Emboscada

215 36 45
                                    

O dia estava bonito e quente, como nas manhãs anteriores ao encontro de Juyeon e Eric. A brisa soprava calma entre os galhos bem iluminados e não havia trilha, ou algum horizonte aberto em que os dois viajantes pudessem ver de fato por onde iam. Contudo eles mantinham a calma e atravessavam a vegetação, indo para sudoeste. Dentro do coração de ambos um misto de alívio e ansiedade. Alívio por poderem desfrutar da calmaria do caminho depois de uma terrível perseguição.

Ansiedade por não saber ao certo como agir ou o que de fato precisa vir depois de um beijo. Mais precisamente, o beijo que os dois compartilharam mais cedo. Juyeon esperava que o mais novo pudesse corresponder seus sentimentos mais puros, mesmo sabendo que, dadas as circunstâncias, não havia tempo para aquilo. Então ele se concentrou, percebendo que se aquela busca sucedesse e Eric estivesse satisfeito, ele também estaria. Manteve-se por perto, sendo sempre gentil e bondoso com aquele que salvara sua mãe e a si mesmo da paralisia e da melancolia. E, ainda instintivo, o qareen respondeu à sua gentileza, sorrindo e tomando mais otimismo para si. O beijo de Juyeon o tinha feito se sentir tão mais leve e era uma sensação difícil de explicar, mas fluía como a seiva na árvore do lago, quando fez as flores desabrocharem.

E assim como no dia anterior, somente num contexto bem mais agradável, Eric deslizou a mão na do mais alto até que seus dedos se entrelaçaram.

Eles andaram por alguns minutos, comendo frutas pelo caminho e percebendo o relevo se tornar cada vez mais plano, sendo assim menos cansativo de continuar. Ambos conversaram sobre algumas aventuras que experienciaram antes de se conhecer (e para Eric, as histórias de Juyeon sobre o trabalho e pessoas que às vezes tentavam lhe enganar eram sim aventuras), mal perceberam o tempo passando.

Até que o mais novo parou de repente, como se tivesse ouvido algo e sua mão tencionou, apertando a de Juyeon enquanto ele encarava uma pequena clareira à sua frente, a qual eles tinham acabado de encontrar.

- O que houve...? - O Lee sussurrou e olhou ao redor, não vendo nada que fosse ameaça. Contudo o qareen continuava imóvel, pois percebia sons e via algumas sombras se moverem minimamente ao redor, atrás dos troncos. Foi quando eles se revelaram, um de cada vez, portando arcos e armados com flechas que apontavam para si. As capas azuis escuras indicavam que eram soldados do reino. Eles, silenciosamente, cercaram ambos os viajantes.

Então Sangyeon apareceu, por trás de um tronco de carvalho e caminhou ao lado de mais dois de seus homens até onde pudessem ser vistos, sob a luz do dia.

- Entreguem suas armas. - Aquela voz densa que Eric receava tanto ouvir de novo ordenou. A ordem que veio acompanhada daquele brilho no olhar que Eric receava tanto ver de novo, mas que ainda relembrava todos os dias. O qareen hesitou um pouco, manifestando sua revolta com o que parecia ser o desfecho de sua fuga, mas ele sabia que não havia mais escapatória. - Agora.

Eram muitos e nem todos os espinhos do mundo perfurariam a malha que usavam, portanto Eric franziu o cenho e largou a adaga-bússola à sua frente, logo olhando para Juyeon e esperando que fizesse o mesmo com a espada que portava e suas facas menores.

- Ótimo. - Sangyeon então ordenou que a comitiva se apressasse para tomar aquelas armas e capturar ambos, "traidor" e "fugitivo". Foi como falou.

Eric não suportava a decepção de ter deixado a própria liberdade escapar daquela maneira, então se manteve cabisbaixo enquanto uma mulher da guarda o algemava e o fazia andar, o afastando de seu então parceiro. O qareen o olhou com os olhos meio marejados antes de ser levado até Sangyeon, desejando apenas que os outros soldados não fizessem mal algum a Juyeon.

No momento seguinte, ambos foram escoltados até o acampamento da comitiva a oeste dali. Era onde estavam seus cavalos e algumas tendas; logo Eric percebeu que não estavam mais sendo seguidos, mas sim, o príncipe havia tomado vantagem o suficiente para montar uma emboscada, provavelmente durante a noite em que estiveram desacordados. Poderiam ter seguido seus rastros quando fugiram dos lobos.

The CastleOnde histórias criam vida. Descubra agora