A fortaleza

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O vilarejo onde Juyeon havia nascido ficava nos arredores do grande reino, cujo governo estava sob a palma da mão do pai de Sangyeon. O Rei — um velho inteligente, mas deveras ganancioso que havia tido um filho fora do casamento (fato que não removeu o seu reinado, mas trouxe drama de sobra para a família real e a nobreza que os circundava). Sangyeon cresceu aos cuidados dos empregados que, muitas vezes, nem mesmo tinham sido ensinados a como cuidar de uma criança. Ele não era posto a falar em público e nem se esperava que o trono fosse dele um dia, visto seu sangue “impuro” e seus diversos irmãos mais velhos e mais "dignos" de governar. Para uma criança, ouvir tudo aquilo causou o efeito que ambas realeza e nobreza queriam: afastar Sangyeon. Para detrás das cortinas, para o subsolo, para detrás de uma espada, para as estalagens. E foi assim que Jacob o conheceu.

Houve um dia, antes de que todos soubessem a existência de Eric, em que o príncipe havia saído às pressas do castelo: vestia capa e seu capuz cobria seu rosto quando Jacob o viu da guarita; estava com pressa e não falou nada para ninguém sobre onde iria, apenas tomou seu cavalo e partiu aos galopes reino á fora. Passou cerca de uma semana sem dar notícias ou enviar cartas, e ninguém sabia o que havia acontecido, também poucos se importavam. Quando finalmente reencontrou a figura sombria do jovem bastardo, Jacob sabia que estava transtornado — estava sozinho na taverna onde costumavam ir depois das tardes de caça. Sangyeon usava uma corrente escura ao redor do pescoço, uma que Jacob não tinha notado antes; e caía de bêbado por cima do balcão de madeira, murmurando coisas sem sentido. O loiro de olhos amendoados o carregou de volta, aquele corpo pesado e relutante, vacilando no pavimento.

Depositou o príncipe em sua cama bem adornada com lençóis finos, mas ele ainda estava acordado, o olhava com um sorriso satisfeito, os lábios perfeitamente esticados em sua expressão. O mesmo sorriso que fazia Jacob encontrar dos devaneios os mais sedutores. Sangyeon puxou a mão dele, o trazendo para perto. O cavaleiro apoiou o joelho na cama tentando compreender os próprios sentimentos: era óbvio que o mais velho tivesse sido o mais perto que já havia chegado da realeza, mas não era isso o que lhe atraía e era exatamente por isso que Sangyeon insistia em sua companhia.

“Deita comigo, Jacob” não era uma ordem, mas o loiro iria fingir que sim, fazendo nada mais, nada menos que deitar ao seu lado, observando-o. Houve uma longa pausa silenciosa antes de que o mais velho o beijasse. Eles pressionavan os lábios inocentemente entre olhares cuidadosos e toques que passaram da plena curiosidade para a busca de conforto de um para o outro. Passaram um bom tempo assim, sem trocar quaisquer palavras até que Sangyeon, ainda tonto de rum, passando as mãos pelos cabelos sedosos do mais novo, fez-lhe uma pergunta. “Se pudéssemos fugir daqui amanhã, você viria comigo?”

Assim como o príncipe poderia ter esperado, Jacob hesitou. Havia erguido as sobrancelhas e formado um bico incrédulo com seu rosto ainda tão próximo do dele. O coração acelerado no peito. “Fugir? Pra quê?”

Eles sempre chegavam naquele ponto, mesmo depois de uma série de concordâncias — Jacob era filho de nobres, uma mistura perfeita do rosto de seus pais, tão belo, forte e inteligente para ocupar a exata posição que ocupava no exército. Ele nunca se revoltaria. Talvez fosse inocência em não perceber todo aquele mal que o príncipe experienciou; talvez fosse a mais pura lealdade. Por um segundo, Sangyeon desejou ser igual a ele, assim como desejou nunca ter-lhe perguntado aquilo. “Estou confuso… Pode me deixar dormir?”.

Aquela memória reprimida lhe ocorria, e Jacob se perguntava, porquê agora? Enquanto erguia a espada com as mãos, desejando que a própria armadura fosse forte o suficiente contra os dentes gigantes das feras. Elas se aproximaram ligeiras como uma tempestade e o cavaleiro pôde golpear um dos lobos, mas ainda havia seus domadores que portavam espadas e lanças, e resistiram apesar de seus animais feridos. As armas se chocavam por toda a parte, causando uma sinfonia devastadora.

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