Sound Music

18 | um pedido inegável

O restante daquela semana tinha passado como um raio para Sakura. Precisou fechar a loja na segunda feira para finalmente mover suas coisas da casa de Naruto de volta para o seu precioso lar e ameaçou tanto o loiro quanto Sasuke quando eles tentaram propor ajudá-la.

Dessa vez, pelo menos, nenhum dos dois contrariou seus desejos e Sakura cuidou de tudo sozinha. Tinha perdido um dia inteiro de trabalho e estudos, mas contratou carregadores razoavelmente competentes e conseguiu fazer o resto do serviço sozinha. Embora não tivesse visto nenhuma das meninas, agora elas tinham um grupo juntas com Hinata no WhatsApp e trocavam mensagens constantemente. Hinata tinha avisado que Neji havia resolvido o problema da piscina, mas não entrou em detalhes sobre como e nenhuma delas perguntou.

Pelo menos saber disso a deixou menos preocupada.

Naruto tinha estado ocupado com questões das aulas de música e o trabalho na gravadora, mas sempre dava um jeito de aparecer no horário de almoço e arrastá-la para o Ichiraku para comer lámem. Contava sobre como estava indo no serviço e sobre seus planos de formar uma banda muito em breve para participar do próximo concurso de música que seria promovido pela gravadora Bee. No final da tarde, ele também aparecia para acompanhá-la até em casa, agora que a caminhada era bem mais longa, e nas vezes em que não conseguia ir era substituído por Sasuke.

Apesar de todo o cansaço por ter ido dormir muito tarde por causa dos estudos, Sakura levantou cedo naquele sábado e ficou um longo tempo encarando a foto que seu pai tinha lhe enviado pelo celular.

Na imagem, Kizashi Haruno estava sorrindo para a câmera, provavelmente tinha pedido alguém para tirar a foto. Usava um dhoti vermelho e dourado que combinava com os exóticos cabelos rosas, e segurava com as duas mãos uma lâmpada de argila com óleo ainda apagada, atrás dele haviam outras pessoas observando o céu enquanto fogos de artificio tinham sido congelados pela imagem. Na legenda, ele escrevia todo o tipo de informação que recebia, sobre as comidas que encontrava, os lugares que ia, e até eventualmente o nome das pessoas a quem ele pedia para tirar as fotos. Ele não explicava os detalhes, Sakura já os conhecia bem por causa do fascínio que sua mãe sempre teve pela cultura indiana.

Em outra imagem enviada, Kizashi mostrava um lago gigantesco iluminado por centenas de lâmpadas quase idênticas a que ele segurava, Sakura podia ouvir a voz da mãe lhe contando sobre aquilo, quando ainda era uma criança. Aquele era o festival mais bonito de todos, para sua mãe, uma celebração para a luz e o bem, as lâmpadas, chamadas de diyas, tinham a função de levar consigo a mensagem mais subliminar do festival Diwali: "Venha, deixe-nos remover a escuridão da face da terra".

Na próxima selfie, escura demais para ser possível ver as luzes no lago com facilidade, era possível ver o colar com uma moeda de jade no peito do pai. Sakura só percebeu que estava chorando quando as lágrimas turvaram sua vista.

Sempre foi o sonho da sua mãe participar do Diwali, mas por causa de sua frágil condição de saúde, Kizashi não pôde realizar seu desejo em vida, mas isso não o impediria de levá-la até lá de algum modo. Aquilo deixava Sakura, sobretudo feliz. Sentia um vazio horrível no peito, uma saudade permanente da mãe, mas também sentia-se feliz pelo pai ser tão empenhado em fazer Mebuki realizar todos os seus sonhos.

Sem perceber, deixou que seus pensamentos vagassem para aqueles últimos dias de vida da mãe antes do seu enterro. Durante toda a sua estadia no hospital, eles ficaram plenamente cientes de que ela não retornaria para casa, ainda sim, seu pai nunca poupou esforços para prolongar a vida da esposa o máximo possível. Sakura largou os estudos para o vestibular, não compareceu na sua formatura do ensino médio e passou todo o tempo que pôde ao lado da mãe com o pai.

"Você é uma garota tão pequena, mas já é tão forte. Tão determinada." - Sua mãe lhe dissera certa vez. Foi a sua última conversa longa com Sakura. Já estava debilitada demais para andar, mas sempre sorria e conversava como se tudo estivesse ótimo. Lembrava da mãe ter passado a mão pelo seu rosto e de como achou a textura da sua pele áspera naquela ocasião. "Sabe o quanto sou orgulhosa por ser a sua mãe?".