Capítulo 42

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- Senhor ... humm ... Mills ... senhor Henry Mills. - Zelena estava claramente com dificuldades.

- Me chame de Henry, Zelena. – sorriu o meu avô, tentando acalmar minha tia e facilitar que ela continuasse para o que quer que fosse que ela queria dizer ou perguntar à ele.

- Obrigada. Henry. Por favor, poderia chamar a minha mãe. A verdadeira, no caso.

Meu avô ficou parado olhando-a, tentando entender se realmente ele havia escutado corretamente e Zelena gostaria que ele chamasse Cora, seja lá o lugar onde ela estivesse. Passados alguns segundos Zelena ergueu as sobrancelhas para ele, claramente perguntando implicitamente se havia algum problema. E eu olhava aquela cena segurando o riso. Acho que ele deve ter cedido ou mesmo pensado que a solicitação dela faria algum sentido mais para frente, pois ele acenou positivamente com a cabeça e logo em seguida sumiu, provavelmente fora buscar a verdadeira Cora.

Segundos depois, enquanto eu e Zelena ficamos em silêncio arquitetando diversas partes de diversos planos cada uma em seus pensamentos a cada momento que passava e pensávamos como sairíamos daquela bagunça, meu avô voltou com a minha avó a seu lado.

- Como saberemos se esta é a verdadeira Cora? – perguntei, mas quase junto com a minha fala, Cora já soltou:

- Até que enfim vocês me chamaram. Eu estava achando que ficariam sendo enganadas pela eternidade.

- Ah, com certeza essa é a verdadeira. Sem dúvida alguma. – zombou Zelena, com toda razão e embasamento. – Por que a senhora não veio nos avisar do que estava acontecendo antes então, mamãe?

- Não pude. Só posso aparecer para vocês quando sou chamada. Não posso simplesmente fazer aparições e matar as pessoas do coração sem prévio aviso. Se bem que não é uma má ideia, eu faria isso com muito gosto com muitas pessoas.

- Como eu disse, essa é a minha mãe. Enfim, pelo que parece a senhora estava aguardando há tempos para conversar conosco ...

- Há meses. Meses! – ela interrompeu, ainda indignada com a situação.

- Então conte-nos logo o que sabe ao invés de ficar dando show de grosserias, vovó. – eu disse e só então percebi que aquela era realmente a primeira vez em que eu conhecia de fato a minha avó, pois durante todo aquele tempo eu estava com, o que podemos dizer, "a avó errada". Naquele momento, quando eu disse a palavra "vovó", ela pareceu perceber a mesma coisa e me olhou profundamente, também pela primeira vez.

Pude ver um brilho diferente nos olhos dela e, desta vez, realmente me parecia verdadeiro. Sim, com certeza aquela era a Cora verdadeira, pois mesmo com o histórico desequilibrado dela, seus olhos não sabiam mentir e ela ficou levemente emocionada e sem palavras ao conhecer a própria neta primogênita. Mas obviamente ela se recuperou bem rápido. Cora sendo Cora.

- Você sabia que aquela Cora era falsa? Que ela estava enganando a Blanck e a Zelena? – perguntou meu avô. – E por que não fez nada a respeito, Cora?

- Eu sabia desde o primeiro contato daquela Cora fajuta com a Blanck. Mas não pude fazer absolutamente nada a não ser ficar olhando e rezando ... sim, eu rezo. – ela parecia bem aborrecida em ter que afirmar que rezava, pois as nossas expressões devem ter sido bastante debochadas. – Enfim, eu só poderia rezar para que ela desse qualquer passo em falso e as duas percebessem que ela não era eu. Eu percebi desde o primeiro momento, pois depois que deixei o mundo dos vivos, uma ligação se formou entre nós justamente por ela ser uma parte viva minha.

- Uma ligação? Tem certeza, mamãe? – perguntou Zelena, um pouco confusa, mas eu sabia que aquilo procedia.

- Faz sentido, sim. Muito sentido na verdade. Quando temos versões nossas em outros reinos não temos ligações com eles porque nossos corpos estão vivos e vivendo em lugares diferentes. Mas quando um deles morre e consegue seguir em frente ... quero dizer sair do submundo ... é como se parte de nós morresse, então quem está vivo e quem está ... morto ... desculpe, vovó ... acabam sentindo uma ou outra coisa um do outro. Não é muito forte nem muito intenso, mas é uma conexão que existe.

