Blanck 2 - A transformação do mal

Capítulo 25

Durante os próximos dois dias, nossa dinâmica não mudou muito, mas eu sentia que Zelena queria muito me dizer alguma coisa e estava se segurando o máximo que conseguia. Minha suposição é que ela não queria falar nada na frente de Cora, mas estávamos tão focadas na missão que era difícil ficar longe da minha querida avó, inclusive quando voltávamos para descansar todos os dias.

Porém o incômodo de Zelena só aumentava e na segunda noite a própria Cora não se aguentou:

- Pode falar, Zelena. – disse ela, bastante contrariada e revirando os olhos. – Eu tenho a sensação de que você vai explodir se não abrir essa boca e falar em voz alta o que tem em mente. Que nós duas sabemos bem o que é.

Zelena entortou levemente a boca, contrariada com a situação e com o comentário da mãe, mas bufou logo em seguida e disse, irônica:

- Oh, desculpe a minha inconveniência, mamãe. Estou tão triste de chateá-la com algo que a senhora mesma sabe que é verdade, mas nunca quis admitir, assim como não quer admitir agora.

- E que bem isso faria para toda essa missão? – respondeu Cora, irritada encarando Zelena. – Por acaso você acha que tudo se resolveria se eu fosse fofa e delicada e admitisse o que ... você ... acha que é tão relevante e que mudaria nossas vidas a partir de agora?

- Faria toda a diferença!

Zelena falou um pouco mais alto, mas com certeza não parecia tão irritada quanto Cora, simplesmente estava tranquila em estar com a razão, do que quer que fosse. E aparentemente, pelo estado de nervos que evoluía minha querida avó, ela também concordava, mas não queria dar o braço a torcer de forma alguma. Então ficou apenas encarando Zelena, bufando, revirando os olhos e murmurando coisas para si mesma em forma de protesto como se aquilo fosse ridículo. E eu continuava sem saber do que se tratava.

- Estou perdendo alguma coisa? Ou melhor, o que eu estou perdendo? Do que vocês duas estão falando?

- Vá em frente! – gritou Cora para Zelena, e me assustei com a surpresa do grito. – Fale para ela suas relevantes preocupações contra mim.

- Não são contra você, mamãe. – protestou Zelena parecendo se sentir insultada. – São preocupações reais. Aliás, não são preocupações, são fatos.

- Ora, faça-me o favor. – Cora abanou o ar em direção à Zelena e finalizou. – Vou encontrar algo melhor para fazer do que ficar aqui assistindo suas acusações.

E no segundo seguinte, após sua nuvem de fumaça encher o local, principalmente onde ela estava, minha avó já não se encontrava mais no recinto.

- Quanto drama. – Zelena revirou os olhos.

- Já chegamos na parte em que você me conta o que está acontecendo ou o que está pensando? – eu ri, porque a imitação dela do drama de Cora realmente fora muito engraçada e aliviou a tensão que há dois minutos atrás estava em todo aquele quarto.

- Chegamos. Já chegamos nessa parte. – Zelena parecia aborrecida por ter que pronunciar as próximas palavras que explicariam tudo aquilo, mas mesmo assim eu continuava sentindo um alívio enorme vindo dela. – O que Cora não acha que seja ... relevante ... mas que eu acho que é, e muito, é algo que você deve ter percebido, mas não exatamente prestado atenção e juntado todas as peças. Imagino que se você já tivesse chegado na conclusão que eu cheguei, pelo que te conheço, já teria mudado completamente o rumo das nossas viagens e teria dado uma bronca na sua avó, inclusive com direito a uma leve agressão física, talvez.

Zelena deu risada da última parte, para descontrair e deixar o ambiente um pouco mais leve. Sorri com seu comentário cerca de dois segundos antes de escutarmos uma movimentação e correria de soldados do lado de fora do quarto onde estávamos. Tia Zelena e eu rapidamente jogamos o mesmo feitiço no quarto inteiro, fazendo com que ficasse novamente sem nenhum móvel, completamente vazio como se nunca tivéssemos entrado ali e ela também lançou o feitiço que nos tornava invisíveis durante alguns segundos.