O27. uhum, trust it.

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     Agora fazíamos o caminho de casa à pé, aproveitando o clima estável da noite e a lua que se amostrava sorrateiramente no céu, já que algumas poucas nuvens cobriam sua luz pálida. Mi dizia que sempre quis andar por aí de mãos dadas.

— Lix.

— O quê, xuxu?

— Sabe qual o problema dos humanos? — ela perguntou com simplicidade, encarando nossos pés caminhando.

— Hmm, qual é? — fitei-a com dúvida.

— Não sabemos aproveitar as coisas por muito tempo — ela respondeu, e eu permaneci fitando-a, buscando sua continuação — Vamos supor que ganhamos algo que sempre quisemos.

— Certo.

— No primeiro e segundo dia, ficamos alegres com isso. Acordamos esses dois dias eufóricos e ansiosos. Já no terceiro dia, achamos que devemos nos acostumar com aquilo, que a euforia e ansiedade deve passar e temos apenas de nos acostumar com o sonho realizado.

     Enquanto a garota contava mais uma de suas reflexões repentinas e guias da psicologia, eu escutava-a atentamente e pensativo.

— Não tínhamos que ter a força do hábito — ela comentou com decepção — Por que não ficar eufórico e valorizar todos os dias que ganhou o que quis por tanto tempo? Por que não ser grato e valorizar todos os dias por nossa saúde, coração batendo, nosso sorriso ou nossas lágrimas, nossa respiração e piscar de olhos?

— Hmm, realmente — eu sacudi a cabeça levemente em confirmação — Não somos gratos pelo que temos.

— Sim, temos o hábito de nos acostumar e isso é um erro — ela proferiu exclamativa — Ás vezes, dizemos que estamos tristes porque nos acostumamos com a felicidade! Pois pouco a pouco, algo que era bombástico acaba se tornando apenas algo...

— Woah, realmente, Mi. Se soubéssemos valorizar melhor as coisas, creio que não haveriam momentos tristes — eu disse pensativo — Mas aonde quer chegar, xuxu?

— Bom, quero dizer — a morena parou de andar, assim que chegamos em frente ao condomínio — Como podemos chegar aqui e entrar como se nada tivesse acontecido?

— Oh, nos acostumamos.

— Você lembra o tanto de emoções e sentimentos que se passaram aqui? — a Yang perguntou com simplicidade, encarando o local de ponta-a-ponta — Vamos começar lá do início, quando veio comer o kimchi que eu deveria ter comido com meu pai. Angústia, medo e solidão era o que sentíamos naquele dia.

— Ou como no dia em que fomos pro alto da montanha, apreciar a vista de cima e logo depois passamos aqui para buscar sua mochila — eu citei com um sorriso pequeno — Eu já estava apaixonado.

     O dito fez com que Mi sorrisse e entrelaçasse sua mão à minha com afeição.

— Namoramos aqui, mas também nos despedimos aqui. E agora, cá estamos de novo — a menor sorriu entreaberto — Sabe onde quero chegar, Lix?

     Com sua pergunta, apenas tombei minha cabeça para o lado esquerdo enquanto fitava a mais nova, esperando continuidade.

— Não vamos nos acostumar, pode ser? Quero acordar eufórica e valorizar todos os dias por te conhecer, por ter seu sorriso e por ter você ao meu lado — a garota fez uma breve carícia em minha mão que estava interligada à sua — Não vamos nos acostumar com a felicidade, certo?

— Pode deixar, xuxu — eu sorri em confirmação — Hmm, e se criássemos outro sentimento para ser valorizado aqui?

— Hm?

𝓢𝗎𝗇𝗌𝗁𝗂𝗇𝖾, 𝗹𝗲𝗲 𝗳𝗲𝗹𝗶𝘅.Onde histórias criam vida. Descubra agora