𝟏𝟐 𝐝𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟑𝟑

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Diga o nome deles.

Essa frase ecoava pelas ruas da capital, em um apelo que não havia como ser ignorado.

Verão e ouvirão o que temos a dizer.

Nos últimos dois anos muitas pessoas foram levadas para o centro de reabilitação, um lugar que não se sabe quase nada além do nome. Todos sem justificativas, sem qualquer parecer além de uma carta para as famílias explicando o que havia acontecido. As pessoas começaram a temer aquele envelope verde que chegava de surpresa, dizendo que seus entes queridos estavam sob custódia do governo.

Os meses depois da prisão de Changgu foram difíceis, ainda tinham muito o que organizar, mas finalmente o dia havia chegado e o que começou como um grupo pequeno andando pelas ruas de Segeul se tornou uma grande multidão, um coro de vozes que não foi ignorado.

Os sinalizadores de fumaça se espalhavam pela rua em frente o parlamento e em questão de minutos o que parecia que seria pacífico se tornou um grande caos. Pessoas corriam e berravam por todos os lados, batendo de frente com a barreira feita pelos militares e os provocando, placas e mais placas com fotos daqueles que foram levados eram erguidas em meio a fumaça e o barulho dos fogos, bem no meio de tudo aquilo havia um grande cartaz com um rosto conhecido desenhado com diversas cores, mas ainda sim impossível de não reconhecer o rosto severo de Effie Kanope.

Os soldados não haviam recebido as ordens para interferir ainda, como se quisessem fingir que aquilo não podia afetá-los, mas do lado de dentro homens em seus ternos andavam de um lado para o outro ao ponto de ter seus tornozelos doloridos.

— Yuto! Os jornalistas chegaram. — Foi tudo o que bastou para um sorriso crescer nos lábios do rapaz alto, o que não estava sendo algo comum, já que nas últimas semanas seu rosto carregava uma carranca, seus olhos brilharam mesmo com toda a fumaça e por um mero segundo sua aparência intimidadora deixou de existir. As coisas estavam funcionando de acordo com o plano e ele esperava que continuasse assim.

— Valeu por avisar, Shinwon. — O rapaz apenas assente e sobe a máscara que cobre sua boca, passando a mão pelo cabelo castanho logo em seguida e sumindo no meio da bagunça sem se despedir. — Hora de fazer barulho.

Yuto assentiu para ele mesmo e seguiu para uma parte da rua onde havia menos fumaça, queria que o vissem, então subindo em cima de um carro sem muita dificuldade ele ligou o megafone que estava em suas mãos. A tarde estava ensolarada apesar do frio e os fios azuis de Yuto se destacavam pelas suas roupas escuras, havia pintado há uma semana pelo único motivo de ter se lembrado de Changgu e Micha e como eles viviam pedindo para que ele ousasse mais em sua aparência.

O sorriso foi inevitável ao lembrar da ruiva balançando a máquina de tatuagem em mãos como um desafio com um Changgu já alterado pelo álcool rindo das palhaçadas da mais velha e falando que só pintar o cabelo já era um bom começo. Contudo, ele só tinha suas lembranças agora e elas doíam tanto quanto um soco bem dado em seu estômago.

E de uma vez por todas, engoliu sua timidez e falou para a multidão crescente na frente do parlamento:

— Caros amigos! — A voz grave dele se sobressai por cima de todo o barulho e todos os olhares se voltaram para sua figura no teto de um carro. — Fomos silenciados por muito tempo, mas hoje eles vão ter que escutar o que temos a dizer.

Os gritos se espalham por todo o quarteirão em concordância e os militares fizeram questão de aumentar o aperto nos escudos por garantia.

— Coisas muito importantes foram tiradas de nós. Amigos, família, nossa liberdade e até mesmo nossa voz. E o que recebemos em troca? Frases prontas e intolerantes sobre ordem e envelopes verdes. — O som das vaias se espalha no mesmo segundo. — Vamos ficar quietos enquanto eles escondem que levam e torturam o próprio povo no meio do deserto?

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