Capítulo 11

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Rio de Janeiro, 2018

— Não tá sentindo esse cheiro de queimado? — Abaixo um pouco a tela do notebook e chuto Chico com a perna. Ele se espreguiça e me olha sonolento.

— Que chei... Puta que pariu a nossa comida! — ele se levanta abruptamente da cama, só de cueca branca com a mala marcando, reviro os olhos porquê cada frase que ele diz ele sempre adiciona esse palavrão e grito só para provocá-lo:

— Eu não acredito que você queimou nosso jantar, Chico!

— Não foi culpa minha, eu deixei esquentando e pedi pra você me chamar quando estivesse pronto — ele gritou lá da cozinha e logo em seguida eu ouvi o som de algo caíndo sobre a pia.

— Ei, seu cretino, não coloque a culpa em mim. Você que é um dorminhoco.

Levantei a tela do notebook e continuei lendo sobre a pesquisa que estava focado, depois de uns minutos Chico aparece na porta do quarto com uma travessa de macarrão queimado.

— Gosta de pretarrão? — Sorri da cara de decepcionado dele

— Prefiro mastigar vidro.

— E agora, amor? Pesquisa aí um restaurante bom aqui perto — ele falou voltando frustado para a cozinha do nosso quarto de hotel.

— Uhu, vamos ter um jantar romântico.

— É melhor você ir se aprontando.

— Pode deixar.

Fechei o notebook e me sentei na cama, tirei a coberta de cima do meu colo e mirei minha prótese encostada na parede, levantei me equilibrando em uma perna só e dei dois pulinhos até a ali. peguei minha prótese de titânio e voltei pra cama, encaixei ela no meu cotoco onde devia ficar meu joelho e levantei, fui até a cômoda do quarto e peguei minha calça de sair e uma camisa social. Senti Chico atrás de mim, ele apertou minha bunda e cheirou meu pescoço.

— Fica lindo, que hoje a noite vai ser especial.

— É só um jantar de última hora amor, a não ser que você esteja animadinho pra outra coisa.

— Ah, você estragou minha surpresa — ele disse fingindo frustração e eu sai de frente da cômoda, ele pegou suas roupas e vestiu em pé e eu tive que me sentar para passar a calça pela prótese.

— Como se a gente não fizesse isso desde que chegamos nessa cidade. E eu só quero uma noite tranquila Chico, tive algumas tonturas depois de passar horas no sol lá naquelas ruinas, e lembrando que amanhã vamos levar os anéis para o museu da cidade.

— Ah, tinha esquecido disso.

Olhei para a caixa em cima da mesa da TV, estava do mesmo jeito que pegamos lá no chão de onde muito anos atrás devia ser um palácio de imperadores. os objetos prateados continuavam lá dentro.

— Pronto? — ele disse borrifando perfume em seu pescoço e jogando o frasco na mala.

— É o Sensações?

— O seu favorito — ele sorri e seguiu em direção a porta.

Ele era bom nisso, perfumes. Sua mais louca paixão, fazia essências de tudo que encontrava na rua quando era criança, depois foi estudar sobre jardins e flores e se especializou na faculdade de química, hoje ele é dono de várias cadeias de perfumarias pelo Brasil. Seu mais novo sucesso é o Sensações, um original onde ele pediu para várias pessoas ditarem que fragrância fazia elas felizes e com o resultado ele jogou todas as essências em uma mistura "esse é meu maior orgulho, o elixir da felicidade, todas as sensações de várias pessoas em um só frasco" ele disse na época. Hoje em dia faz tanto sucesso que ele exporta toneladas de caixas mundo afora.

Os Ventos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora