Capítulo 10

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A cama continuava bagunçada na minha frente, a porta escancarada e um pouco quebrada, a cadeira jazia torta e sem duas pernas perto da janela, os lençóis estavam arrastando no chão, os travesseiros amassados, a cama cheirava à sexo, suor e algo mais.

Eu estava desolado no chão segurando meus joelhos perto do meu rosto, minha cabeça virava alternando da porta para a janela imaginando o que eles faziam ali quando eu não estava em casa. A viagem que Chico ia fazer hoje foi uma grande mentira, por isso ele saiu cedo do bar, para ficat com Gisele antes da minha chegada em casa. Ele só queria ficar aqui com ela e percebeu que eu não chegaria nem de madrugada, nem durante a manhã e então eles aproveitaram.

Tentei dizer a mim mesmo que estava sendo um hipócrita pois estava nos braços de Martin o dia todo mas logo essa culpa passou ao lembrar que Gisele e Chico vinham tendo um caso muito antes da gente casar.

Busquei forças para levantar e senti meus músculos e dedos doerem devido as pancadas que dei na parede que era meu irmão, me apoiei na penteadeira para me equilibrar e me vi no espelho, meu rosto e boca estavam sangrando e com certeza ficaria roxo amanhã.

Já era tarde, então decidi descansar e pensar um pouco, fui até a sala cambaleando e encontrei a porta aberta, as cortinas voando quando o vento batia nelas, me encaminhei até ali para fechá-las e vi que só meu automóvel estava em frente a casa, os desgraçados fugiram no outro que pertencia a Chico. Fechei as portas e depois as janelas, caminhei até o corredor e parei olhando de um lado pro outro, para frente e para trás e percebi, diante aquele silêncio infernal, que estava sozinho.

Sem mãe, sem pai e agora sem irmão e esposa, mas ainda eu podia contar com meu irmão mais velho, talvez Bento saiba o que me dizer. Decidi que vou vê-lo amanhã. Entro no meu antigo quarto e me jogo na cama sem tomar banho e voltei a chorar novamente em um choro convulsivo, queria que Martin estivesse ali mas lembrei que ele estava com sua esposa, Amelia, no hotel bem longe daqui. Então eu só aceitei o sono me levar para os mais profundos sonhos.

No sonho eu corria ao redor da fonte na praça da cidade, a bruma branca servia se pano de fundo, eu estava fugindo de Martin que me seguia sorrindo e dizendo "volte aqui seu danadinho" e eu dizia "você não vai me pegar Cabo Frazâo" ele sorriu então ficou com a cara séria e começou a correr de verdade pelo parque me perseguindo, eu odiava quando ele fazia isso por eu sempre saia em desvantagem por causa do treinamento dele como soldado e tudo mais. Caiamos na grama e ele me beijava, o cenário foi criando cores e alegrias, nos levantamos olhando ao redor observando toda a névoa se dissipando e pessoas começavam a aparecer e quando nos viram de mãos dadas começaram a apontar e fazer cara feia como se estivessem vendo uma aberração, um animal de sete cabeça que soltava fogos pelas orelhas e água pelas narinas. Eles começaram a ficar raivosos e Martin me abraçou, ele parecia nervoso e as pessoas xingavam ao nosso redor, colamos nossos lábios num beijo ávido e então eles começaram a tacar coisas na gente, eu acordei sentindo uma pedra tingir minha cabeça.

— Ai! — gemi, colocando a mão na cabeça, ouvi o galo cacarejar alto lá fora. Minha cabeça latejava devido a pancada que recebi, me sentei na beirada da cama e demorei um pouco para me situar onde estava.

Meu antigo quarto continuava do mesmo jeito que o deixei para ir dormir com Gisele meses após a ida do meu pai.

— Caramba — reclamei sentindo meu rosto inchado.

Finalmente levantei e fui em direção ao banheiro no corredor, me olhei no espelho e vi que a coisa estava feia, tinha sangue seco ao lado da minha boca e abaixo dos meus olhos que estavam roxos, meu rosto realmente estava um tanto inchado. Tirei minhas roupas de dois dias atrás e tomei meu primeiro banho, me sentei no chão e fui jogando água no meu corpo com uma cumbuca, deixei a água quente surrar meu corpo levando toda a sujeira e tensidade acumulada, me lavei melhor com sabão para tirar o mal-cheiro e depois me levantei.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora