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Meus pais estão no quarto deles, acompanhados por uma curandeira. Todos nós estamos sentados na sala de estar, roendo as unhas. Os únicos que não estão aqui são as crianças e Nephelle, que estão no jardim. Ah, e Rohan. Ele se juntou a Nephelle no trabalho de babá, o que é bom, porque tia Nestha está com uma expressão estranha, distante, e suas unhas, sempre impecáveis, estão todas roídas. Apesar de ser quase inotável, consigo ver a vermelhidão em seus olhos. Tio Cass também não está na sala, e tia Elain está discretamente acariciando o ombro de Nestha.

— Alguém sabe o que aconteceu? — pergunto, sentando-me perto de tia Mor. 

Todos negam, tão preocupados quanto eu. Alguns minutos de silêncio mortal se passam, até que escuto meu pai gritar. Não é um grito de ódio ou dor, mas sim de pura felicidade. Em questão de segundos, ele aparece na sala, totalmente eufórico, carregando minha mãe no colo. Ela está vermelha de rir, os olhos brilhando. A curandeira vem logo atrás, rindo dos dois.

— Feyre está grávida! 

— De novo? — indaga Elain, olhando-os com um misto de espanto e alegria. 

Meus ouvidos estão zumbindo.

— E são trigêmeos — O sorriso do meu pai é tão grande, o da minha mãe, maior ainda. A única pessoa que não está sorrindo é tia Nestha, que sequer parece estar ouvindo. Quero me juntar a ela.

A sala vira um caos. Tia Mor briga com minha mãe por ter nos dado um susto, mas logo começa a parabenizar os dois. Os outros se juntam a comemoração, e ninguém percebe quando tia Nestha se levanta e sai dali, indo para o corredor. Decido segui-la.

Quando estamos afastadas o suficiente para que ninguém nos escute, pergunto:

— Para onde a tia está indo? 

Nestha se vira assustada; se ela não percebeu que eu estava logo atrás dela, é porque estava divagando muito. 

— E-eu — ela gagueja, olhando para mim como se eu tivesse a resposta para a dúvida dela. 

Tia Nestha nunca gagueja.

Me aproximo dela e pergunto, baixinho:

— Eu posso te dar um abraço?

Primeiro, ela não diz nada, apenas me encara, os olhos parecem ser feitos apenas de gelo, medo e dor. Mas então ela assente e me puxa para o abraço antes que eu o faça algo. 

— Eu estou tentando — soluça ela contra meu ombro. — Estou tentando, mas não consigo.

— O que você não consegue?

Tia Nestha apenas movimenta a cabeça negativamente e se afasta, virando-se de costas para mim. Ela inspira uma, duas vezes, e fala:

— Há uma caixa com cartas na biblioteca. Se eu não voltar em cinco dias, quero que entregue-as para mim. 

— V-voltar da onde? Para onde a tia vai?

Nestha apenas balança a cabeça e se vira para mim. Ela me dá um beijo e segura minhas mãos por um instante. Seus olhos parecem tão cansados, tão cheios de dor, que é angustiante de olhar.

— Isso não importa. Antes de ir, eu quero te pedir uma coisa — diz ela calmamente. Assinto, sentindo os olhos queimarem. — Cuide do Rohan por mim. 

Isso está parecendo muito uma despedida, como se tia Nestha já soubesse que não iria voltar, como se soubesse que algo ruim vai acontecer com ela. 

— Para onde você vai? Tia Nestha?

Ela me ignora e começa a correr pelo corredor, em direção a porta dos fundos, por onde poderá sair escondida. Corro atrás dela, ignorando a dor que começa a surgir, e estou quase alcançando-a quando ela para.

Noite Sombria e Perversa Onde histórias criam vida. Descubra agora