New Year's Day. (Girafa)

True

Flavina passou os três dias que se seguiram sem trocar nem uma palavra, na quinta-feira, acordei de manhã com uma mensagem dizendo que teríamos gravação para um programa a noite, que ela passaria aqui e que depois disso iríamos cada qual para o seu canto novamente.

Me arrumei e ao entrar em seu carro, no banco da frente Daniel me olhou, seus olhos tímidos quase se fechando e mal conseguindo me olhar.

-O que ele está fazendo aqui?

-Ele é seu namorado para todos os meios, espero que você entenda isso Rafaella.

-Ele não é meu namorado.

-O seu contrato diz que sim e sinto muito que você não saiba manter um contrato.

-Rafa eu sinto...

Daniel começou a dizer, mas coloquei meus fones de ouvido e o ignorei, não queria saber de nada que tivesse a ver com os dois, não queria saber de quaisquer palavras que saíssem de suas bocas.

Passei o caminho quieta no banco de trás olhando a paisagem e trocando mensagens com Gizelly.

Esses últimos dias temos conversado sempre que conseguimos, e pelo menos uma hora antes de dormir fazemos chamadas de vídeo, cada conversa que passa sinto mais saudade e vontade de estar ao lado dela.

Antes de sairmos do carro, Flavina trancou as portas e me encarou.

-Não se esqueça de tudo o que você tem a perder, eu entendo que você não queira mais olhar na minha cara, mas sejamos profissionais Rafaella.

Não havia o que eu dizer, além de concordar e andar de mãos dadas até o estúdio.

***

Estava diante dela agora, as câmeras todas com as luzes piscando e a luz colorida refletindo em nós, minhas mãos suavam e não tinha mais como eu desviar o assunto.

Respirei fundo e fingi um sorriso largo e tímido.

-Ele sabe de tudo já. -Falei baixinho.

-Ah, mas é sempre bom...—Ela riu me pressionando. -Os homens gostam quando a gente fala para todo mundo o que sente por ele.

Respirei fundo queria correr, queria sumir dali.

-Lembre-se que você tem um contrato Rafaella. -Ouvi a voz de Flavina falando dentro da minha cabeça. -Lembre-se que você é obrigada a isso.

Ela estava certa, nosso contrato especificava que eu precisava ser convincente com o nosso relacionamento, se eu falhasse ou quebrasse o contrato como eu gostaria de fazer, haveria uma multa contratual gigantesca, eu perderia tudo, minha casa, minha marca... Mas eu queria. Eu queria jogar o contrato pro ar, dizer que eu não sou quem acham que eu sou e simplesmente... Ser eu.

Olhei para a câmera e senti um frio na barriga, senti como se todos os olhares estivessem em mim, abri a boca para tentar falar e nada saia.

Como fazer uma declaração para um homem que eu não sentia nada? Absolutamente nada.

Fechei os olhos e esperei por alguma coisa.

-Rafa?—A voz de Daniel surgiu em meu ouvido através do ponto. -Pense nela, finja que eu sou ela e que você não está se declarando para mim.

Abri os olhos e um sorriso enorme surgiu em meus lábios.

-Pense em todas as coisas que passaram e que gostaria de lhe dizer, assim vai ser mais fácil.

Olhei para a câmera, o meu sorriso enorme e as palavras fluíam.

-Desde que lhe conheci naquela festa minha vida tem caminhado diferente, eu sinto que pela primeira vez na vida eu tenho alguém com quem posso ser eu mesma, eu sinto que você me abriu caminhos que jamais pensei percorrer, você me permite ser eu mesma em um ambiente onde pessoas não se importam com a felicidade, não se estiverem bem.