O lago

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Quando a chuva cessou, já era noite e Juyeon e Eric seguiam na trilha, apontando a lâmina brilhosa da adaga para sudoeste e percebendo que vez ou outra ela os mandava em direções um pouco diferentes, como se soubesse o melhor caminho e os atalhos que eles poderiam percorrer. De fato as direções eram sempre melhores quando seguidas pelo brilho da lâmina.

Mas os dois viajantes estavam sujos e cansados, e também preocupados demais para reclamar sobre esse fato. O mais velho seguiu protegendo o mais novo da chuva até que não precisasse mais, entretanto isso não impediu que suas botas enchessem da lama onde afundavam um pouquinho enquanto andavam.

— Se antes a chuva apagou nossos rastros, agora essa lama vai desenhar nossas pegadas bem direitinho… — Eric falou, cansado e desapontado. Segurava no braço longo de Juyeon para se apoiar melhor enquanto andava. Já esse segundo não se abalava, estava acostumado com a lama e com os dias de caça na floresta em que ficava sem dormir. A única diferença era que dessa vez ele também era caçado, pois tinha consigo aquela companhia especial.

— Quer saber… Se não me engano tem um lago por aqui, pelo o que os mapas do meu pai apontavam. Podemos lavar nossas roupas e nos banhar.

— Seria ótimo! — As bochechas redondas de Eric levantaram com a ideia. Juyeon percebeu seus olhos azuis brilhantes acendendo um pouco mais. — A quanto tempo não tomo banho de lago!

O Lee percebia o apreço pela natureza que o mais novo tinha desde que conversaram sobre os dons de Eric na noite anterior. O mais alto ali sabia, de algum modo que também poderia ser uma intuição, que os poderes do outro tinham a ver com a proximidade da floresta: ele não sabia que seus olhos podiam brilhar no escuro até estar ali. Mas havia outra coisa que mexia com Juyeon: sobre quando o qareen falou sobre não se sentir sozinho. Ele não tinha certeza se era sobre eles dois, fazendo companhia um ao outro, ou se era algo mais. Outras presenças na floresta que ele não podia ver pois era humano, mas quais? 

Tudo isso passou de novo pela cabeça do camponês enquanto ele se livrava das próprias roupas, entrando no lago que eles tinham acabado de achar.

A água era calma e não muito extensa, também não muito funda, havia algumas algas ao redor e também a luz forte da lua cheia que refletia nas pequenas ondas ali. Os vagalumes sobrevoavam a água, vez por outra pousando sobre os lírios pálidos que enfeitavam o entorno do lago.

Nudez não era grande coisa para Juyeon, nem para as pessoas que conhecia, portanto ele não se incomodou em entrar ali como veio ao mundo, focado em lavar suas roupas e a si mesmo. Mal percebeu quando Eric parou na borda, hesitante.

Ele não costumava se despir assim tão tranquilamente, principalmente pois seu peito era marcado com um símbolo, algo tão secreto e tão peculiar de si mesmo. Mas não era isso que o mantinha estático na beira do lago, afinal o mais velho já sabia seu segredo, até tinha visto a marca, a adaga, os olhos… Eric só não queria admitir que estava com vergonha, ainda mais ao se deparar com a bela imagem do corpo do mais velho. Se olhasse demais, o loiro pensava, poderia constrangê-lo também.

— Achei que gostasse de tomar banho — Juyeon disse enquanto esfregava a própria camisa contra uma pedra, seus músculos saltando com aquele movimento.

— Eu gosto, mas… Você pode se virar um instante…?

Juyeon sorriu, finalmente entendendo o motivo da demora e se virou, parando um pouco o que fazia. Logo o Eric tirou a capa, as calças, camisa e sapatos, entrando no lago e submergindo na parte mais funda onde seu corpo era coberto pela água escura. Ali ele encontrou outra pedra onde se colocou a lavar suas roupas também.

— Pode virar…

— Desculpa, eu não queria te constranger — disse Juyeon de prontidão ao se virar, mantendo com respeito a distância que o mais novo criou — só vamos ser rápidos, tá? 

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