Coração

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"Qareen meio-sangue". A voz da velha bruxa era tomada de surpresa quando ela revelou a Sangyeon a sua origem mágica. Ele tinha deixado o reino, coberto da cabeça aos pés após os primeiros sintomas azuis de magia saltarem de sua pele, assim tardiamente denunciando-o como não-humano; logo ele seguiu velhas informações reino afora, sem informar onde ia, nem a Jacob. Ele procurou por dias, em uma terra longínqua, pela única pessoa que pudesse ter aquela resposta sobre si mesmo. Era tudo o que Sangyeon mais desejava, mas quando a recebeu, não o fez sofrer menos. Tudo não era nada além de uma confirmação da condição que afastava o príncipe bastardo de sua família e agora da própria humanidade. Nunca havia conhecido sua mãe, foi tirado dela ainda bebê. Aquela mulher incógnita teria consigo mais respostas ainda, mas elas permaneceriam silenciosas para sempre.

Notando o desespero do príncipe, a bruxa ofereceu, em troca de mais algum punhado de ouro, aquela corrente escura e discreta. Enfeitiçada, ela iria conter seus poderes mágicos — eles não funcionariam e Sangyeon teria, sempre que a usasse, a aparência de sua parte humana. Então, assim, o príncipe escolheu se esconder, mas algo em seu coração não se encaixava e seu disfarce parecia cada vez mais sufocante, pois nada nunca mudaria e todos ainda o jugariam, independente de sua real e mais profunda origem. Ele voltou ao reino, amargurado e em crise, passou alguns dias sentindo aquilo e nem mesmo Jacob foi capaz de consolá-lo.

Contudo era poder que corria em suas veias, herdado e predestinado a ser usado. Quando completamente sozinho, Sangyeon os testava até entender do que poderia ser capaz. Ele também iniciou uma investigação secreta, lendo livros sobre magia e seguindo boatos acerca de outros sujeitos que fossem fantasticamente dotados, subornando pessoas, trocando ouro por informações. À princípio era um esforço para ter noção de quem de fato era a sua mãe, mas foi desse modo conheceu Eric e o aprisionou, mesmo convencido de que o destino deles estava entrelaçado, que Eric o libertaria eventualmente, e por isso ele estava ali. 

Passou a se tratar de um plano maior de vingança pelos seus sentimentos nunca compreendidos, nem mesmo pelo seu amante e pessoa mais próxima que possuía de si. Jacob nunca entenderia o quanto Sangyeon quis simplesmente que fugissem juntos, e que também sabia que isso nunca seria o suficiente. A existência do príncipe ia além dos desejos de seu braço direito e doía. Doía mais que tudo, portanto Sangyeon se deixou levar pela busca a Eric, abusando da desculpa em tomar o tesouro de Sori, apenas para que sua viagem fosse protegida dos habitantes da floresta. Assegurada. Assim como seu trono, aquele que realmente lhe pertencia.

Sentindo pela primeira vez em bastante tempo a magia fluir pelo seu corpo, Sangyeon permitiu que ela falasse mais alto e arrancasse o corpo de Eric da sua frente, sem que ao menos tocasse nele. O mais novo se chocou contra uma estante e caiu, liberando o espaço para que o príncipe bastardo se aproximasse do dono, pegando a coroa prateada com as mãos marcadas de manchas luminosas e coroando a si mesmo.

Jacob deu mais alguns passos para frente, sua expressão inocente refletia a sua ignorância sobre tudo o que acontecia naquele momento. Então Younghoon apareceu ao seu lado, se curvando perante Sangyeon numa ação quase programada.

— O que está acontecendo? — A esse ponto, o Bae já sabia, mas estava amedrontado o suficiente pela figura real a sua frente para que percebesse sozinho.

— Esse poderia ter sido nosso reino, Jacob — Sangyeon falava enquanto mais três elfos entravam na sala, também se curvando. Apenas o paladino permaneceu de pé, era o gosto da traição que sentia, de tão amarga? Seus lábios entreabertos e o olhar apavorado — Nós dois pertencemos a mundos diferentes, independente da minha vontade, nunca seremos um do outro. Vá embora agora, e assim seja pela própria vontade.

O nó na garganta de Jacob só apertou mais ainda. Em volta de cada elfo presente, surgia uma luz fraca que tomava corpo até que surgissem armas, escudos em suas mãos, elmos em suas cabeças. Seus rostos ainda frios e pálidos, agora demonstravam servidão ao novo rei. 

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