As quatro fases da Luana

Quarto Crescente XIV

Quando finalmente cheguei em casa do hospital, estava desesperada por um banho e a minha cama, mas depois que me banhei, Proença não me deixou escapar tão fácil. Queria saber detalhes de como Liam estava e tudo o que aconteceu comigo quando Benjamin tentou me sequestrar daquele jeito. Minha história acabou por reunir todo mundo no tapete da sala da fazenda e deixou um misto de medo e excitação no ar. Todos os jovens ali estavam numa situação parecida com a minha, tinham fugido de alguém ou de algum lugar e corriam o risco de serem encontrados, talvez até raptados como eu quase fui. Mas também a história sobre como Liam tinha me salvado deixou todo mundo animado, era como um sopro de esperança para todos nós que jurávamos ser sozinhos no mundo. Eu mesma, se me dissessem há um mês que alguém me salvaria das garras do Benjamin, jamais acreditaria. Mas o mundo dava voltas mesmo e eram essas voltas que estavam mantendo meus colegas da fazenda empolgados pelo que o futuro lhes aguardava pela primeira vez.

Tinha uma outra parte disso que eu tentei esconder, mas que sabia que era meio impossível, até porque todo mundo ficou me perguntando que tipo de relação Liam e eu tínhamos depois que ele levou um tiro para me proteger. Bem, isso não é o tipo de coisa que qualquer pessoa faria pelo outro, então por mais que eu tivesse tentado desconversar, acabei tendo que contar a eles sobre a conversa que tivemos no hospital e a confissão que fizemos um ao outro. Proença foi quem ficou mais animada, disse milhares de vezes que sabia desde o início que tinha sentido que a gente ficava brigando porque no fundo gostava um do outro e não queria admitir, o que eu até tentei negar, mas ela não deixou. Pior que aquilo tudo era tão maluco e inacreditável que eu fiquei sem argumentos e apenas me permiti sentir as coisas que eu estava sentindo.

Naquela noite, quando deitei no colchão do trailer para dormir, senti como se um ciclo da minha vida estivesse quase chegando ao fim e uma nova fase estivesse batendo na minha porta. Quem sabe agora que Benjamin estava preso eu pudesse finalmente começar a pensar no meu futuro.

Ir trabalhar na segunda-feira foi estranho, era esquisito voltar à fazenda e ver que nada tinha mudado, o quartinho de medicamentos de onde fui arrastada ainda estava lá, tão inocente que eu jamais diria que quase perdi todo o meu futuro naquele dia. Em meio à calmaria dos animais e a brisa que esfriava aos poucos naquele final de verão, parecia que nada tinha acontecido, que eu era a mesma Luana de antes. Mas Liam não estava lá e aquilo me lembrava constantemente do que tinha acontecido e a cada barulho que eu ouvia, fazia meu coração saltar no peito de nervoso. Benjamin estava preso e nunca mais iria me incomodar, mas isso não significava que o medo que carreguei comigo por tantos anos iria desaparecer assim tão fácil.

Num desses barulhos que ouvi, eu estava no estábulo e levei um susto enorme quando senti que alguém estava se aproximando. Peguei uma vassoura e já estava com ela preparada em mãos, quando ouvi uma voz feminina e baixei a guarda.

— Uau, acaso vai me bater com isso? — Vanessa perguntou e deu uma risadinha.

— Ah, é você — falei sem jeito enquanto colocava a vassoura no lugar.

— O que você está fazendo? — ela quis saber, mas eu não estava com vontade de contar toda a minha história com o Benjamin, então só desconversei.

A presença de Vanessa ali era outro ponto estranho daquele dia, parecia que segunda-feira passada, quando nos beijamos, tinha acontecido há meses. Tanta coisa rolou no resto da semana que tinha até me esquecido dela. Mas ela não tinha se esquecido de mim e deixou isso bem óbvio quando se aproximou para me roubar outro beijo.

— Desculpe — me afastei sem jeito — Eu não quero mais fazer isso.

— O que aconteceu? Você ficou chateada porque te beijei da outra vez?