Capítulo 01

381 24 1
                                    

Rio de Janeiro, 1891

As ruas naquele dia estavam animadas como sempre nessa época do ano. Carnaval, a festa da carne, como meus pais chamam. Eu particularmente também não gosto de participar dessas comemorações, gosto de admirar as pessoas dançando e tudo o mais, porém sempre me perguntei "afinal de contas por que as pessoas estão tão felizes?".

Sou um rapaz bonito para minha idade nessa época, tenho cabelos negros e ondulados, sou baixo e tenho olhos pretos, minha boca é um pouco carnuda e sempre uso terno cor de cinza-amarelado. Particularmente me acho um homem normal.

Minhas mãos estão trêmulas quando bato três vezes na porta dupla da casa da familia Santander. Estou na escadaria da frente quando um grupo fantasiado com plumas e paetês passam dançando e gritando no meio da rua, que estão sujas com serpentinas, papéis e lixo, o grupo está cada um com uma garrafa de destilado na mão, todos completamente bêbados. Levanto uma sobrancelha achando o comportamento dos homens inadequados ao lado de várias damas.

Um toque no meu ombro me tira da visão na minha frente e olho para Dona Maria — com estatura mediana, cabelos encaracolados e muito bem preso em um penteado mirabolante, vestia um vestido cor de vinho e tinha um leque na mão — sorrindo amigavelmente para mim, ela escancara a porta e estende a mão indicando que eu entrasse.

— Olha só quem finalmente apareceu! Só faltava você Luciano, o mais importante dos convidados. Onde esteve?

— Me vi perdido em meio a essa confusão do carnaval nas ruas Dona Maria mas já estou aqui.

— Hum... esse mundo está mesmo perdido! Olhe só para esse jovens rapazes e moças! Que falta de vergonha na cara.

— Pois é...

— Já estava achando que você tinha se arrependido e fugido com outro rabo de saia.

— Nem pensei nisso, eu só tenho olhos para Gisele — sorri nervoso.

— Acho bom! Entre toda a sua família está aqui.

É claro que estão, falei para que eles viessem primeiro para me preparar para o grande dia. Só que tudo foi uma mentira deslavada pois assim que me certifiquei de que todos não estavam mais em casa eu me dispus a chorar feito um menino de 8 anos. Meu pai sempre disse que chorar era coisa de menininhas ou de fanchonos e se por acaso um de seus filhos chorasse ele ia nos bater até ver a nossa carne viva, mas felizmente isso nunca aconteceu. Toda vez que eu e meus dois irmãos tínhamos vontade de chorar corríamos para o bosque atrás de nossa fazenda e começávamos a lutar entre nós para o sentimento se dissipar o que funcionava com eles, depois que a luta acabava e eles saiam eu ficava sozinho para chorar e só depois voltava para casa disfarçando minha cara.

Minha família é composta por mim, meu irmão mais velho Bento, o caçula Francisco mas todos o chamavam de Chico, minha mãe Lucia e meu pai militar, o excelentíssimo Major Henrique Trancoso. Lá em casa não se falava em outra coisa nesses últimos dias a não ser a festa de hoje, eu sendo o alvo de mandos e desmandos dos meus pais e piadinhas dos meus irmãos. Bento era o único casado até o momento, se casou com a bela donzela que domou seu coração e aquietou seu facho de fanfarão, Julieta era um doce de pessoa e sempre foi a mais sensata na família.

Sorri disfarçadamente para Dona Maria e a abracei.

— Onde estão meus modos? A senhora está bem? E como a Gisele está? — Perguntei subindo as escadas e ficando no corredor junto a ela.

— Gisele está ansiossissima para o pedido, hoje será a grande noite dela e espero que você tenha planejado tudo em seus mínimos detalhes. Tudo tem que está de acordo.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora