"Eu gostaria de voltar, voltar para aqueles velhos tempos onde éramos crianças felizes sem nos preocuparmos com o amanhã. Sem corridas constantes e guerras contra um sistema que só nos sufoca, uma época em que podíamos gritar nossa insatisfação em plenos pulmões sem sermos espancados por isso.
O que está disposto a fazer pelo seu país?
Essa é a pergunta sempre causará discordância, muitos correm com medo, outros dão a cara a tapa na primeira oportunidade, mas todos queremos voltar para os dias em que podíamos apenas ser jovens sem causa e insatisfeitos apenas porque podíamos.
Os anos passam e o silêncio está se tornando ensurdecedor e quanto mais desejamos voltar, mais esquecemos do presente e deixamos que nos silencie. Um ano foi mais que suficiente para apagar o resto de tinta colorida na fachada branca da estação de tv. Então acho que é melhor mudar o tom dessa pergunta porque patriotismo nem sempre é efetivo.
O que está disposto a fazer pela sua própria voz?"
Hyunggu suspirou e estalou os dedos ao se levantar e sair da frente do computador. Seus textos estavam ficando mais curtos, o que um dia foram páginas repletas de ideais e críticas com dados e fundamentos estava se tornando uma suplica, um apelo jogado a fantasmas que liam seus textos clandestinos e não se manifestavam desde que o governo demonstrou total repudio ao que ele escrevia, nas palavras deles, eram escritos criminosos e mentirosos do escritor anônimo conhecido por Kino.
Ele ficou muito conhecido nos últimos anos. Seus textos rodavam por todas as redes sociais, mas ele tinha a plena certeza de que grande parte daquilo era por causa de todo o mistério em volta de quem ele era, já havia vários chutes rodando por aí e nenhum chegou perto. Ninguém imagina que o rapaz que mora no 501 do prédio escondido abaixo do viaduto, aquele mesmo, o alto, moreno, com cabelos escuros e macios e sorriso doce que roubava suspiros da sua vizinha do lado ao sair todas as manhãs para o trabalho é, na verdade, o escritor que o governo tanto tem interesse em calar.
A verdade era que Kang Hyunggu não fazia ideia de como ainda não haviam o rastreado, apostava na sorte que tinha mesmo, porque toda e qualquer precaução sempre será pouca comparado a todo o equipamento que os militares possuem e ele não entendia tanto de computadores assim. Nunca fez o que fez buscando ser reconhecido, queria permanecer nas sombras, mas sabia do risco e continuaria o correndo até que fosse preciso fugir definitivamente.
Um suspiro deixa seus lábios e as mãos vão para os olhos pequenos pelo sono, os coçando para afastar a vontade de se arrastar de volta para de baixo dos cobertores.
— Acho melhor postar isso antes que eu me atrase. — Disse para as paredes, voltando para a frente do computador para publicar seu pequeno texto em qualquer rede social. São poucos segundos até que os números de visualizações começaram a subir, mesmo que ainda seja de manhã cedo.
Hyunggu deixa o notebook ligado e apenas o fecha sobre a mesa, indo direto para o banheiro para se arrumar e espantar o sono de vez em baixo da água gelada. Havia acordado cedo demais, então tinha tempo de sobra até ter que ir para a empresa, aproveitou a sensação da água gelada relaxando seus músculos e a pressão do chuveiro, cantarolando a primeira música que vem à cabeça e tentando não pensar demais sobre como resolveria o problema do gerador daquele prédio enorme onde trabalha.
Os minutos voam naquela parte do dia e antes que perceba já está na hora de sair, caso contrário perderia o ônibus. Se vestiu correndo, sem se preocupar muito em como se parece ou com o cabelo molhado colando em seu rosto, pegou suas coisas, desligou as luzes e correu em direção a porta, estava pronto para destrancar quando ouviu as batidas vindo do outro lado.
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Basquiat » » Pentagon
Hayran Kurgu"Se a rebelião tem uma voz, então a faremos ser ouvida." Segeul havia acabado de se tornar um país independente quando a república que mal havia se consolidado colapsou. Os militares junto de influentes políticos deram um golpe de estado e tomaram o...