Lua Nova

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Ulisses parou a Kombi em frente a um grande portão de madeira, meia hora depois que saímos da rodoviária, a fazenda da Proença ficava bem afastada do centro da cidade. Ele abriu o portão para passar com o carro e depois o fechou, seguindo caminho até a casa, que ficava mais afastada no terreno. O lugar era enorme e tinha um bonito caminho de árvores frutíferas que nos guiava por uma estradinha de terra, mais afastado eu conseguia ver vacas e cavalos pastando, era a primeira vez que eu via vacas tão de perto assim. De repente, avistamos uma pequena, porém bonita casa de madeira envernizada, que Ulisses nos disse que era onde Proença vivia. Ela não tinha filhos e nem era casada, dedicava sua vida a ajudar jovens como Mirella e eu, que não tínhamos para onde ir.

Assim que Ulisses estacionou a Kombi do lado de outro carro em frente à casa, uma mulher de cabelos compridos e encaracolados na altura da cintura veio em nossa direção, e eu de cara já a achei divertida, pois seus cabelos estavam pintados em um tom claro de roxo e ela usava uma saia toda colorida que descia até os pés.

— Minhas novas moradoras — a mulher chamada Proença sorriu de um jeito simpático e se aproximou para ajudar Mirella e eu com nossas mochilas — Que adoráveis, parecem duas bonequinhas.

Olhei para Mirella e ela dividia o mesmo pensamento que o meu, de bonequinhas não tínhamos nada naquele momento, estávamos mais para um pano de chão de tanto cansaço, porém logo percebemos que Proença era muito simpática. Ela se apresentou em seguida e disse para que a acompanhássemos, ia nos mostrar a casa.

Começou pela sala, ela tinha lá dois sofás grandes e várias almofadas coloridas espalhadas pelo chão, bem em frente a uma televisão bem maior do que a que eu tinha em casa. Nos contou que podíamos assistir televisão a qualquer hora do dia e que a maioria dos moradores costumava se reunir ali para assistir a algum seriado juntos durante a noite, o que eu achei incrível. Depois apontou para duas portas, uma de cada lado do corredor, onde eram os banheiros. Só tinha dois para todo mundo, isso significava apenas dois chuveiros para mais de quinze adolescentes, por isso Proença nos disse para sermos espertas e tomar banho logo cedo, caso contrário enfrentaríamos uma fila um pouco desagradável.

Por último, nos levou até a cozinha e disse que a comida por ali era livre, mas que devíamos comer com consciência e pensar nos outros. Confesso que fiquei bastante chocada, eles tinham uma enorme variedade de frutas, legumes e verduras, mais do que eu já tinha visto na vida. A maior parte do que consumiam na fazenda era plantado e cultivado por eles mesmos, fora os alimentos que produziam com o leite das vacas e ovos das galinhas. Tudo era muito organizado.

Proença então abriu a porta dos fundos e nos deixou passar para a parte detrás, onde moraríamos. Lá havia seis trailers estacionados em forma de círculo, ela nos avisou que estava com lotação máxima com nossa chegada, portanto teríamos que dividir um trailer com o Ulisses, o que não achei um problema. Honestamente, qualquer coisa que não fosse morar com o Benjamin era bem-vinda nesse momento. O garoto fortinho então nos levou até onde eu viria a morar pelos próximos anos e eu não tive do que reclamar: Tinha uma cama de casal de um lado e uma de solteiro do outro, alguns armários e prateleiras para guardar nossos pertences e até mesmo energia elétrica. Ele disse que podíamos "customizar" o local como preferíssemos e eu reparei que haviam várias coisas coladas pelas paredes. Mirella e Ulisses meio que iam ficar com a cama de casal para eles, então eu já fui logo para a de solteiro que ficava do outro lado, era até melhor ter um pouco de privacidade. Havia dois degraus que me levavam ao meu novo "quarto", que era basicamente só o colchão mais alto que o resto do trailer, pois embaixo dele tinha um armário para guardar coisas. Havia até uma cortininha para me isolar, no fim das contas o meu canto parecia melhor que o dos dois. Sentei na cama e larguei minha mochila em cima dela, agora eu sentia um misto esquisito de nervoso pelo desconhecido e alivio por ter chegado até ali sã e salva. Naquela fazenda Benjamin jamais me encontraria.

As quatro fases da LuanaOnde histórias criam vida. Descubra agora