Capítulo 16

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Blake

Eu estou terminando minha comida quando a jornalista anuncia que a dona dessa empresa iria começar a entrevista, eu não dou muita atenção e continuo comendo de cabeca baixa, nada desse povo granfino me interessa. Mas de repente eu ouço uma voz que me faz ficar estático, sem ação e sem coragem para levantar a cabeca.

Boa Tarde! Como todos vocês já sabem eu sou a dona e fundadora da Napolitanos, e nem nos meus piores pesadelos imaginei passar por uma situação como aquela, como também nunca imaginei receber tanto amor e carinho. Por isso, eu gostaria de agradecer pelo apoio de todos. Nós da Napolitanos estamos tentando ser fortes para conseguir superar esse momento. Muito obrigada!

Ela termina de falar e eu tomo coragem e levanto a cabeça. É ela. É a minha irmã, a minha Elisa. Eu não consigo fazer nada, não consigo me levantar, não consigo gritar, não consigo ao menos falar. 

- A gente precisa conversar irmão.

Diz o Jason chegando próximo a mim. Eu não me movo para olhar para ele, estou inerte no mundo, como se existisse apenas eu e aquela televisão que mostra a imagem da pessoa que eu mais amo na vida.

- Caramba! Você já sabe.

Ele diz baixo, como se dissesse apenas para ele. Eu queria perguntar se ele já sabia mas isso não importa agora. Eu me levanto esquecendo das pessoas ao meu lado e vou em direção as mesas de cinuca que ficam ao lado do balcão das bebidas e onde é possível assistir melhor a televisão. 

Nós somos uma equipe, antes de nos preocuparmos com os lucros, nos preocupamos com o ser humano, tanto os que trabalham conosco quanto os que adquirem os nossos serviços. Então, o mais importante agora é a segurança deles e não os possíveis prejuízos.

Ela diz como resposta a uma pergunta de uma jornalista. Ela tá tão linda, tão dona de si e... Sobreviveu a mim. Penso deixando as lágrimas caírem de meus olhos. Ela está bem, não tem sensação melhor do que saber que ela ainda está viva e bem. 

Eu choro. Choro muito. Deixando as lágrimas banharem toda essa dor e esse remorso. Não me preocupo e nem me envergonho se tem gente vendo. 

- Calma cara! O mais importante é que nós a achamos. Está tudo bem agora. 

O Jason fala enquanto me dá um forte abraço e eu me deixo levar pela emoção e choro ainda mais. 

Depois de um tempo apenas assistindo aquelas imagens e sem conseguir falar nada, eu então percebo que preciso ver ela pessoalmente. Eu preciso ir até ela.

- Onde está acontecendo isso? Você sabe? 

Pergunto ao Momoa me referindo a entrevista.

- Em Nova Iorque mas você não precisa ir até lá. Ela já está vindo.

O Momoa fala e eu retiro por um minuto meu olho da televisão e olho pra ele.

-Está?

Pergunto confuso. 

- Está. Foi por isso que eu te chamei aqui. Dias atrás eu vi uma reportagem sobre ela e mostrei para o Evans.

Ele diz e eu enlouqueço de raiva. 

- Pro Evans? Mas que merda e porque não pra mim?

Pergunto.

- Porque esse é um assunto muito delicado, ela poderia nem querer ouvir falar no nome de vocês. O Evans é uma pessoa neutra na história que poderia fazer essa ponte. 

Ele diz explicando e mesmo sabendo que ele tem razão a minha raiva não diminue. 

- Mesmo assim. Eu sou o irmão dela porra. 

Digo. 

- Pois é. O que piora ainda mais a situação. E eu não preciso dizer o motivo não é? 

Ele fala e eu me calo. Ele tem razão, de todas as pessoas que poderiam destruir a Elisa, eu era a última que nunca deveria ter feito aquilo. 

- Não queria jogar isso na sua cara mas...

Ele diz sentado a minha frente me observando. 

- Eu sei. É a verdade. Não tem como fugir dela. 

Digo e vejo a entrevista sendo encerrada, uma pena porque eu queria que ela tivesse continuado. Queria continuar vendo ela. Matar um pouco a saudade. E tomando coragem para fazer uma pergunta que talvez a resposta me machuque muito.

- Ela vem mesmo? De verdade?

Pergunto.

- Sim.

OJason responde.

- Ela quer nos reencontrar?

Pergunto.

- Sim. 

Ele diz e eu me emociono. Isso deve ser um sinal que ela não odeie tanto assim.

- Ela não te odeia irmão.

Ele diz adivinhando os meus pensamentos. 

Volto a direcionar meu olhar para a tela da televisão onde voltou a aparecer apenas a imagem da minha irmã, seu olhar apesar de alegre esconde um pouco de tristeza dentro dele e eu sei que eu sou o culpado por isso. Mas de uma coisa eu tenho certeza, a partir de agora vou cuidar da Elisa até com a minha própria vida, vou ser o irmão que ela merece ter. A reportagem se encerra definitivamente, e me lembro que existem duas pessoas que sonham com esse reencontro tanto quanto eu. 

Me despeço do Momoa que enciste em ir comigo mas digo que não precisa que estou bem, quero dar essa notícia pessoalmente aos meus pais, olhando nos olhos deles. Dirijo o mais rápido que posso para casa e assim que chego, penso que falta pouco para termos ela conosco, para toda essa dor e tristeza sair dos cantos da nossa casa e da nossa alma, e dar espaço para um pouco de felicidade.

Entro em casa e meu pai está deitado em sua poltrona cochilando com um livreto de palavras cruzadas aberto em seu colo, resolvo não acordá-lo e vou em direção a cozinha, onde minha mãe deve estar. Dentro do meu coração está uma mistura de alegria e desespero que é quase impossível controlar as lágrimas, ao chegar na cozinha avisto minha mãe de costas mexendo uma panela, ao sentir minha presença ela se vira com seu sorriso doce mas ao mesmo tempo apagado. 

Desde que a Elisa foi embora, ninguém mais sorriu de verdade nessa casa.

- Meu filho, você já chegou. Estou aqui terminando um cozido de carne com verduras, pelo cheiro deve estar uma delícia, pegue um prato pra mim colocar um pouco para...

Ela começa a falar mas para quando percebe que há algo de errado comigo.

- Tudo bem meu filho? Aconteceu alguma coisa?

Ela pergunta preocupada e eu não consigo segurar o impulso de ir até ela, a abraçar forte e chorar. Ela por diversas vezes me perguntou preocupada o que estava acontecendo, mas eu não conseguia falar nada, queria apenas chorar e poder tirar toda aquela dor e aquele remorso que me corroem nos últimos três anos.

- Eu a encontrei mãe. A Elisa vai voltar. 

Eu disse ainda abraçado a minha mãe. Pensei que nunca fosse dizer essas palavras, houve um momento em que pensei que nunca mais voltaria a ver minha irmã. Minha mãe começou também a chorar e a agradecer a Deus. Tivemos que encerrar o abraço assim que a voz do meu pai ecoou pela cozinha.

- Como ela está?

Ele perguntou nervoso e muito preocupado, olhei nos olhos deles e depois nos de minha mãe, que esperavam ansiosos pela resposta, lembrei de sua imagem na televisão e do quanto demonstrava força pelas palavras e disse. 

- Linda! Muito linda.


Um Amor Ameaçado Pelo ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora