Capítulo 02

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As semanas se passaram devagar após o jantar de noivado, e nesse inteirim eu foquei a minha mente apenas no trabalho da oficina do meu irmão Bento.

Ele sem dúvidas nenhuma é o meu irmão favorito, gosto do Chico mas ele é mais distante e fanfarrão e não se importa muito com trabalho, apenas faz levantamento de peso e musculação para conquistar as moçoilas da cidade.

Muito diferente de Bento que é mais centrado em sua família. Ele mora em uma fazenda vizinha da nossa com sua esposa, está louco para ser pai e dá muito trabalho para a Julieta na cama e ele faz questão de me contar tudo nos mínimos detalhes nas horas vagas de um serviço para outro. Bento é alto, um tanto musculoso e muito peludo, sei disso pois já o vi pelado no banheiro da oficina algumas vezes mas eu não me importava com isso. Ele é o homem mais gente boa que já conheci e sempre foi justo e sensato.

— Só estou querendo saber se você realmente está feliz em se casar com a Gisele — Ele disse consertando o motor de um automóvel preto.

— Mas porque você se importa tanto? Sou eu quem está casando mesmo — disse cruzando meus braços.

Ele levantou a cabeça e olhou para mim erguendo a sobrancelha impaciente e limpando as mãos sujas de graxa em um pano encardido.

— Luciano não seja assim meu irmão, só quero ver sua felicidade e um sorriso nesse rosto de vez em quando. É querer muito? — ele falou se aproximando e apertando minha bochecha, depois foi a mesa de ferramentas e começou a vasculhar em busca de algo.

— Você acha que não estou feliz?

— Acho, acho sim, mas na maioria das vezes em que está ao lado de Gisele você nem presta atenção nela e está sempre de cara fechada.

— Normal. Sou homem, homens não tem que ficar com sorrisos idiotas o tempo todo no rosto! — digo meio ríspido na defensiva.

— Nosso pai não está aqui Luciano, somos só nós dois não precisa ficar apreensivo assim, é só uma pergunta boba. Vai que a Gisele não seja a mulher certa para você e que te faça infeliz no futuro.

— Por que está falando assim? É claro que a Gisele é boa o suficiente para mim e acho que já chega dessa conversa.

— De certo que sim — Bento vasculhou mais um pouco as ferramentas e enfim levantou um envelope no ar dando dois petelecos no papel amarelado — Achei, ja estava preocupado.

Ele estendeu o envelope e me entregou.

— De quem é essa carta?

— O papai deixou aqui ao raiar do sol e pediu para lhe entrega e é claro que ele me proibiu de ler. Eu já estava achando que tinha perdido.

— Mas o que será que contém aqui? O papai não me disse nada.

— Abra e descubra, sabichão.

Revirei a carta e vi o selo do exército brasileiro, abri o envelope e li o conteúdo da carta. Meu irmão prontamente se espreguiçou e se apoiou no meu ombro para ler comigo.

"Filho, saí cedo de casa e como você parecia cansado do trabalho no dia anterior resolvi deixar essa carta com seu irmão (que fique claro que esse é um assunto para homens e por esse motivo sua mãe não pode saber de nada).

Chega de rodeios, quero que venha para o quartel depois de seu horário de trabalho, não venha com seu irmão (sei que está lendo isso Bento, seu enxerido! Não ouse me desobedecer). Venha só pois tenho uma coisa séria para falar com você e os meninos aqui do quartel fizeram uma pequena surpresa para você.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora