltando para nossa mesa, senti uma mão me puxar pelo pulso e assim que olhei para ver quem tinha me segurado, senti meu coração parar de bater no peito.

Benjamin.

Fazia cinco anos que não nos víamos, mas eu jamais me esqueceria do rosto desse homem.

— Eu estava te olhando de longe já há tanto tempo, finalmente você me deu uma oportunidade de me aproximar — ele disse de um jeito debochado.

Tentei me soltar de forma brusca, mas ele estava me segurando com muita força, o que me deixou ainda mais apavorada.

— O que foi? Não quer conversar com um velho amigo? — ele deu um sorrisinho malicioso.

Com insistência, consegui me soltar da mão dele e caminhei o mais depressa possível pela multidão que se aglomerava ao meu redor, mas antes que conseguisse voltar até a nossa mesa, ele me puxou de novo e dessa vez com mais força, tanta que minhas pernas bambas por causa do álcool e do medo não conseguiram me segurar.

As quatro fases da LuanaOnde histórias criam vida. Descubra agora