- Sim, isso faz bastante sentido, sim. Mas então quer dizer que a outra Cora sabia que você tinha conhecimento dela durante todo esse tempo, mamãe?

- Saber ela sabia, com certeza. Apenas não se preocupava. Onde eu e Henry estamos é um lugar que não é permitido ... sair da linha, por assim dizer ... então não podemos fazer nada errado, não podemos sair desse lugar sem sermos chamados, não podemos fazer nada cruel, e assim por diante, tenho certeza de que vocês já entenderam. Então a falsa Cora sabia que eu não faria nada para alertar vocês. Mas tenho quase certeza de que Henry fez.

- Eu? – meu avô estava levemente chocado olhando minha avó.

- Não você, criatura. – novamente a certeza de que aquela era a verdadeira Cora, pois a paciência dela não costumava durar muito tempo com o meu avô, coitado. – O Henry da Regina. O irmão da Blanck. Tenho quase certeza de que ele tentou avisá-la de alguma forma.

- Eu não me lembro de tê-lo visto em momento algum. – respondi, mas tentava lembrar de qualquer forma. – E por que justo ele faria isso? Ele nem sabe que estou aqui.

- Ele sabe, sim. Com certeza ele sabe. O Henry do passado não sabe que você está aqui, mas o Henry do futuro, que se tornou O Autor ...

- Henry se tornou O Autor? – fiquei perplexa e absurdamente feliz em menos um segundo.

- Sim! – Zelena parecia ter entendido literalmente tudo naquele momento. – Henry do futuro, como O Autor, saberia de tudo sobre nossa jornada, inclusive sobre as intenções daquela Cora.

- Exatamente. E Blanck, tem certeza de que não o sentiu? Não me refiro aos últimos meses, mas sim no início, quando vocês começaram a visitar os eventos de maldade da Rainha Má e a falsa Cora fazia questão de que você presenciasse a Regina maltratando as pessoas. Não sentiu nada nessa época?

Minha avó tentava ter certeza junto comigo de que Henry talvez tivesse tentado me avisar de alguma forma a respeito da falsa Cora. E naquele momento algumas lágrimas começaram a se formar nos meus olhos, porque a lembrança veio sim à minha mente. Contei à Zelena, Cora e a meu avô da lembrança de que, nos primeiros eventos nos quais presenciei, tive por diversas vezes um desconforto em um local que me parecia ser meu coração, como se tudo aquilo estivesse errado, como se eu estivesse no lugar errado, com a pessoa errada e fazendo algo pelo objetivo errado. Como se eu estivesse sendo enganada. É claro que me lembrava daquela sensação. Depois de meses foi substituída pela sensação de felicidade ao ver minha mãe fazendo maldades, o que provavelmente bloqueou qualquer contato que Henry pudesse ter com o meu coração. Aliás, como ele tinha esse contato com o meu coração?

- Quando vocês me enfrentaram em Storybrooke, que para você faz apenas alguns meses e para mim na verdade já passaram muitos anos, Henry estava com o seu coração para me enfrentar. Você se lembra? – Zelena começou a explicar e eu entendi tudo. – Quando você entregou seu coração e ele aceitou e ficou com ele dentro do peito, aquilo criou uma conexão muito forte entre vocês. Entre seus corações. Foi assim que ele conseguiu causar esse desconforto no seu coração, tentando te avisar de que algo estava errado.

- Mas eu não escutei. – fiquei tão decepcionada comigo mesma que quis enfiar minha cara em um buraco cheio de lama. – Como eu pude deixar isso passar? Estava tão preocupada em encontrar o evento que estávamos procurando ... o evento que tirou a possibilidade da minha mãe ser feliz ... que aliás ainda não fazemos a menor ideia qual seja. – finalizei, bufando, ainda mais irritada e angustiada do que antes.

- Vocês não sabem. – sorriu Cora, fazendo-nosolhar para ela ao finalizar. – Mas eu sei qual é.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora