Capítulo 2

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Naruto

Sentia-me péssimo por ser praticamente obrigado a voltar pra essa cidade infeliz para apresentar um projeto. Desde que Shion se foi parei de trabalhar como arquiteto, queria somente morrer em paz bem longe dessa cidade maldita, tanto que quando tudo aconteceu vendi minha parte da empresa que trabalhava e investi tudo em ações na bolsa de valores e fundos imobiliários, o que me rendeu uma pequena fortuna e uma renda passiva de dividendos mensais que são mais do que suficiente pra viver sem trabalhar - se eu quiser - para o resto da vida. Só aceitei porque eles queriam soluções ecológicas para a nova sede de um banco renomado em Nova York e só eu poderia entregar o que eles queriam, ainda estava receoso até que abriram minha ferida em sua a última cartada ao mencionar que Shion ficaria feliz em saber que realizei seu sonho de ter um prédio em Nova York ecologicamente sustentável, só depois desse argumento aceitei a proposta – somente por ela – Trabalhei dias a fio nesse projeto até ficar satisfeito com o resultado, segui confiante para a minha apresentação, saí do hotel e fiquei uns 15 minutos tentando pegar um táxi, a estimativa do Uber era de pelo menos 20 minutos então estava sem escolhas, desacostumei com Nova York, clima pesado, pessoas mal educadas carrancudas e poluição por todo lado, só pensava no quanto estava ansioso para voltar pra casa, para Konoha onde tudo era mais simples e tranquilo. A noite começaria minha jornada de volta pra casa, até lá teria que aguentar a grande maçã podre mais um pouco, finalmente consegui um táxi de procedência duvidosa e segui para meu destino.

Ao final da apresentação todos ficaram muitos satisfeitos e impressionados com tudo o que apresentei, e com todos os benefícios e economia que o prédio ofereceria. A parte mais chata viria agora onde eles começariam a falar sobre custos e cortar isso ou aquilo outro, me atrevo a dizer que por mim eu já iria embora, tive o maior trabalho em procurar as formas mais eficazes para cortar custos e buscar as relações dos materiais com o melhor custo benefício para eles; se quiserem será o prédio da maneira que apresentei, sem concessões ou mudanças, tudo ou nada.

- Senhor Uzumaki, agradecemos por sua excelente apresentação, mas gostaríamos de saber se tem uma proposta para reduzir um pouco os custos, visto que o orçamento ficou um pouco acima do que esperávamos.

- Infelizmente não Sr. Smith, sei que está um pouco acima do orçamento, mas era o previsto, construções denominadas como "edifícios verdes" custam em média 7% a mais do que construções convencionais. No orçamento que passei aos senhores consegui reduzir essa porcentagem para 1,5% o que já foi um grande avanço, também pode apostar em parcerias com algumas empresas que vão fornecer os materiais e com as construtoras. Sem falar que depois de pronto, não demorará muito para recuperarem o investimento já que os custos para manter uma estrutura como essa serão muito menores, pelas minhas estimativas vocês farão uma economia de 50% de água potável e 30% no uso da energia elétrica.

- Entendemos Sr. Uzumaki, porém não há nada que possa ser feito no que se refere à estrutura do edifício? – Suspirei, sabia que isso ia acontecer, mas como eu disse tudo o nada.

- Infelizmente isso não será possível Sr. Smith o prédio foi desenhado de acordo com as características e necessidades solicitadas, se eu remover algum elemento ele simplesmente não irá funcionar.

- Compreendo, agradecemos pela sua presença Sr. Uzumaki, em breve iremos notifica-lo de nossa decisão.

