𝟐𝟎 𝐝𝐞 𝐝𝐞𝐳𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟑𝟏

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O barulho dos passos contra a pedra britada era a única coisa que os dois conseguiam focar, além da luz das lanternas que vinham de trás, eles corriam pela extensão da estação de trem mais antiga de Segeul. Aya ia na frente, tentando impedir que as tranças cobrissem a visão e Wooseok seguia logo atrás, dando passadas largas e garantindo que ninguém se aproxime demais.

A pistola estava firme em suas mãos, o coração acelerado pela adrenalina da fuga que foi armada de última hora.

Queria poder dizer que tudo havia saído como planejado depois do dia em que encontraram Hwitaek e Micha, mas tudo havia estagnado a partir dali. Os meses foram tranquilos, Aya estava conseguindo se manter escondida colocando piercings no estúdio da mulher ruiva e intimidante, uma risada irônica tomava seus lábios sempre que lembrava de sua mãe a dizendo que aquele curso nunca serviria para nada — Seu guarda-costas havia sido sua primeira cobaia e agora ele desfilava por aí uma argola prateada no lábio inferior.

Já Wooseok passava suas noites cuidando do bar de seus amigos e evitando arruaceiros e cães amordaçados — Como eles carinhosamente apelidaram os militares.

Logo o centro de reabilitação estava pronto e não agradava muito. Pessoas estavam sendo presas apenas por expressarem uma opinião contra a ditadura. Artistas, músicos, escritores e ativistas foram pegos um por um e levados para o novo complexo. Tudo para evitar que uma revolução se incendeie, essa era a mensagem escondia atrás do lema de ordem em primeiro lugar.

O casal aproveitava dos seus momentos juntos e ficavam escondidos durante o dia, planejando aos poucos o momento em que fugiriam para o interior, fazendo planos para a época favoritas dos dois — o natal. Não conseguiram entender onde erraram ou como descobriram o trajeto que fariam, tinham uma vaga ideia de que isso tinha a ver com o sumiço recente de Micha que estava incomunicável a muitos dias.

Quando estavam chegando na estação os furgões dos militares os cercaram, por pouco Wooseok não perdeu o controle do carro que derrapou por causa da pista molhada pela chuva quando ele pisou no freio para não bater no bloqueio que os dois jipes faziam. Os dois se desvencilharam do cinto de segurança e saíram correndo sem ao menos olhar para trás. Conseguiram correr em direção aos trilhos antes que pudessem reagir ou apontar os fuzis. Tiveram que abandonar o carro e seguir a pé, dando graças aos céus por estar escuro.

— Se espalhem, eles não vão conseguir ir longe.

A voz do homem fez Wooseok estremecer, ainda correndo ao encalço de Aya para longe do campo de visão dos cães amordaçados com as lanternas das armas iluminado todo o lugar com os feixes de luz branca.

A estação não é um lugar que pode ser chamado de vivo, ainda funcionava, mas só para certos tipos de carregamento, o lugar se tornou sombrio e solitário assim que a maioria dos transportes passaram a ser feitos através de dutos. Vários trens estão parados há anos naquele lugar, enferrujando e vendo o tempo passar, mas agora era um obstáculo para os militares que tinham que procurar dois jovens adultos em meio a um labirinto de metal velho e escuro.

— Nosso trem não vai demorar a sair, temos que continuar nos movendo. — Mesmo respirando com dificuldade Aya assentiu, se abaixando para ao menos conseguir formar uma frase sem vomitar o que havia comido mais cedo.

— Me dá só um minuto, gato. — O sussurro saiu tão baixo que ela não soube como Wooseok conseguiu ouvir.

— Queria poder te dar todo o tempo do mundo, mas não temos um minuto. — Foi tudo o que conseguiu dizer enquanto espiava pelo vão formado entre dois vagões fora dos trilhos que serviu de cobertura para os dois na correria, havia um soldado perto que virou a lanterna na direção do vagão bem na hora e o guarda-costas se moveu de volta pra a cobertura em reflexo. — Espero que todos os jogos stealth* que eu joguei sirvam para algo. Infelizmente eu não sou ágil como a Ellie.

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