Quarto Crescente II

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Cheguei para o meu primeiro dia de trabalho meia hora mais cedo, o que impressionou Tobias, que achou que eu era do tipo que dormia até o meio dia. Quem me recebeu foi uma mulher, a esposa do senhor Choi, pois ele já havia voltado para São Paulo. Ela era elegante, assim como o marido tinha aparência de pessoa rica, classe até para respirar. Me disse que estava feliz por ter uma mulher trabalhando na fazenda e me desejou boa sorte, qualquer problema que eu tivesse era só chamar o Tobias ou qualquer outro empregado. Meu primeiro trabalho era ir até o galinheiro coletar alguns ovos para o café da manhã e depois leva-los até a cozinha, que ela me indicou onde ficava. Entreguei os ovos à cozinheira que estava preparando o café da manhã uns dez minutos mais tarde e ela me agradeceu, depois puxou assunto comigo enquanto preparava um omelete. Naquele instante, uma garotinha de cabelos escuros e olhinhos puxados entrou correndo na cozinha, mas freou e ficou paralisada no lugar assim que me viu. Eu já era acostumada a assustar crianças com a minha aparência, então não fiquei confusa com a reação dela. Lembrei de quando eu tinha doze anos e das coisas que já enfrentava naquela época, a garota diante de mim parecia tão cheia de vida e liberdade, devia ser muito bom ser rico e ter uma boa família.

— Quem é você? — ela perguntou curiosa.

— Luana — falei e estendi a mão — Vou trabalhar cuidando dos animais da fazenda.

— Você vai trabalhar com o Tobias? — ela apertou minha mão um tanto receosa.

— Acha que eu não consigo?

Ela deu de ombros e então outra pessoa entrou na cozinha, dessa vez era um rapaz, ele se parecia com a garotinha em minha frente, portanto supus que fosse o filho mais velho da família. Ele freou assim como ela e ficou me encarando confuso, eu o encarei de volta e o vi ficar tímido, quebrando o contato visual comigo no mesmo instante.

— Liam, essa é a garota que vai trabalhar com o Tobias — a mais nova disse, virando-se para o irmão.

— Na fazenda? — ele perguntou confuso.

— É, o pai de vocês me contratou porque eu tenho experiência e a minha aparência não tem nada a ver com o meu trabalho, entendido? — respondi já um pouco sem paciência — Agora podem deixar de tanta surpresa e vão fazer as coisas de rico de vocês, tá bom?

Deixei os dois para trás, mas ouvi uma risadinha da cozinheira enquanto saía, de certo aqueles dois não eram acostumados a ouvir esse tipo de coisa de um funcionário da casa, mas eu não ia perder o meu tempo com eles. Fui direto para o estábulo dar uma olhada nos cavalos que eles tinham e confesso que fiquei bem impressionada, eram lindos e bem cuidados. Parei diante de um com o pelo caramelo com detalhes em branco e ergui a mão para acaricia-lo, quando ouvi uma voz e freei.

— Boni não gosta que encostem nele — o garoto que se chamava Liam se aproximou de mim com os braços cruzados no peito.

— Boni? — perguntei.

— É, o nome dele é Bonanza — ele explicou — Mas eu o chamo de Boni, é o meu cavalo.

— Dizem que o cavalo é reflexo do dono, então você também não gosta que encostem em você?

— É, como adivinhou? — ele perguntou surpreso.

Dei uma risadinha e ergui a mão mesmo assim para acariciar Boni. Ele me deixou tocá-lo no topo da cabeça, o que fez com que Liam arregalasse os olhos ao meu lado.

— Não é possível, Boni é arrisco com todo mundo...

— Os cavalos sabem quando as pessoas têm boas intenções — falei — Ele sabe que eu não vou machuca-lo, então ele confia em mim.

— Você tem um cavalo? — ele quis saber.

— Na fazenda onde eu moro tem alguns, não são meus, mas é como se fossem... já faz muito tempo que eu cuido de animais.

As quatro fases da LuanaOnde histórias criam vida. Descubra agora