Capítulo 14

170 12 1
                                    

Ele corre seu olhar por meu corpo molhado, sua boca abre minimamente parecendo surpreso e um tanto desejoso o que me faz ficar vermelho de vergonha. Ele fica mais surpreso ainda quando seu olhar se detém sobre a minha prótese, é assim que eu me retraio mais ainda e pergunto.

— Vai entrar ou ficar parado aí?

— Lincença — Ele diz colocando as mãos no bolso e olhando em volta, conferindo minha bagunça.

— Você por aqui a essa hora?

— Ah, sim. Me desculpe é que meu pai ficou sabendo do acidente que aconteceu depois que ele saiu e eu soube que o seu marido foi atropelado... Eu sinto muito por isso.

— Obrigado pela preocupação, você é um dos poucos homens que não nos olharem de un jeito estranho quando falamos que éramos casados— aceno com a cabeça e indico para que ele se sente na cama, ele receoso senta-se onde indiquei.

— A cidade ainda tem a mente muito fechada, lugares pequenos você deve saber como é... As pessoas vivem em suas bolhas e tudo o mais.

— Sim, entendo muito bem isso.

Ele volta a olhar meu corpo novamente e dessa vez fica com vergonha por ser flagrado e sorri desviando atenção para outro lugar.

—É... Me desculpe por isso, é que eu acabei de sair do banho. Espere um momento por favor.

— Fique a vontade.

Caminho devagar até a minha cômoda e retiro uma bermuda e uma regata azul, pego uma cueca boxer rosa na minha mala e então vejo as roupas de Chico ali e isso me causou uma tristeza momentânea até eu perceber que estava praticamente pelado na frente de um policial. Corri (não necessariamente ao pé da letra) até o banheiro e me tranquei lá, comecei a me vestir com um pouco de dificuldade por causa do desconforto e da prótese mas tudo deu certo, sai do banheiro e desliguei a luz, me sentei em uma cadeira em frente à Martin sentado na cama.

— Bom saber que tem gente querendo fazer amizade nova por aqui e parece que vamos ficar por um bom tempo.

— Sim, na maioria das vezes o pessoal é bem hospitaleiro.

— Dona Lúcia é a prova viva disso.

— Então, como ele está? — ele pergunta mudando completamente de assunto

— Ah... O Dr. Bento cuidou do caso e fez a cirurgia.

— Grande médico, ele tá em boas mãos, o melhor cirurgião da cidade sabia? Ele é filho da dona Lúcia inclusive.

— Sério? Eu não sabia disso. Enfim, o Dr. Bento falou que o Chico entrou em coma induzido por causa da hemorragia que o doutor não conseguiu controlar por completo.

— Eu sinto muitíssimo mesmo.

— Não temos previsão para quando ele for acordar.

— Lúcio eu vim aqui também pra te contar que a polícia investigou o caso, sobre o motorista sabe?

Tinha esquecido completamente disso, o motorista que quase me matou e deixou meu marido em coma também entrou em uma sala de cirurgia e eu não soube de mais nenhuma notícia dele desde então

— Você sabe o que aconteceu?

— Sim, um amigo meu que estava no caso e me contou que o cara é banqueiro e estava com problemas na família, ele mesmo disse que os filhos estavam enchendo o saco dele e a esposa estava insuportável, ele virou três dias bebendo em uma cidade vizinha pra ninguém encontrar ele e encontraram vestígios de droga no sangue dele.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora