"E sei que estou apenas no início de um largo caminho de amor, que começa aqui dentro e exala cheiro de flores e confusões." Caio Fernando Abreu
Dorcas olhava fixamente para o chão da carruagem de Remus e segurava o casaco com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos.
—Está tudo bem com a senhorita? –Dorcas levantou a cabeça e observou Remus. Sentado no outro banco da carruagem, sua pose era completamente descontraída . Alguns fios de seu cabelo caiam desgrenhadamente na testa, a gravata estava solto no pescoço e o colarinho da camisa aberto, na mão segurava um copo de whisky pela metade. Como ele conseguia estar tão calmo depois daquela situação deplorável?
—Sim.
—Tem certeza? –Remus não costumava insistir com as pessoas, mas Dorcas claramente não estava bem. Seu rosto estava pálido, as bochechas vermelhas demais, o corpo encolhido no banco e a respiração descompassada.
—Eu já disse que está tudo bem. –O tom raivoso de Dorcas deixou claro para Remus: ela não estava nada bem.
—Ok. Tudo bem. –Remus decidiu lidar com aquela situação como lidava com os homens mais ricos que iam a seu clube: eles sempre tinham razão. Bastava concordar com eles e lhes dar o que queriam que ficavam satisfeito. Mas, o que Dorcas queria? Talvez uma bebida. –Tome.
Dorcas olhou de olhos cerrados para o copo que Remus a ofereceu. Um homem nunca tinha oferecido whisky para ela.
—Não, obrigada. Eu nunca tomei isso. Não é uma bebida de damas. –Apesar da resposta programada de Dorcas, era evidente a vontade dela de beber.
—Bem, eu não me importo com as regras sociais, pelo menos não agora. Beba. –Remus disse com um sorriso encantador.
—Obrigada. –Dorcas pegou o copo e começou a virá-lo.
—Calma aí. –Remus chegou perto de Dorcas e pegou o copo da mão dela. Ela tossia descompassadamente –Isso é forte. Se você beber de uma vez vai engasgar.
—Acho que eu percebi isso da pior forma possível. –Apesar das lágrimas nos olhos, Dorcas tinha um sorriso amigável no rosto e Remus teve certeza que ela era linda de qualquer forma.
—Sim. Melhor?
—Claro, obrigada. –Remus percebeu que ela estava realmente sendo sincera. –E me desculpe por fazê-lo ir para casa antes do programado.
—Sem problemas, senhorita. Não foi sua culpa, a Srta. Vance ficou deveras descontrolada.
—Bem, sim. Mas, você sabe que o que ela disse sobre meu vestido e joias é verdade. Até está me cortejando. –Diante da expressão de surpresa de Remus, Dorcas revirou os olhos. –Não finja que há outros motivos para querer casar comigo além do meu sangue azul.
—A senhorita é sincera. Gosto disso. –Remus fez uma pausa para organizar as ideias. –Realmente, estou te cortejando porque quero uma noiva de sangue azul, mas esse não é o único motivo. Há coisas mais importantes.
—Como o quê? –A curiosidade de Dorcas sempre vencia sobre sua discrição.
A carruagem parou e o cocheiro avisou-lhes que haviam chegado a mansão Meadowes.
—Posso lhe dizer amanhã em um passeio pelo parque. O quê acha?
Dorcas abriu a boca, mas voltou a fechá-la, afinal não sabia o que responder. Ela precisava se casar o mais rápido possível e o Sr. Lupin não lhe parecia mais um homem desqualificado e deplorável como a alta sociedade, às vezes, o classificava.
—Bem ...eu...
—Ora vamos, não pode ser tão ruim um passeio comigo.
—Somente porque o senhor me ajudou hoje eu aceito. – Remus abriu a porta e saiu para oferecer sua mão a Dorcas. –Eu... hã... terei de ficar com o seu paletó.
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Libertinamente Marotos
RomansLondres. 1830. Temporada Social. Essas três palavras conseguiam causar arrepios, bons ou ruins, em qualquer garota da nobreza inglesa. Especialmente por saberem que mais cedo ou mais tarde os Marotos deveriam escolher uma esposa. Marotos? Sim, os li...