Capítulo 9

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Comecei a ter aquele mesmo incômodo de antes e percebi que todas as vezes que aquilo acontecia era hora de seguir em frente, de dar o próximo passo. Perguntamos a Zelena se ela tinha alguma ideia de por onde deveríamos começar nossa jornada e pediu alguns minutos para pensar. Considerando que tínhamos chegado à conclusão de que deveríamos visitar momentos nos quais minha mãe destruiu famílias, ainda assim haveria muitos e muitos eventos (infelizmente) bastante promissores, por assim dizer.

- Acho que já podemos começar. – sugeriu Cora.

- Espera. – pediu Zelena. – Eu gostaria de conversar um momento com a Blanck. Eu gostaria de dizer algumas palavras que não me foi possível dizer antes... porque nós duas não tivemos mais contato... ou na verdade... – ela fez uma careta engraçada. - ... porque eu estava mais preocupada em matar a mãe dela, o que é mais provável. Eu gostaria de ficar um pouco a sós com ela. Se você não se importar, mãe. – sorriu ela.

- Não, é claro que não me importo. Levem o tempo que precisarem, mas lembre-se de que quanto antes começarmos, mais cedo conseguiremos chegar onde precisamos.

Depois que Cora deixou claro não se importar com a minha conversa com a Zelena, saímos magicamente com a fumaça verde dela e em poucos segundos estávamos na floresta, há certa distância razoável do castelo.

- Você não precisa se desculpar. Pelo menos não de novo... – comecei, muito sem graça com toda aquela situação.

- Eu sei. – ela me interrompeu e sorriu. – Eu te conheço o suficiente para saber que, mesmo que eu queira e você mereça escutar as minhas desculpas no mínimo duas vezes por dia, você não vai ficar remoendo o passado e me julgando a cada cinco passos.

- Mas então... – fiquei confusa, feliz por ela me conhecer um pouco e por não estarmos em uma situação constrangedora de pedido de desculpas, mas confusa. - ... então por que você quis ficar sozinha comigo, sem a Cora por perto?

- Para ela não saber onde estamos indo. Se vamos realmente fazer essa viagem e recuperar o final feliz da sua mãe, então preciso te levar para três eventos antes de qualquer outro lugar. Você está com um pouco da mágica que vamos usar para viajar no tempo? – acenei positivamente com a cabeça e ela, sorrindo, concluiu. – Então vamos dar uma volta.

****

Cheguei a ficar preocupada com esse desejo dela de ficar a sós comigo e ainda querer viajar no tempo sem Cora por perto, mas se eu conseguia lidar com Cora, com certeza conseguiria lidar com Zelena. Então fiquei mais tranquila e confiei (90%) nela.

Uma das maneiras que encontramos de viajar no tempo foi uma poção que fizemos com alguns ingredientes comuns, mas encontramos em lugares um pouco complicados e cheios de armadilhas e criaturas que tentariam nos impedir de pegar. Mas na verdade não foi tão complicado assim e, portanto, tínhamos uma porção bem grande dessa poção. Daria para viajarmos para, pelo menos, uns quinze lugares até precisarmos encontrar e recolher mais.

Em junção a isso, precisaríamos pensar no momento que gostaríamos de ir. Quanto mais precisas fôssemos nesse pensamento ou nessa lembrança do lugar, melhor. Nossa poção seria guiada através da nossa mente, do nosso pensamento, da magia embutida nas nossas lembranças e nos levaria aos locais que desejássemos ir.

Zelena pediu parte da poção, segurou minha mão e apertou com muita força o bocado de poção que estava em sua mão, aparentemente pensando em todos os detalhes que poderia se lembrar a respeito do lugar e do momento exato no qual precisaríamos ir naquele momento. Cerca de quatro ou cinco segundos depois, nos transportamos para um lugar também na floresta, mas era bem mais para o meio, para o centro escondido da floresta, onde poucas pessoas iam.

Aquele lugar me era familiar justamente porque eu cresci em um lugar muito parecido com aquele, bem no meio da floresta. Mas meus pensamentos de "cresci em um lugar como esse" foram imediatamente interrompidos quando coloquei os olhos naquela cabana. Naquele pedacinho de terra onde estava aquela cabana. Naquela parte da floresta onde estava aquela cabana. Comecei a olhar a minha volta para ter certeza de que eu não estava confusa nem errada nas minhas conclusões, quando Zelena tranquilamente sorriu para mim e disse:

- Bem vinda de volta a sua casa.

- O que estamos fazendo aqui? – perguntei, agora sim muito mais curiosa.

- Estamos em um momento muito importante da história da sua mãe e esse momento... é crucial que você presencie antes de começarmos nossa jornada.

Parecia que ela estava literalmente narrando aquele evento, pois um segundo depois algumas folhas começaram a se mexer e fazer muito barulho. Zelena me puxou com força para trás de uma árvore enorme onde eu adorava subir para sentar nos galhos quando era criança. Ouvi a pessoa que estava chegando resmungando, mas não entendia muito bem do que se tratava. Descobri segundos depois também.

- Vamos Regina, só mais um pouquinho. Respira fundo e continua andando.

- Eu não consigo.

Minha mãe apareceu em meio a tudo aquilo, se apoiando com muita força em Alma, minha tia que me criou. Estava com muita dificuldade de caminhar e aparentemente com muita dor. Ela tropeçou levemente e Alma a segurou, só então, por conta de uma leve mudança de ângulo, consegui ver o porque ela estava com dores e com dificuldade de caminhar: ela estava grávida... de mim. Aquela barriga era enorme e, pelo visto, ficaria por ali por pouco tempo. Ela estava prestes a dar a luz enquanto Alma tentava de todas as formas fazê-la caminhar o mais rápido possível até chegarem à cabana.

Eu não fazia ideia do motivo, mas Zelena havia me levado para ver o meu nascimento. E eu estava praticamente em choque.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora