A chuva

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Eric podia sentir o frio da noite em seus ossos enquanto dormia. Em seu sono, ele percorria lugares escuros usando a espada-bússola para iluminar as sombras, completamente perdido, exceto pelo brilho que lhe guiava. Foi quando sentiu uma forte presença que fez sua nuca arrepiar. No seu sonho, ele olhou para trás e viu uma figura alta e esguia, coberta num manto preto. Era um homem de rosto circular e sobrancelhas grossas, sua pele era alva e as orelhas muito pontiagudas e esticadas, como um elfo. Seus cabelos lisos e escuros caíam até próximo a sua cintura. Eric parava de andar e esperava, sentindo-se ameaçado por aquela presença.

— Qareen… — disse o elfo, descansando uma mão na outra — estive esperando por você. Por muito tempo.

— Eu não conheço você… — Eric falou, um tanto amedrontado pela figura sombria. 

— Claro que não. Você não conhece nem a si mesmo, quanto mais a mim. — Retrucou o outro, abrindo um pouco os olhos de onde surgia um brilho amarelo. Eric estremeceu. — Mas não tema, não estou aqui para fazer mal, eu só existo. Como muitos outros de mim, e estou ligado a você. Esperando pelo seu sábio julgamento…

O elfo sombrio fez uma rápida reverência na frente de Eric e desapareceu junto às sombras, então tudo ficou escuro até que ele acordou no saco de dormir. O dia estava frio e sem sol, e Juyeon separava algumas maçãs para ambos.

— Coma rápido. Precisamos seguir. — Disse o Lee já ocupado em reunir seus pertences na mochila e embainhar a própria espada. Seus olhos estavam um pouco avermelhados por ter passado a noite em vigília. — Eu teria mais paciência, mas depois de sua história ontem, finalmente me percebo como traidor da Coroa.

— Mas isso quer dizer que…

— Não… Promessa é promessa. E eu prometi ir com você. — Juyeon deu a mão para que Eric se levantasse e logo estavam de volta à trilha.

A neblina os cercava, assim com o canto das cigarras. A mata começava a ficar mais densa conforme Juyeon e Eric saíam dos limites do reino, indo de encontro com a floresta inexplorada. Infelizmente, dessa vez estavam sem a ajuda precisa da adaga, cujo brilho ambos descobriram apenas funcionar durante a noite, assim como o brilho nos olhos do qareen. Portanto relembraram as direções e seguiram sudoeste, também se distanciando do rio que acharam que seguiriam.

Juyeon também notou que, de um dia para o outro, a energia do garoto ao seu lado tinha diminuído.

— Eu tive um sonho estranho hoje — falou Eric, sentindo o silêncio que ele mesmo causara — sonhei com um elfo. Ele era um elfo insolente.

— Você já viu um elfo? — Juyeon perguntou.

— Nunca. Mas já ouvi falar que existem, ou que existiram a muito tempo atrás. Que eles travavam guerras e eram muito espertos, mas só isso.

— Bom… — Juyeon suspirou, ouvindo o qareen — Eu espero que esse sonho não te assombre durante nossa viagem. A noite a floresta é assustadora e escura, talvez dormindo de dia você não tenha mais sonhos assim…

Eric sorriu, um pouco sem expressão, tentando deixar passar essa preocupação e dar de conta de outras, olhando para trás a cada dúzia de passos que dava. O qareen pensava no príncipe bastardo e sua comitiva de homens, todos montados em cavalos, tão rápidos como o vento. Talvez nem tivessem acampado entre um dia e outro como ele mesmo fez. 

Pensava em como Sangyeon o ameaçaria até que o mostrasse o caminho, caso o encontrasse nos próximos dias. O faria carregar todo o ouro e depois o descartaria. Era isso o que mais temia — a completa reprovação vinda daqueles olhos cor de avelã. Ou dos punhos fortes e autoritários que sempre pareciam esconder algo dentro de si. Eric também temia saber bem menos que o príncipe. 

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