As quatro fases da Luana

Quarto Crescente XVI

— Você acha que as pessoas se tornam estrelas quando elas morrem?

— Sim.

Virei o rosto na direção de Liam e o encarei, estávamos deitados no capô do carro, minha cabeça reclinada em seu peitoral enquanto admirávamos o céu noturno acima de nossas cabeças. Eu sabia agora que aquilo não era verdade, obviamente as pessoas não viravam estrelas, mas por muitos anos enquanto criança, foi essa mentira que me manteve mais próxima da minha mãe.

— Você não devia me incentivar a pensar sobre coisas que não são verdade — falei.

— Mas como você sabe que não é verdade? — ele me questionou — Quer dizer, alguém já provou isso?

Fiquei olhando para ele incrédula, e por fim dei uma risada.

— Está dizendo que minha mãe é uma das estrelas lá em cima?

— Pode ser — ele deu de ombros — Qual é ela?

Olhei para o céu e apontei para a mais brilhante delas.

— Aquela é júpiter — ele riu.

— Viu? — resmunguei e dei um tapinha nele.

— Sabe — ele se ajeitou e pegou na minha mão — Quando eu era criança, eu era muito próximo da minha avó materna, todo o verão minha mãe e eu viajávamos para a Coreia do Sul para passar as férias com ela e o meu avô — ele explicou — Vovó sempre fazia biscoitos em formato de ursinho com chocolate nas orelhas, depois me servia com um copo de leite... — ele se perdeu nas memórias e deu um sorrisinho — Eu amava a minha vó, amava passar as férias com ela, era minha época favorita do ano. Mas então um dia, completamente do nada, minha mãe entrou no meu quarto e me avisou que ela havia falecido de um ataque cardíaco, aquilo pegou a família toda de surpresa já que vovó sempre foi saudável... — ele suspirou e olhou para o céu — O pior de tudo foi que nem pudemos nos despedir, a viagem até a Coreia do Sul leva mais de um dia e não chegaríamos a tempo do velório, além do mais minha mãe estava grávida da Monica naquela época...

— Sinto muito — respondi e apertei sua mão.

— Então pra não sentir tanta falta da vovó, eu imaginava que ela era uma das estrelas no céu, quem sabe ela é mesmo, quem sabe sua mãe e ela estão lá em cima, em algum lugar — ele concluiu e virou o rosto na minha direção, sorridente.

— É, quem sabe sim — sorri de volta e apoiei a cabeça novamente em seu peitoral.

Liam colocou os braços ao meu redor e por alguns minutos, ficamos ali em silêncio, apenas observando as estrelas e pensando sobre aqueles que já não estavam mais nesse mundo, mas que nós dois ainda trazíamos no coração. Não era, definitivamente, algo que eu imaginava que acontecesse em um primeiro encontro, mas era, sem sombra de dúvidas, muito melhor do que eu tinha imaginado.

Quando o relógio já marcava onze da noite, Liam disse que estava na hora de me levar em casa, Proença iria ficar preocupada se eu demorasse. Disse a ele que ela não ia se importar, mas Liam alegou que queria fazer tudo certo, então seria responsável e me largaria em casa antes da meia noite. Era fofinho, eu não podia negar, por isso apenas aceitei.

Nos despedimos meia hora mais tarde, quando ele estacionou o carro em frente à casa da Proença e pegou na minha mão para me desejar boa noite com um sorriso enorme nos lábios. Por falar em lábios, consegui roubar um beijo antes de sair do carro, que o deixou envergonhado pela surpresa. Enquanto eu caminhava até a porta de casa, só conseguia pensar no quão surreal tinha sido aquilo tudo, era quase como se eu estivesse vivendo a vida de outra pessoa.

Me virei e acenei para ele e ele acenou de volta, antes de entrar e fechar a porta. Assim que pisei na sala, contudo, fui automaticamente atacada por um bando de jovens e a Proença, que estavam desesperados para saber sobre como tinha sido o meu encontro. Eu não era acostumada com aquilo, mas de repente eu estava feliz por sentar no sofá e contar a eles o que tínhamos feito, sobre o jantar, o restaurante, nossa paradinha para ver as estrelas... acabei com três meninas histéricas, uma senhora chorosa e o Pietro perguntando em qual dia seria o nosso casamento.