- Agradeço aos senhores pela oportunidade – Fiz uma mesura, peguei minhas coisas e saí da sala. Já esperava que fosse ser assim, eu não estava aberto a negociar e pelo visto eles também não. Todos querem um prédio ecológico, mas poucos querem pagar o preço e olhe que eu tentei reduzir os custos o máximo possível, já dentro do elevador suspirei e afrouxei a gravata, acho que não será dessa vez... Quem inventou o ditado "desgraça pouca é bobagem" definitivamente não estava brincando, demorou mais 20 minutos para conseguir finalmente um táxi e esse intervalo foi o suficiente para que alguém trombasse em mim derramando café na minha roupa e de quebra passou um ônibus muito rápido na poça de água a minha frente me dando um banho, acho que basta, não tinha como esse dia piorar, resolvi que voltaria para o hotel e ficaria quietinho lá até a hora de seguir para o aeroporto.

Lembra quando disse que o dia não poderia piorar? Nunca digam isso, porque vai piorar sim e muito, cheguei ao hotel, tomei um banho e mandei meu terno para a lavanderia já que me garantiram que iria ficar pronto antes do meu check-out.

Verifiquei as informações do voo e acionei o despertador, precisava descansar. Consegui chegar ao aeroporto e embarcar sem mais problemas, até pensei que a viagem poderia se tornar agradável, porém a bendita moça ao lado não parava de bater no braço do meu assento, eu infelizmente ocupo muito espaço, aquelas poltronas sempre acabavam comigo, me sentia uma sardinha dentro da lata; até olhei para trás para ver se tinha algum outro assento disponível pelo menos até decolar, mas o voo estava lotado, por fim não aguentei e chamei a atenção dela. Ela me pediu desculpas sem olhar pra mim, passaram-se uns minutos e percebi que a respiração dela estava muito alterada, comecei a ficar preocupado, vi que suas mãos tremiam incontrolavelmente e que estava à beira de um ataque de ansiedade. Peguei em sua mão e fiz uns exercícios com ela, minha mãe tinha muitos ataques de ansiedade quando eu era mais novo, então meu pai me ensinou o que fazer para ajudá-la a controlar caso ele não estivesse em casa. São exercícios tão simples que acredito que deveriam ser de conhecimento geral, depois de um tempo ela melhorou e começamos a conversar, só aí que pude reparar em Hinata, baixinha, provavelmente 1,60 distribuídos em belas curvas, longos cabelos pretos azulados brilhantes, uma franja adornava o rosto albino, belos olhos perolados, nariz arrebitado e uma boca vermelha e carnuda. Uma mulher encantadora e delicada, aquele tipo de pessoa que não tem noção de quão linda e perfeita é, vê-la em uma situação tão vulnerável me fez até esquecer que estava irritado.

Conversamos sobre várias coisas, fui eu quem ficou tagarelando na cabeça dela na maioria das vezes, mas ela pareceu gostar e ouvia atentamente, diria que até admirada. Hinata era muito tímida, mesmo depois de distraí-la e dos exercícios para respiração ela me parecia tensa e melancólica, fiz de tudo para deixa-la bem à vontade, descobri que ela também ia pra Konoha e fiquei animado, contei sobre a cidade, meus pais e meus amigos, quase consegui arrancar um sorriso dela até que caí na besteira de perguntar sobre ela.

Ela teve uma vida muito triste a meu ver, não me admira que seja tão arredia e tímida para com as pessoas, não sei por que, mas sentia necessidade de conhecer mais e ajuda-la de alguma forma, queria vê-la sorrindo. Descobri que é escritora, achei incrível, depois vou tentar descobrir o pseudônimo dela e ler seus livros, ela me pareceu bem até eu perguntar se ela realmente não tinha ninguém em sua vida; para mim era incabível uma pessoa viver isolada e sem ninguém, Hinata é uma mulher muito forte, se fosse eu morreria de depressão ou ficaria louco. Vi seus olhos ficarem opacos enquanto me respondia que era um assunto complicado, que se sentia bem sozinha etc. Senti que tinha uma história ali, mas não quis pressioná-la de maneira alguma, se algum dia ela quiser contar, estarei lá por ela.

Depois disso a conversa meio que morreu e resolvemos dormir. Tentei encontrar uma posição minimamente confortável e estava tão cansado que logo o sono veio e a última coisa que vi em minha mente antes de apagar foram olhos perolados.



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Obrigada por ler e comentar *-*

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