Capítulo 8

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Charlotte

Devo confessar que nunca fui uma expert em dobrar roupas. Meu armário costumava ter algumas gavetas bagunçadas, tecidos de algodão com algumas pequenas marcas de amassado, moletons carinhosamente embolados. Minhas malas de viagem também nunca foram as mais organizadas, definitivamente não.

Não que eu seja a pessoa mais bagunceira que se pode conhecer, não. Eu diria que possuo uma gigantesca dificuldade de manter a organização, mesmo lutando arduamente para arrumar. É, com certeza essa é a minha explicação — ou a minha defesa.

Contudo, o homem que está à minha frente neste momento, arrumando sua bolsa para embarcar no avião e voltar para Inglaterra, era tão organizado e cuidadoso com suas coisas que eu sentia quase vergonha de ser tão desleixada com as minhas próprias.

Ambas as malas estão abertas encima da cama, uma de cada lado, Tom arrumando a sua e eu a minha. É deveras difícil me concentrar na minha organização, uma vez que apenas consigo prestar atenção na forma como meu marido coloca perfeitamente seus pertences dentro da bagagem.

As mãos grandes e fortes conseguem dobrar com delicadeza cada peça. Como se usasse movimentos automáticos, no entanto. Como se os comandos de seu cérebro o fizessem organizar tudo corretamente sem que ele precisasse pensar para fazer. Em um instante me encontro hipnotizada. Thomas sempre fora dessa maneira, e somente agora me ocorre essa conclusão.

Me atenho mais quando o vejo dobrar a camisa branca que usou na cerimônia de casamento. O homem estica a roupa sobre a cama com um zelo especial, dedilhando duas pequenas rugas perto dos ombros do tecido, e rapidamente, porém com impecabilidade, ele inflectiva a blusa. Colocando-a por último na pilha dentro da mala.

  No que quer que faça, Tom é minucioso e preciso, detalhista e perfeccionista, em todos os cenários e circunstâncias que lhe cercam, desde a resposta que dará ao grande comprador em sua empresa até a força do nó com que ele amarra meus pulsos na cama.

Para Thomas, tudo parece exigir ser programado e planejamento, por ele mesmo. Tal qual cada mínima situação deve fazer parte de um plano que sua mente inteligente e perspicaz elabora em apenas um segundo.

Entretanto, a despeito de como isto soa, Tom está muito longe de ser metódico. O termo absolutamente correto para seu comportamento seria: Pragmático.

Como sua mulher, ainda me encontro em um processo de conhecê-lo. Processo esse que, constantemente, é obrigado a mudar. Minha mente faz e refaz relatórios sobre Thomas, a cada atitude inesperada que o homem toma, e por esse motivo eu penso ser capaz de dizer que todo esse aspecto que ele detém, venha de seu eu tão controlador.

Controlador, pragmático e minucioso, porém, ainda assim, disseminate de uma ousadia e audácia perigosas.

Todavia, mesmo com a ousadia e cautela parecendo excepcionalmente opostas, a grande sabedoria parece consistir em saber usar as duas juntas a seu favor, e Tom faz isso como ninguém jamais fez. Tão bem que eu temo beirar a arrogância.

— Tudo bem? Faz um minuto que você tá me encarando assim. — A voz grave de Thomas emerge e me arrasta dos meus pensamentos sobre ele. Com sua fala confusa e desconfiada, me dou conta de que estava lhe observando paralizada desde ele guardou a camisa do casamento.

  Desde que casamos, o jeito do indivíduo que colocou uma aliança em meu dedo se altera a cada cinco minutos, e eu não posso evitar parar e observá-lo, pensando sobre ele todo minuto. Ainda mais quando ele começa a arrumar uma mala tão perfeitamente que seria capaz de impressionar qualquer profissional dessa área.

— Sim, claro, desculpa. É que, na verdade, minha mente estava muito longe. — digo, atrapalhadamente, retomando minha atenção para minha bolsa e guardando um vestido azul que não cheguei a usar.

Maybe: Chapter Two | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora