Onde a colina acaba

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Mais um dia na estrada e logo o portão estaria à sua frente. Eric se recusava a tentar imaginar como seria, pois os pensamentos lhe roubavam o sono durante o dia (o turno que tinha para descansar). Num instante de privacidade ele conversou com Kyu, talvez o único ser em quem ele poderia confiar. Estavam no momento de refeição e a fada tinha acabado de acordar; como Eric não queria revelar seu amigo para os outros da comitiva, se afastou para os arredores.

— Oi, Kyu! Fadas dormem bastante, não é mesmo? — disse o qareen, cochichando.

— E depois ficamos muito tempo acordadas… Por que você tá falando assim? — indagou, tentando levantar vôo para bisbilhotar, mas Eric o tomou pela perninha.

— Eu fui levado pelo exército… Mas não se preocupe. Acho que vai ficar tudo bem… Estamos perto de chegar, não é?

— Sim, majestade. Você realmente está seguindo o caminho certo… Mas se diz que está tudo bem, porque está me escondendo?— Kyu falou um pouco bravo, e um pouco confuso também. Logo olhou para Eric com olhinhos apreensivos: o loiro não acreditava muito no que tinha acabado de falar. — São humanos né?

— Sim… 

— Eu entendo perfeitamente — ditou a criaturinha, voltando a se sentar no palmo alheio, contudo ainda olhava para os lados, tendo um sentimento estranho, como se percebesse mais uma presença mágica além de ambos. — Você sabe onde está Nyu?

— Não.

— Não o vejo desde aquela noite… E o seu humano?

— Meu humano — Eric riu um pouco da maneira que a fada falou e também de sua expressão confusa com olhos redondinhos — Ele se foi… Mas vai ficar bem. Espero voltar um dia para o vilarejo e vê-lo novamente. 

— Você está triste, majestade? — Kyu olhou para o semblante soturno do qareen. Tinha certeza do que via, pois seu coração era sensível às emoções, principalmente de seres mágicos ao redor. Sentia o coração de Eric pulsar fraquinho, meio preguiçoso; tinha o próprio, que pulsava mais rápido por ser pequenininho. Mas havia mais um, oculto, para a fada soava abafado, um coração carregado de preocupações. A fada tentou deixar de lado essa estranha percepção para tentar consolar Eric, abraçando o polegar alheio.

— Você bem sabe, não é? Sinto falta dele.

— Eu sei que não consigo passar um dia sem meu amigo. Se ele não voltar até o amanhecer, serei capaz de fazer você dar meia volta nessa trilha para buscarmos nossos queridos! — Sorriu a criaturinha, despertando uma expressão mais contente do loiro.

— Não vai demorar muito, eu prometo.

Eric, fez carinho na cabeça laranja da fadinha e voltou a guardar Kyu em seu bolso, respirando fundo antes de voltar à área comum, onde todos estavam. A noite caia muito lentamente, mas Eric não queria esperar. Ele conhecia a direção como um pássaro conhece o sopro de cada vento. Foi até Sangyeon, que estava sentado entre mais dois soldados, e o olhou sério.

Não conseguia esquecer da atração que sentia por ele, entretanto não havia tempo para ceder à ela mais uma vez. Na verdade, o beijo acontecido a pouco tempo atrás revelou que as intenções do príncipe iam além das riquezas que Eric poderia fornecer, e colocou o qareen no que ele achava ser uma linha tênue entre a intimidade e o poder que teria com Sangyeon. Olhou bem para os olhos dele, mantendo uma distância fria deles, enquanto seu coração voltava a bater forte.

— Vamos de uma vez. Eu não aguento mais esperar.

Então Sangyeon levantou de onde estava, terminando de morder o restante da coxa de pássaro frita e ordenou que a comitiva voltasse à formação. De brinde, ganhando mais um dos olhares tortos de Jacob.

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