Capítulo 08

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Rio de Janeiro, 1898

Oito anos após meu casamento, mais ou menos, tudo tinha mudado em minha vida.

A minha mãe morreu 2 anos atrás de falência múltipla dos órgãos, um câncer se instalou em seus ovários, ela lutou até seu último dia de vida. Toda a família ficou devastada, Chico e Bento conseguiram segurar as pontas desde então mas meu pai bebeu tanto que virou um amante de bebidas funcional, ele foi embora de casa para viver com Denise em uma pobre casa no cortiço da cidade, todos ficaram pasmos quando ele juntou suas trouxas e simplesmente foi embora.

Assim sendo a casa na fazenda ficou para mim e Gisele, colocamos a nossa para alugar e resolvemos vir para cá cuidar dos animais e da casa para que ela não se deteriorasse, Gisele faz as coisas de casa durante o dia e eu trabalho na metalúrgica mas não como operário, eu evolui lá dentro com o decorrer do tempo e como eu era amigo do dono logo consegui um cargo maior e me tornei supervisor de trabalho dos funcionários.

Mesmo trabalhando na oficina e sendo o novo dono de lá, Chico era nosso agregado mas estava tudo bem, dormia em seu quarto e sempre levava uma ou outra garota para namorar lá, isso deixava Gisele louca, mas ele ajudava nas despesas e nos fazia rir de vez em quando, era Chico quem organizava confraternizações de aniversário e festejos para celebrar o trabalho ou a vida. Ele recebeu a oficina de Bento após esse abrir mais duas oficinas para administrar. Em relação a vida amorosa eu e o Bento chamávamos Chico de "O Sortudo" secretamente pois ele não precisou passar pelo que nós passamos sobre casamento arranjado já que o nosso pai praticamente desistiu dessa família.

Falando em Bento ele voltou a estudar e se especializou em finanças depois de formado conseguiu abrir a sua filial e para sua felicidade completa tem três lindos filhos, um de 8 anos, outro de 5 e uma menina de colo. Julieta está ficando com a aparência cansada e pálida mas ela sempre afirma que tem tudo na vida e nada mais importava, dizia se sentir feliz mas não aparentava. Não nos preocupamos muito com isso pois sabemos que Bento é a melhor pessoa para está ao seu lado e ele mesmo me confidenciou que não faria com Julieta o que papai fez com nossa mãe.

Enquanto à Martin, eu não o vi desde então, nenhum telegrama, nenhuma carta, nenhuma notícia...

Passei novamente o pano molhado de óleo de peroba na besta, verifiquei se tudo estava como deveria está e ela continuava do mesmo jeito que eu a comprei meses depois do meu casamento, usava a arma para caçar de vez em quando e Gisele abominava ela, toda vez que dizia que sairia para caçar ela revirava os olhos com reprovação e eu não me importava com isso.

— O almoço está na mesa — diz ela abrindo a porta do nosso quarto (que um dia fora de minha mãe e meu pai) —, não é possível! Você não vai mudar mesmo não é? Já falei que odeio essa coisa dentro de casa.

— E como acha que vamos nos proteger se algum bandoleiro invadir nossa propriedade? Isso aqui é essencial para nossa proteção Gisele, você devia ser a primeira à concordar.

Me levanto da cama e caminho até a parede colocando a besta na prateleira embutida na parede, chego perto de minha esposa e seguro sua cintura, beijo ela com virilidade e nisso ela se amolece toda em meus braços.

— Só porque você tem razão não vai me fazer odiar mesmo essa coisa — ela fez um biquinho e me beijou de novo.

— Pare de falar bobagens e vamos comer.

Ela logo ficou animada e me acompanhou até a cozinha para mostrar a comida especial que ela fez para mim.

— Como hoje é seu dia de folga daquela metalúrgica infernal — ela revirou os olhos de novo pois odiava que eu passasse mais tempo no trabalho do que em casa (nota: depois que nos casamos Gisele revirava os olhos em reprovação pelo menos vinte vezes por dia) —, eu resolvi fazer tudo o que meu homem gosta, até a torta de pêssego que sua mãe fazia e ela me revelou ser sua preferida.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora