Capítulo 11

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Nem pude recuperar o fôlego quando Zelena pediu mais poção de viagem no tempo. Mas desta vez ela precisou de mais tempo para se concentrar. Claramente não era uma lembrança que ela tinha muito nítida na cabeça, o que dificultava um pouco as coisas. Mas em defesa da minha tia, ela sempre foi muito focada em conseguir seus objetivos, o que às vezes não era uma boa coisa, alias na maioria das vezes. Mas naquele momento era um ótimo indício de que tudo daria certo e de que chegaríamos, o mais rápido possível, ao segundo lugar onde ela tanto queria me levar antes de começarmos nossa jornada em busca do evento que impediu minha mãe de ser feliz no amor e, consequentemente, matou meu pai.

Ela segurou minha mão bem forte e uma rajada de vento muito intensa nos atingiu com força. Quase caímos no meio daquele furacão, pois era exatamente isso o que parecia. Um furacão.

- Não me solte! – ela gritou para mim, segurando minha mão com muita força.

Acenei com a cabeça e segurei com mais força a mão dela também. Parte do vento estava praticamente tentando nos derrubar e sabíamos o motivo: quanto mais perfeita fosse a memória, mais fácil o tempo nos deixaria viajar por ele. Porem o contrário era verdadeiro também e quanto menos detalhes nós tivéssemos da lembrança, mais o tempo resistiria em nos deixar passar.

Quando chegamos ao local onde deveríamos, completamente descabeladas um pouco zonzas de toda a viagem pelo tal furacão, entendi o motivo pelo qual tivemos tanta dificuldade para chegar: estávamos em um cemitério e claramente aquela era uma lembrança que Zelena tinha visto apenas uma vez.

- Desculpe. – riu ela. – Mas pelo menos chegamos vivas até aqui, não é?

- Onde estamos exatamente? Sei que é um cemitério, mas exatamente que lembrança eu deveria conhecer daqui?

- Aquela ali. – Zelena apontou para uma cova ao longe para onde começamos a caminhar.

A cova estava isolada, no meio de muitas pedras enormes e cheia de árvores a sua volta, naturalmente aquilo era proposital para que ninguém chegasse muito perto e ficasse bisbilhotando. Provavelmente quem estava ali era alguém muito importante e que outro alguém também importante não queria que ninguém fizesse nenhum mal ou prejudicasse a cova.

Quando estávamos chegando perto do local, caminhamos por trás da cova, pois se aquela era uma lembrança, alguém com certeza apareceria a qualquer momento e nos veria no local, o que não era o ideal, então não pude ver o nome na lápide. Se é que tinha algum nome e alguma lápide, pois estava tão escuro que eu mal conseguia enxergar, deveríamos estar no meio da madrugada. Se eu não confiasse em Zelena naquele momento, ia ficar bem furiosa por ela me levar para o cemitério no meio da madrugada. Era capaz de deixá-la lá e ir embora sozinha. Sorte a dela que eu já estava começando a simpatizar com ela.

Segundos depois alguém começou a se aproximar. Trazia uma linda rosa em um vermelho muito vivo para colocar na cova. A pessoa estava toda de preto e caminhava majestosamente...

Parei de respirar. Literalmente parei de respirar. Era Regina que se aproximava delicadamente com a rosa vermelha em mãos. Entendi onde estávamos e não entendi por qual motivo deveríamos estar ali, porem conversar naquele momento estava completamente fora de cogitação, então simplesmente assisti àquela cena que realmente era muito triste.

Minha mãe não chorou no início, mas chegou a derrubar algumas lágrimas doloridas após colocar a rosa no túmulo e dizer:

- Eu te amo, papai.

Aquele era o momento no qual minha mãe estava prestando homenagem ao meu avô, Henry, depois de ter usado seu coração para lançar a maldição das trevas que levou todos para Storybrooke.

Como eu disse, ela não se emocionou muito, mas dava para enxergar, mesmo ali no escuro, a dor em seu olhar, o sofrimento na expressão dela, o pesar em cada movimento e a sinceridade e o amor quando se dirigia ao túmulo do meu avô.

Zelena me tirou daquele transe, pois aparentemente já poderíamos ir embora. Ela fez um movimento com uma das mãos que no início não entendi muito bem, mas depois percebi que ela estava me perguntando através de gestos se eu conseguiria nos tirar dali sem sermos percebidas. Imaginei que ela não conseguiria simplesmente retirar de si própria a fumaça verde que a envolve todas as vezes que ela se transporta para outros lugares. Olhei mais alguns segundos para minha mãe e logo depois nos tirei dali, sem nenhuma fumaça aparente ao nos transportarmos.

****

- Por que você quis que eu presenciasse aquele momento? – perguntei, já muitos metros longe do cemitério.

- Vou te mostrar mais um evento, o último dessa nossa pequena viagem antes da nossa grande viagem, e já poderemos conversar a respeito desta lembrança e da próxima. Obrigada por nos tirar de lá, tenho tanto apego pela fumaça verde que eu tenho quando vou e venho dos lugares, que acabei esquecendo que não consigo tirá-la tão facilmente. E já estava na hora de sair dali, não precisávamos ficar tanto tempo já que o principal motivo de estarmos lá, você já viu... e já sentiu também. Agora vamos, a última lembrança não é tão fraca quanto essa segunda, mas também não é tão forte quanto a primeira.

- Isso quer dizer que teremos certa pressão nessa última mini viagem, mas pelo menos não precisaremos ficar desviando e lutando contra o vento.

Coloquei mais um pouco de poção em sua mão e, poucos segundos depois de ela começar a pensar naquela memória, já estávamos novamente a caminho de outro evento. Aparentemente o último daquele dia. Eu só esperava de verdade que tivéssemos pelo menos um pouco menos de emoção que o primeiro e que o segundo, pois ver minha mãe sofrendo não estava sendo nada agradável para mim.

Mas é claro essa terceira pequena viagem também traria parte desse sofrimento da minha mãe como aprendizado para mim. Um aprendizado que eu não sabia o motivo, mas Zelena sabia muito bem o que estava fazendo, sabia muito bem onde estava me levando e o motivo pelo qual eu precisava presenciar tudo aquilo. E eu ficaria sabendo em breve.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora