Eu não sei o que dizer. Não sei o que fazer além de acariciar os cabelos loiros de Rohan e deixar que ele chore.
Ele chora por meia-hora, e eu estou quase chorando junto, tanto por ele como por meus tios. Não consigo imaginá-los um sem o outro.
Acho que Rohan parou de chorar, porque ele não está mais soluçando.
— Posso ficar aqui? — sua voz sai baixa e rouca.
— Pelo tempo que precisar.
— Então acho que ficarei aqui para sempre.
Isso aperta meu peito e me faz pegar o rosto dele nas mãos e encará-lo profundamente.
— Não, não vai. Seus pais vão ficar juntos, nem que tenhamos que obrigá-los a tomar uma poção do amor.
Ele dá uma risada, ainda que fraca, mas já é um começo. Ficamos conversando por mais algum tempo, até que o rumo da conversa mudou e passamos a contar piadas e ele ri de verdade. Parece música.
— Estou melhor agora — diz ele, sorrindo para mim. — Consegue sair?
— Claro — digo, mas não tenho tanta certeza.
Minhas pernas estão dormentes e não há outro jeito de sair dali sem que seja me jogando para trás, caindo no chão. Tento dobrar uma perna, mas não consigo. Elas praticamente entalaram nos vãos dos braços da poltrona. Começo a me remexer, tentando me soltar, até que as mãos de Rohan agarraram minha cintura. Quando ergo o olhar para ele, não está mais triste, mas sim... selvagem.
— Você está me excitando — diz ele, e só então me dou conta de que estava me remexendo no colo dele. Meu rosto pega fogo, e isso faz ele dar um sorrisinho e me puxar para mais perto, as mãos na minha bunda. — Não pare.
Fazer aquilo sem intenção é uma coisa, mas quando se tem total consciência do que está fazendo, é quase impossível. Rohan parece notar isso.
— Finja que ainda está tentando sair da poltrona — sussurra, pondo uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Quando sua mão desce, os dedos correram deliciosamente pelo meu pescoço, parando na base da minha coluna. Não é só meu rosto que está queimando agora.
Abro a boca para dizer algo, mas nós dois somos interrompidos por uma batida na porta.
— Pequena? Está aí?
Olho desesperada para Rohan, silenciosamente perguntando se ele trancou a porta. Ele, com o mesmo olhar que eu, balança a cabeça negativamente. Meu coração bate tão rápido que sei que meu pai vai ouvi-lo. Rohan leva o dedo aos lábios, pedindo silêncio. Nós dois sequer respiramos.
— Pequena?
A maçaneta da porta gira e uma fresta se abre, mas então outra voz surge.
— Freyre não para de chorar e disse para eu chamá-lo — é Mor.
Meu pai bate à porta e corre pelo corredor. Suspiro aliviada, mas então fico tensa. Por que minha mãe está chorando?
Rohan pensa o mesmo que eu, porque começa a pensar em jeitos de sairmos daquela poltrona maldita.
— Segure aqui — Ele indica o encosto da poltrona. — Eu vou ajudá-la a se erguer e você vai se puxando por aí, entendeu?
Faço que sim, embora não entendi nada. Rohan enfia as mãos embaixo de mim, segurando minha bunda, e começa a me erguer. Pela Mãe...
— A poltrona vai tombar — aviso, por que é o que vai acontecer se eu me impulsionar pelo encosto. Onde Rohan estava com a cabeça?
— Seu pai gosta dessa poltrona? — suspira ele, vencido.
— Ele nem liga para a existência dela.
— Então está bem.
Rohan dá um soco no braço da cadeira, que se estilhaça como se fosse feita de papel. Minha mente sombria e perversa me faz imaginar como seria levar um tapa daquela mão grande e forte.
— Seria ótimo.
— O que seria ótimo? — gaguejo. Meus dedos do pé se fecham dentro das botas.
— A julgar pela forma como você olhou para minha mão e seu rosto corou, tenho certeza que pensou em algo impuro.
— Talvez eu tenha pensado, sim — digo, mas me arrependo rapidamente. Estou no colo de Rohan, não é o lugar ideal para termos esse tipo de conversa.
Não quero mais continuar encarando Rohan diretamente nos olhos, porque isso só aumenta a tensão, mas não consigo parar de fita-lo. Ele também não quebra o olhar enquanto agarra minha bunda de novo e nos ergue subitamente. Dou um gritinho e me agarro a Rohan.
— Você podia ter avisado!
— Não teria a mesma graça.
Dou um soco no ombro dele, de brincadeira, e de repente estou de volta à alguns anos atrás, quando sempre provocavam um ao outro com cutucadas e petelecos. Não consigo evitar o olhar nostálgico que lanço a Rohan, me lembrando de como ele era baixinho quando criança, até mesmo menor do que eu. Agora, eu ainda estou alta, mas ele está mais.
— Por que está me olhando desse jeito?
Porque me lembrei da amizade que tínhamos e senti saudades dela, de você.
Talvez dizer isso nos aproximaria de novo, ou fizesse Rohan rir até perder o ar. Não sei, e não quero arriscar.
— Vamos ver o que aconteceu com minha mãe.
Saio da biblioteca rapidamente, ignorando o aperto no peito. Rohan não tenta me impedir.
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Noite Sombria e Perversa
FanficAnos após a Guerra, cada membro do Círculo Íntimo já tem a própria família, mas, diferente dos pais, os filhos não se dão tão bem uns com os outros. Calen e Rohan são o maior exemplo disso. A filha de Rhys e Feyre odeia o filho de Nestha e Cassian d...