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Depois de ver Rohan chorar e ter tido uma pequena pegaçãozinha com ele, descobrir que meus tios estão se separando, que minha mãe está grávida de trigêmeos, que tia Nestha fugiu e ter sido asfixiada por Nephelle, ainda preciso ir ao baile. Esse dia tem tudo para ser memorável, e não no bom sentido.

Cassie já está no meu quarto — chamá-la para minha casa foi a primeira coisa que fiz depois de toda a confusão — e estamos nos arrumando para o baile. Pelo menos estaremos juntas, então acho que vai ser divertido. 

Ou talvez eu fique sozinha numa mesa, porque Cassie está deslumbrante. Existem pessoas bonitas. Existem pessoas atraentes. Existem pessoas gostosas. Cassie é as 3 coisas. Usando um vestido azul escuro com um decote generoso e iluminando a pele com um pó dourado, ela é capaz de qualquer coisa. 

— Aposto que você receberá mais de dez convites para dançar — digo, calçando as sapatilhas. Mais do que nunca queria poder usar salto. 

— Não, não receberei — Cassie dá uma risada e se vira para mim. — Sabe qual é o segredo? — nego. 

Sutilmente, Cassie ergue um pouco as sobrancelhas e o queixo e… 

— Você continua bonita — afirmo. — Mas está me dando medo. 

— Exato. Com essa expressão, receberei zero convites para dançar. Tente você, quero ver como se sai fazendo a cara de megera.

Dou uma risada, dispensando com um aceno.

— Não sei fazer cara de megera.

— Pois trate de aprender até chegarmos ao baile, porque você sim irá receber milhares de convites para dançar. 

Já estou pronta, devidamente vestida e arrumada. O decote é um pouco revelador, mas nada grave, e a fenda na perna é bastante sexy, mas há algo me incomodando. 

— Aconteceu algo entre mim e Rohan — falo baixinho para ela. Já contei sobre minha mãe e sobre Nephelle assim que ela chegou. 

Ganho toda sua atenção ao dizer isso. Ela solta os brincos que estava tentando colocar sobre a penteadeira e me encara com curiosidade. Conto tudo o que aconteceu, excluindo o porque Rohan estava chorando — acho que isso é algo particular dele. O queixo de Cassie despenca a cada palavra minha.

— Bem — ela me analisa de cima a baixo. — Se esse baile fosse uma guerra, eu diria que você está devidamente armada. Aproveite que ninguém estará olhando e descubra qual é o jogo dele. 

— E o que eu vou fazer depois que descobrir isso?

— O que você quer que seja? Casual ou algo mais… sentimental?

Não tenho ideia. A ideia de ser casual me deixa incomodada, me dando a sensação de estar sendo usada, mas a possibilidade de haver sentimentos ali é bizarra. Rohan gostar de mim seria estranho, e eu gostar dele seria tolo e burro demais.

— Vou interpretar o seu silêncio como um pedido de socorro — Cassie para ao meu lado, encarando-me pelo espelho. — Olhe para você, principalmente para cá — ela aponta meus seios no reflexo. Coro. — Se Rohan tentar brincar com você, brinque em dobro com ele. Se ele te machucar, machuque-o em dobro. 

— Devo ser uma garota má? — O tom de Cassie, aquela perversidade rouca e atraente, é contagiante, assim como o olhar. É como se eu estivesse enfeitiçada. 

— Não. Você deve ser uma garota cruel. 

Se Cassie mandou, então o farei.

Sei que estou brincando com a morte, mas escolho passar em frente à porta da cozinha, onde sei que Nephelle estará lavando os pratos, e dar um tchauzinho  para ela. 

— Vagabunda — murmura ela, mas eu escuto. Cassie também está no corredor, mas Nephelle não sabe.

Em silêncio, entro na cozinha e pego uma tigela de porcelana. Deve ter cerca de um quilo. Ainda sem dizer nada, me aproximo da pia, que está cheia de água e espuma. Sorrindo para Nephelle, solto a tigela abruptamente. Espuma e água suja encharcam a roupa dela, que me fuzila com o olhar. Com o indicador, pego um pouco de espuma e passo-a na ponta de seu nariz.

— Assim você parece mais contente — digo. — Sorria, Nephelle, lavar louça não é tão ruim assim.

Noite Sombria e Perversa Onde histórias criam vida. Descubra agora