Capítulo 23

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Ainda estávamos invisíveis quando a Rainha Má, já na cabana de Jefferson, abraçou o pai e demonstrou sua felicidade em tê-lo resgatado do País das Maravilhas. Pegou-o pela mão e correu para fora da cabana para então entrarem em sua carruagem em direção ao castelo.

- Isso foi incrível! – eu disse, de olhos abertos encarando uma das paredes da cabana sem realmente estar olhando para lugar nenhum. Estava apenas pensando alto comigo mesma e provavelmente perdi o momento exato em que Zelena começou a me olhar como se eu estivesse dizendo algo confuso e fora de contexto.

- O que? Não entendi. O que foi incrível? – ela perguntou.

- Ela quer dizer tudo o que aconteceu. – disse Cora tranquila enquanto me encarava com um leve sorriso. – Todo o que a Regina fez.

- Sim! Isso! – eu ainda encarava a parede, apenas tentando encontrar um ponto de concentração enquanto expressava toda a minha admiração por tudo aquilo. – A estratégia dela foi ... inacreditável. Todo o planejamento, as ações, os momentos perfeitos de cada ação ... tudo ... perfeito. Na verdade, acho que ela quis se vingar de Jefferson por alguma coisa. – parei uns dois segundos para pensar no que seria, mas logo me distraí e voltei aos meus pensamentos originais. – O importante é que foi tudo perfeito. Ela na verdade nem precisava ter feito o pai crescer naquele momento, ela poderia tê-lo trazido para a Floresta Encantada e encontrado outra forma de retorná-lo ao seu tamanho normal. Acho que talvez tenha sido proposital, mesmo ela se arrependendo por um momento como aconteceu pouco antes de eles entrarem na porta que os traria de volta para cá. Mas o importante mesmo foi que a estratégia de tudo foi simplesmente ... perfeita. – eu terminei de falar, meio frenética e afobada, mas bastante empolgada como se realmente tivesse muito orgulho de tudo o que minha mãe acabara de fazer.

Nesse momento, finalmente virei e pousei os olhos em Zelena que, literalmente, estava com os olhos e a boca totalmente abertos me encarando como se eu fosse completamente louca. Não, louca não. Como se eu fosse completamente desequilibrada, isso sim.

- Qual é o problema com você? – ela conseguiu pronunciar.

Levantei as sobrancelhas e arregalei os olhos, tentando entender porque ela estava tão assustada com as minhas conclusões. Fiquei ali pouquíssimos segundos, talvez três ou quatro, e então a percepção me atingiu. Do nada. Tão do nada que levei um susto enorme. Foi como estar olhando para a esquerda e levar uma trombada de alguém pela direita. Totalmente desprevenida.

Eu estava realmente achando incrível todo o planejamento, estratégia e a execução do plano da Rainha Má em deixar Jefferson para trás no País das Maravilhas, separando-o de sua filha indefinidamente, mesmo ele tendo-a ajudado a recuperar o que queria (que era seu pai, meu avô Henry) e mesmo sabendo que Jefferson ficaria em um lugar onde Cora, sua impiedosa mãe, governava e sabe-se lá o que faria com ele. Poderia tê-lo matado. Sim, poderia tê-lo matado e deixado Grace órfã. E eu achando tudo aquilo incrível.

- Qual é o problema comigo? – eu disse após perceber o absurdo que estava admirando e passando a mão na testa e nos olhos como se tentasse limpar a venda que parecia ter estado em meus olhos e minha mente nos últimos minutos.

- Você está bem? – Zelena perguntou. Ela já estava percebendo que algo estava errado comigo.

- Eu não sei. – respondi, sincera. – Não acho que esteja bem, não. Quanto tempo passamos naquele lugar? Sinto-me exausta, como se meus músculos estivessem me incomodando de tanto fazer exercícios pesados. E estou com fome. Não sei quanta fome. Só sei que estou com fome. E confusa. E exausta. – olhei finalmente para Zelena tentando pedir ajuda e, na mesma hora, ela entendeu que eu realmente não estava bem e já veio ao meu encontro emocional dizendo:

- Vamos dar o fora daqui! – pegou na minha mão e apertou com força, me dando segurança. Aquilo realmente funcionou pelo menos um pouco, pois me tranquilizou imediatamente. – Esse lugar está me dando arrepios pelo jeito como tudo aconteceu. Vamos embora. Mamãe?

Cora estava do outro lado do cômodo principal da pequena casa, olhando pela janela, de costas para nós, de modo que não conseguíamos ver sua expressão facial. Só foi possível quando ela se virou e nos olhou com semblante e voz tranquilos e disse:

- Vamos para casa, meninas.

****

Os próximos dias foram tranquilos na medida do possível. Não sei dizer se passaram devagar ou rápido. Só sei que foram acontecendo e, aos poucos, fomos passando por mais alguns eventos nos quais minha mãe causava cada vez mais estragos na vida das pessoas e eu literalmente torcia muito para que nenhum desses eventos fosse irreversível. Torcia para que todos os casos tivessem, mesmo que demorasse, o mesmo final feliz que teve a história de João e Maria quando se encontraram com o pai na floresta.

É claro que não conseguiríamos verificar cada final de história como gostaríamos e tínhamos planejando. Cora havia nos convencido que seria uma imensa perda de tempo ter certeza de que todas as maldades da Rainha Má foram "consertadas" mais para frente. Zelena e eu não gostamos muito, mas acabamos aceitando para que essa missão não levasse tanto tempo. Estávamos prevendo meses, mas com essas verificações de finais felizes, poderia até levar anos. Não sei se eu estava preparada para isso. Mesmo tomando quase diariamente as poções para não envelhecer.

Com o passar das semanas, Zelena começou a tomar a poção também. Não tomava com tanta frequência como eu, mas afinal éramos pessoas diferentes, em idades diferentes também. Cada uma tem sua dose correta. A única que não precisava tomar as poções contra envelhecimento era Cora. Afinal ela já estava ... bom ... morta. Mas continuava nos ajudando a lembrar de tomá-las, o que era de grande ajuda.

Infelizmente eu continuava tendo alguns episódios de grande exaustão e que ocasionavam mais alguns episódios de confusão como o que passei achando incrível a estratégia da Rainha Má em ser cruel com Jefferson quando deixou-o, desesperado e indefinidamente preso, no País das Maravilhas. Mas depois de alguns segundos tudo passava e sempre que comia alguma coisa, me acalmava ainda mais.

Zelena estava sempre ao meu lado em todas as viagens durante essas próximas semanas e, estranhamente, Cora também estava sempre comigo, preocupada se eu estava bem. E assim seguimos durante as próximas semanas e, quando nos demos conta, já haviam se passado sete meses que estávamos viajando pelos eventos nos quais a Rainha Má deixava seus estragos por onde passava.

Minha tia ainda tinha alguns eventos para nos levar e eu torcia (muito, na verdade) para que algum deles finalmente nos levasse ao nosso objetivo e, além de descobrirmos qual era o evento que procurávamos, pudéssemos salvar o futuro da minha mãe, a vida do meu pai e, finalmente, voltar para casa. Com certeza os dias que se seguiriam seriam decisivos. Mas eu realmente não esperava o quão decisivos eles seriam. E foram.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora