Capítulo extra: Lealdade

131 23 17
                                    


Quando finalmente retornaram ao reino, o punho de Jacob estava dolorido por ter passado todo aquele tempo com a espada desembainhada. A cada passo que deram na grande floresta, sua lâmina se manteve apontada para o pescoço de Sangyeon. O príncipe bastardo havia sido privado de assistências que viessem a amenizar as dores de seus ferimentos; e foi obrigado a marchar entre os cavalos por todo o caminho, amarrado e amordaçado, pois os soldados não tinham conhecimento do que ele poderia ser capaz de mãos livres. Jacob apenas os avisou o que aconteceu e como Sangyeon podia mover corpos fora de seu alcance, assim como fez com Eric em certo momento. Por isso a mira de sua espada era tão necessária, e ainda assim a insegurança atingiu, fazendo o retorno do Castelo de Sori ser a viagem mais longa e cansativa que já trilhara em toda a sua vida.

Seu estômago revirava toda vez que ele entendia o que houve em seus últimos dias procurando por aquele "tesouro" e quando sua desconfiança finalmente culminou na grande decepção em ser traído pelo homem que ele mais confiava e estimava. "Amava" era uma palavra que Jacob não queria pensar, pois de fato nunca havia declarado seu amor ao príncipe de maneira verbal e agora esse sentimento parecia-lhe tão mortalmente inútil quanto as cordas que atavam os braços fortes de Sangyeon, por onde a magia fluia de maneira constante. Era como um aviso iminente de sua força. Mas os olhos do príncipe encararam o chão até a chegada em Leeheim.

No fundo, Jacob sabia que Sangyeon não faria nada em seu estado deplorável. No fundo, o cavaleiro se perguntava quem dos dois se sentia pior.

Suas ações eram meramente automáticas, desde as ordens que passou a dar para os soldados que voltavam consigo, até quando parava para comer e beber água. Nada fazia muito sentido agora que era ele de quem esperavam uma liderança, já que toda a sua vida fora receber a liderança de Sangyeon e, mesmo que ainda fosse leal ao reino, nada em sua vida seria igual se ele passasse a servir o comando de qualquer um dos duques ou até mesmo do próprio Rei. Jacob entendia que suas ambições no exército eram muito diferentes do resto da nobreza, por isso partia em expedições como aquela, de exploração e investigação; era Sangyeon que as organizava, no final das contas era Sangyeon quem simpatizava com seu interesse por justiça e assim ele não se sentia sozinho.

Contudo agora ele estava mais sozinho que nunca, recebendo o olhar curioso dos súditos conforme marchavam pelas ruas de pedra da parte central do reino. Foi um choque tremendo quando viram o príncipe bastardo todo amarrado e exibindo aquelas manchas azuis anormais. Ouvia-se comentários dos mais maldosos, muitos dizendo que ele merecia aquela humilhação por ser "impuro", poucos suspeitavam da situação ou tentavam entender o que de fato havia acontecido. E mais uma vez o estômago de Jacob embrulhou, entretanto ele precisou se manter firme até que pudesse chegar ao salão principal do castelo em Leeheim e ajoelhar o corpo de seu antigo líder de frente ao trono, antes que pudesse se curvar e esperar a primeira pergunta do Rei. Ele sabia que aquele seria um dia longo.

- Então foi esse o resultado da missão? - O Rei esbravejou, de pernas cruzadas e punhos cerrados. A semelhança daquele homem velho com Sangyeon era notável e deixava Jacob intimidado. - ... Meus melhores caçadores machucados, nenhum tesouro e... Ele, um traidor. Meus súditos me chamarão de Rei Tolo por não ter previsto essa desavença. Me diga, soldado, como irá recompensar sua gigantesca falha.

Era claro que ele levaria a culpa em não ter percebido o plano maldoso de Sangyeon desde o início, Jacob pensou, já que não havia mais a quem culpar. O loiro respirou fundo, aliviado apenas em perceber que ninguém ali suspeitava de si, nem mesmo pela sua antiga proximidade afetiva com o príncipe bastardo. Mas era um alívio estranho. Se ele mesmo fosse bastardo ou nascido em uma família comum, ainda estaria recebendo o direito de se dirigir ao Rei? Aquele homem impassível que se pôde dirigir-se a um membro da sua família como se ele fosse um total estranho. Acima de tudo, o Rei não gostaria que a responsabilidade dos atos de Sangyeon recaísse sobre si mesmo.

The CastleOnde histórias criam vida. Descubra agora