Out of the woods

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Olhei para fora do quarto com certa dificuldade, na janela as duas conversavam Gizelly (que se apresentou com lágrimas nos olhos) gesticulava com veemência, seus olhos inchados ainda estavam vermelhos.

Gizelly estava em uma cadeira de rodas e um braço engessado, ela tinha uma beleza natural e de tirar o fôlego, mesmo com todos os cortes pelo corpo.

Doutora Silvia, tentava acalma-la, ela dissera que eu havia sofrido uma batida muito forte e o coma pode ter afetado minha memória e ainda não sabemos se a de curto ou longo prazo...

Lembro-me de meu nome, de toda a minha família e de toda a minha vida, mas não lembro números de telefone ou o endereço da minha casa, nem quem é Gizelly e o que estávamos fazendo juntas em uma estrada.

Talvez fôssemos amigas? Talvez... mas me parecia algo alem da amizade a forma como ela me olha e a forma como chora por minhas memórias perdidas.

Talvez essa tal de Gizelly fosse... bom e talvez ela gostasse de mim, não?

Mas o que eu estava fazendo com ela e porque raios ninguém da minha família está aqui? Aparentemente estou em coma a mais de uma semana e ninguém veio me ver.

Gizelly entrou no quarto bufando com Doutora Silvia empurrando a cadeira, em seu rosto ela trazia um bico emburrado e os braços cruzados no peito.

-Onde está meu celular? Posso não me lembrar de muita coisa, mas sei que jamais sairia sem ele.

-Nossos celulares destruíram no carro, por isso ainda não consegui entrar em contato com ninguém.

-Ah. Olhei para Gizelly, seus olhos estavam inchados demais.

-Mas se você lembrou de algum número eu posso emprestar meu celular. Doutora Silvia sorriu.

-Não, desculpe.

-Não precisa se desculpar meu amor...  digo Rafa.

Senti um nó no estômago, Gizelly me chamava muito de amor, o que é estranho para alguém que eu não conheço.

-Qual a última coisa que você se lembra?

Ela me perguntou assim que a a doutora saiu da sala, tentei me lembrar e olhei para ela.

-Me lembro de estar no mercado com Daniel...

-Mercado?

-Sim, havíamos acabado de sair do avião e fomos direto para o mercado, onde ele está? Perguntei preocupada.

-Você lembra de Daniel?

-Claro que lembro, ele é meu namorado.

-Seu name... Gizelly parecia engolir o choro. -Você o ama?

-Para ser sincera? Não sei dizer... Dei de ombros e isso doeu. -Eu devo amar, não?

-O que você lembra desse ano? Ela perguntou.

-Lembro da festa de ano novo.

-Lembra? Gizelly perguntou animada demais.

-Sim, lembro pouca coisa, devo ter ficado bêbada demais, foi onde conheci Daniel, lembro de ir a bares e lembro de um fim de semana maravilhoso na praia com minha família, Daniel alugou um barco...

-Algo mais?

-Não sei... Fechei os olhos sentindo minha cabeça latejar. -Eu sinto que tem algo faltando e não apenas sobre esse acidente, mas sinto como se um pedaço de mim está faltando sabe? Como se eu tivesse amado alguma coisa e... ela não está mais aqui.

-Eu imagino o que possa ser. Sua voz não passava de um sussurro e não entendi direito o que ela disse.

-O que?

New Year's Day. (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora